Por Ricardo Fonseca
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2013
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O título deste artigo pode parecer a alguns de vós um ato de loucura ao confessar que existe um psicopata em mim, mas ao longo deste artigo perceberão o porquê desta confissão e da associação destas ideias.
A psicopatologia desde sempre estudou os comportamentos dos indivíduos que manifestavam determinados comportamentos que podiam ser aglomerados numa única doença: a psicopatia. Porém, ao longo dos tempos a psicopatia adquiriu novos significados e em muito contribui a empresa cinematográfica que usou e abusou de personagens psicopatas que toldaram o verdadeiro significado desta patologia.
Segundo Ana Sila um psicopata é “um indivíduo que apresenta um transtorno de personalidade, que se carateriza pela total ausência de sentimento de culpa, arrependimento ou remorso pelo que faz de errado; pela falta de empatia com o outro e de qualquer tipo de emoção”.
Os psicopatas são indivíduos mentirosos compulsivos, egocêntricos, frios, calculistas, manipuladores, impulsivos, irresponsáveis, transgressores das regras sociais, violentos e narcisistas e coabitam no meio de todos nós sem que nos apercebamos de tal a não ser que sejamos utilizados para a satisfação dos seus próprios desejos.
Hoje já não se associa como erroneamente se fazia no passado, a psicopatia á loucura.
Segundo uma recente classificação, da Associação de Psiquiatria Americana (APA) os psicopatas podem assumir 5 tipologias diferentes:
- O conquistador: aquele que ora é odiado ou amado ao mesmo tempo, que fala utilizando muitas piadas e aquilo que a outra pessoa quer ouvir; vive de ciclos de autoengano motivado pela sensação de poder, pois a “caça” promove a sua potência como predador e utiliza todo o seu charme para dominar a conquista.
- O malandro: aquele que só quer gozar a vida aproveitando cada momento sem qualquer pudor ou medo das consequências e ignorando as regras sociais e morais.
- O invocado: aquele que identifica em primeiro lugar os perigos e riscos pois gosta de estar sempre perto da confusão, seja para acusar ou agredir defendendo sempre a sua inocência e supostamente os outros.
- O vigarista: aquele que consegue através da ilusão mover as pessoas para aquilo que quer, sendo vendedor de sonhos e confiança e evocando ambições desconhecidas mesmo para quem usa como alvo.
- O serial killer: aquele que é frio, calculista. Age da forma que para ele é adequado, usando a impulsividade e não tendo qualquer sentimento de culpa ou justificação.
Mediante o que foi dito assumo o psicopata que habita em mim, pois em muitas alturas da vida assumi e integrei algumas das características da psicopatia e convivi com elas o tempo que considerei necessário.
E vocês, caros leitores, identificam alguma destas características na vossa maneira de ser e estar? Já pensaram que alguns destes indivíduos podem ser membros das vossas famílias, do vosso círculo de amigos, vossos colegas de trabalho?
Ser psicopata não significa que se vá cometer um crime mais ou menos hediondo ou marcarmos negativamente cada passo da nossa caminhada de vida. A maldade, como todos nós sabemos, é uma questão acessível a todos nós e é uma questão de contexto.
Todos nós já realizamos conscientemente e intencionalmente atos prejudiciais, maus, causadores de danos nos outros com quem nos relacionamos para usufruirmos de alguns ganhos pessoais e pelo nosso bem-estar. Todos o fizemos, porém é difícil admitirmos que aconteceu, por estarmos conscientes da infelicidade que causámos nos outros.
Aliás, se pensarmos um pouco sobre esta questão, em alguns grupos sociais há indivíduos com comportamentos desviantes que são capazes de ter uma vida plena, calma e conseguem construir relações saudáveis. Em outros casos são indivíduos com características associadas a este tipo de transtorno que movem alguns grupos para a evolução permitindo uma crescimento e desenvolvimento adaptativo, através da promoção da aceitação e da cooperação entre pares.
Quando nos referimos neste artigo á psicopatia, não relacionamos com o transtorno de personalidade num grau elevado em que há definitivamente uma doença mental instaurada e exige a necessidade de um tratamento e acompanhamento profissional adequado. Referimo-nos às características dos psicopatas que todos nós temos e reitero, mediante determinados contextos.
Sim, eu aceito o psicopata que habita em mim e ao aceitar a minha verdadeira forma de ser, consigo enumerar as atitudes e comportamentos associados a um determinado comportamento e assim crescer e evoluir como ser humano.
A não-aceitação de uma parte de nós faz com que a mesma seja considerada impura, não digna e é nestes casos de recalcamento continuado, segundo a APA, que em muitos casos surge a progressão para um transtorno mental.
Todos nós, caros leitores, temos um psicopata em nós. É esse psicopata que escondemos do mundo e de nós mesmos, que muitas vezes surge como reflexo no nosso espelho e compete a cada um de nós aceitar essa sua característica tão própria.
Sim, existe um psicopata em mim sendo um grande contributo para o meu crescimento e evolução como ser humano.
Enfermeiro / Escritor
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REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2013