Por Nelson S. Lima
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2012
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
O círculo representa o tempo cíclico (o dia/noite, por exemplo, repete-se amanhã "como se" voltássemos para trás mas o dia/noite de amanhã já está no futuro "empurrado" pelo fluxo do tempo - a seta horizontal). Da mesma forma vamos "regressar" ao Inverno, à Primavera, etc. Trata-se de uma representação gráfica aceite pela cronobiologia atual.
Ou seja, na prática, significa que, embora tenhamos a noção de que seguimos para um tempo que designamos como futuro, há também uma repetição de horas, dias da semana, meses do ano e estações. Assim, sabemos que o dia tem 24 horas findas as quais se segue mais um dia de 24 horas e por aí adiante. Da mesma forma sabemos que ao Inverno segue-se a Primavera, o Verão, o Outono e regressamos ao Inverno - ainda que também saibamos que já não o mesmo Inverno, mas o Inverno do ano seguinte.
Com a cronobiologia, a ciência passou a estudar a organização temporal dos seres vivos. Eles estão sujeitos às variações cíclicas dos eventos que ocorrem na seta do tempo. Assim como à noite o nosso corpo responde com a necessidade de dormirmos, com o alvorecer do dia ele prepara-se para nos fazer acordar e entrar em atividade. Já nos animais de vida noturna, a situação é inversa.
Esta variação que não depende tanto do tempo mas mais das variações ambientais e biológicas que afetam o ser humano conforme as horas dos dias ou as estações do ano, é hoje objeto de atenção crescente por diversas ciências, em especial as ligadas à saúde.
Com efeito, porque somos um composto complexo de trocas químicas que decorrem do nosso metabolismo, estamos sujeitos a variações reativas e à suscetibilidade face a esse mundo oculto dos acontecimentos biológicos. Sabemos, por exemplo, que a pressão arterial sobe de manhã e desce à noite - não porque ela tenha horas marcadas para aparecer, mas porque o nosso organismo assim se fez ao longo de milhões de anos de adaptação ao mundo.
A importância que devemos dar a estas variações justifica-se plenamente sob pena de sacrificarmos o organismo contra a sua natureza, desencadeando distúrbios de diversa ordem. Por exemplo, os hipertensos estão mais sujeitos a problemas entre as 6 e as 10 horas da manhã do que ao fim do dia devido ao facto da pressão arterial subir naturalmente nas primeiras horas da atividade diurna.
Um outro aspeto a ter em conta é aquilo que ingerimos. Toda a gente conhece o caso das pessoas que têm dificuldade em adormecer se tomarem cafeína ao fim da tarde, contrariando a necessidade do sono. Outro exemplo é o efeito do álcool no início da madrugada que afeta os sentidos e o tempo de reação do cérebro.
Os medicamentos têm também efeito idêntico. Ou seja, as horas a que são tomados também surtem efeitos mais ou menos acentuados. A chamada "cronofarmacologia" designa as variações rítmicas dos efeitos dos medicamentos ao longo do dia (de um lado temos as horas da sua máxima eficácia e do outro aquelas em que a sua toxidade pode aumentar bastante). Por exemplo, o efeito da aspirina varia conforme a hora em que é tomada. A sua eliminação pelos rins é mais curta quando é ingerida às 19 horas e mais longa quando é tomada às 7 da manhã (a diferença é muito grande: cerca de 25%).
MUDAR DE VIDA, BARALHAR O RITMO
Com o desenvolvimento da sociedade industrial e a ampliação do tempo de atividade, os seres humanos passaram a andar, em geral, descoordenados do seu relógio biológico. E então temos atualmente uma sociedade ensonada e cansada na maior parte dos dias. Viajamos de noite, divertimo-nos de noite, dormimos de dia, trocamos as horas de comer e sofremos de "jet-lag" (que significa uma descompensação horária originando uma extrema fadiga decorrente de alterações no ritmo circadiano). Com isto estamos, muitas vezes, a submeter o nosso organismo a um stress tal que pode fazer perigar a nossa vida.
Cada sistema do nosso organismo tem o seu ritmo biológico. Num organismo saudável esses ritmos estão coordenados, o que permite que ele responda com eficácia a todas as variações ambientais. Uma boa noite de sono é reparadora e permite um dia, em que o desempenho é mais elevado do que num dia em que dormimos pouco. Mesmo dormindo de dia a recuperação nunca é total, porque o sono diurno é diferente do sono noturno.
Os efeitos cognitivos do ritmo biológico são também notáveis. Por exemplo, a eficácia da concentração e da memória não dependem apenas da motivação e do empenho mas também das horas do dia. É depois das 10 da manhã que a aprendizagem é mais fácil. À tarde funciona melhor a memória de longo prazo. Em alguns sujeitos é por volta das 20 horas que o estudar é mais produtivo.
De facto, a concentração aumenta lentamente ao longo do dia e diminui depois das 21 horas atingindo o seu ponto mais baixo entre as 3 e as 5 horas da manhã - precisamente o período em que, comparativamente ao que se passa de dia, há maior probabilidade de acidentes rodoviários.
Também sabemos que a concentração no sangue de várias hormonas como o cortisol, a testosterona, a adrenalina e a noradrenalina é menor precisamente nos picos de fadiga.
Por sua vez, a ingestão de tranquilizantes ou de estimulantes conforme a hora do dia vai também alterar o ritmo biológico do cérebro e os efeitos dos químicos ingeridos. Há situações em que ficamos próximos da toxidade máxima correndo perigo de vida sem darmos conta. Será necessária uma educação médica sobre a matéria para que se consiga obter a melhor conjugação entre a ingestão de alimentos e medicamentos e as horas de recetividade ideal do organismo.
O FACTOR AUTOCONHECIMENTO
Concluindo, o nosso metabolismo apresenta uma dinâmica de acordo com o relógio da vida. Não há ainda aparelhos que permitam dizer-nos com exatidão quais as horas do dia, do mês e do ano em que estamos mais aptos a lidar com os diferentes componentes da vida. Embora saibamos que o Inverno "mata" mais do que o Verão ou que o álcool de manhã é mais tóxico para o organismo do que de madrugada (embora de noite tenha um efeito mais perigoso no cérebro reduzindo a capacidade de reflexos) o resto é ainda uma grande incógnita tanto mais que cada pessoa tem caraterísticas individuais únicas.
A minha sugestão é que adotemos tanto quanto possível um estilo de vida que nos aproxime dos ritmos e dos ambientes naturais. Somos seres vivos e não máquinas. Estamos sujeitos às leis da vida e não às da morte mas frequentemente estamos mais perto da condenação à finitude do que da energia que nos fornece vitalidade.
Neste capítulo, o autoconhecimento é também de uma importância vital!
Presidente Executivo (CEO) do EUROPEAN INTELLIGENCE INSTITUTE
Marca registada internacional que aglutina o Grupo Instituto da Inteligência em Portugal, Brasil, Colômbia e também em outros países através de delegações (Inglaterra, Angola, Venezuela, Equador, Peru, Chile e Argentina).
Diretor Geral e Coordenador Nacional do Grupo
INSTITUTO DA INTELIGÊNCIA PORTUGAL
Diretor na Europa do CINEAC Centro de Inovação Educacional Augusto Cury (Brasil)
Professor de Neurociência, Coordenador e Orientador na Universidade do Futuro (Brasil)
Diretor da Divisão de Investigação da EURADEC (Associação Europeia para o desenvolvimento da Educação e da Cidadania, ALEMANHA) e da WEA - World Education Association for Sustainable Development and Global Citizenship, SUIÇA)
Representante da ZIGMA CONSULTING (América Latina), em Portugal.
REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2012