in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2014
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A partilha pode ser encarada como uma doação pelo e para o outro, quer materialmente e emocionalmente, pode significar a divisão de algo, pode também significar a permissão para ocupar um lugar nosso e de igual modo pode significar a exposição das nossas ideias, sentimentos, conhecimentos perante os outros.
Na área da saúde, a partilha pode ser aplicada, vivenciada de diversas formas, podendo por vezes ser utilizada de forma positiva e em outros casos de forma menos positiva, quando a evitamos, motivados por um egocentrismo que não é de todo saudável.
No campo profissional da saúde o ato de partilhar é o mais utilizado, através da exposição de conhecimentos, de técnicas, de ferramentas entre os profissionais de saúde, que através da partilha científica estão a cooperar para o desenvolvimento científico, a promoção da saúde e prevenção da doença. Sem existir esta partilha de conhecimentos, não haveria qualquer desenvolvimento e aperfeiçoamento médico, científico e consequentemente humano. É uma partilha cujo objetivo comum e fundamental é a promoção do bem-estar e da saúde do ser humano que experimenta os resultados deste processo de partilha.
No entanto, olhando atentamente para este contexto, muitas vezes reparamos que existe uma contenção do conhecimento visando o reconhecimento pessoal e evitando que a partilha exista, fomentando o aumento do conhecimento. Há a construção de barreiras pessoais e profissionais, de modo a cada profissional ter para si mesmo “todo” o conhecimento, apesar de quererem receber a partilha dos outros profissionais, sem ser um processo bidirecional.
Na área da saúde um dos grandes conceitos inerentes à partilha é o Cuidar em todas as suas vertentes, nos vários contextos onde o cuidado existe, sendo de forma direta ou indireta, consciente ou inconsciente. O Cuidar por si só, tem inerente no seu conceito o processo da partilha.
Quando cuidamos de alguém estamos a partilhar além do conhecimento inerente, as nossas emoções, os nossos sentimentos, o nosso tempo e estamos enraizados num processo de doação de nós aos outros, que por sua vez também se doam e permitem ser cuidados, num gesto de partilha genuína.
Não existem cuidados sem partilha! O cuidar, está intimamente ligado com os significados da palavra partilha, pois estamos a permitir que a pessoa que cuidamos entre no nosso mundo tal como nós, que cuidamos, estamos a entrar no mundo dessa pessoa, do qual passamos a fazer parte, mesmo que por breves instantes. É de enaltecer a ideia, que mesmo após o fim dos cuidados, a partilha que foi vivida nesses momentos ficará perpetuada na vida de todos os intervenientes desse cuidar.
Uma das formas majestosas de partilha na área da saúde é o voluntariado, onde há um compromisso de partilha connosco próprios e com aquele a quem doamos o nosso tempo, com quem construímos um novo mundo e com quem dividimos o que de melhor existe em nós, o nosso amor e carinho. É uma partilha genuína sem necessidade de reconhecimento, de renumeração, pois o maior “pagamento” é o conjunto de emoções e sentimentos que são partilhados em cada momento juntos.
A partilha é uma das ferramentas humanas para a promoção da saúde e prevenção da doença, com grande destaque, por exemplo, na área da saúde mental. Ao convivermos com a outra pessoa, genuína e conscientemente, estamos a contribuir para a vivência de experiências positivas, sentimentos positivos e toda uma palete de emoções positivas, que promovem a felicidade, o otimismo e a esperança.
Partilhar é promover um espaço comum entre duas ou mais pessoas, que se sentem pertencentes a algo, vivenciando um vasto leque de emoções saudáveis. Claro está que na situação oposta, quando evitamos o contacto, quando evitamos partilhar as nossas emoções, os nossos sentimentos, estamos a condicionar todo um processo de cuidar e o aparecimento de emoções menos positivas e consequentemente de processos de doença.
Toda a partilha deve ser executada com bom senso, de modo a que também nos possamos proteger e defender de uma sobrecarga emocional que de todo contribuirá para a nossa saúde e poderá condicionar alguns processos de doença. Partilhar não é de todo transferir os processos do outro para a nossa vida e vice-versa, partilhar é viver aquele momento, naquele instante, sem que exista qualquer conotação de obrigatoriedade ou condicionamento.
Partilhando quem somos, o que sabemos, sentimos, como vivemos e permitindo que o outro se entregue de forma semelhante construindo um lugar-comum onde são promovidas emoções, sentimentos e experiências saudáveis e onde, mesmo em processos de doença, são atenuados alguns sintomas com especial primazia para a dor. Qualquer um de nós pode ser um agente promotor de saúde através de um simples processo: a Partilha!
RICARDO FONSECA ESCRITOR ENFERMEIRO ricardosousafonseca.pt.to in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2014 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |