in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
“Faça uma lista de todos os produtos que consumiu durante o dia de hoje e indique o destino que deu ao “lixo” resultante dessa utilização. Depois reflicta um pouco sobre o destino que esse lixo vai ter no ambiente e na vida das pessoas que vão lidar com ele…”
Este é um exercício que utilizamos para tentar explicar a diferença entre “economia linear” e “economia circular”.
Na “economia linear” um produto é desenhado em função da utilidade, uso e tempo de desgaste. Depois de consumido basicamente deixa de ter sentido ou valor. Passa a ser lixo. Lixo que vai acumulando-se algures, mas que julgamos já não fazer parte da nossa vida. Então faz parte da vida de quem?!
Num planeta onde a população cresce exponencialmente e os recursos diminuem na proporção inversa uma economia produtiva de cariz linear não é viável, pois o planeta não tem capacidade de se auto regenerar e continuar a produzir infinitamente produtos para o nosso “auto-interesse”.
Na primeira década do Séc. XXI, tornaram-se reais, algumas teses enunciadas nos anos 70 do séc. XX. A população aumentou exponencialmente, a produção em massa e em modo descartável reduziu os recursos naturais disponíveis, o lançamento de dióxido de carbono e outros gases para a atmosfera provocaram alterações no clima e… aumentaram o nº de conflitos entre humanos devido ao controle pelas fontes de recursos naturais.
É neste contexto que na primeira metade do Séc. XXI, surge a teoria da “economia circular” que indica que o nosso “lixo” tem de ter melhor uso e de algum modo voltar a ser utilizado. “Cradle to cradle” ou em português “Criar e reciclar ilimitadamente” de Michael Braungart e William McDonougth é o livro de referência que explica este conceito.
E é precisamente na área de “como transformar coisas inúteis em úteis e gerar valor económico e social” que nos teremos de começar a especializar nas próximas décadas.
Fazer “upcycling” é uma questão de atitude! Atitude perante o que nos rodeia e o uso que fazemos dos produtos e objetos que utilizamos para viver. É ainda um assunto reservado aos mais pequenos na nossa sociedade. Podemos observar que mexer em coisas que deixaram de ter utilidade estava reservado ao universo infantil. As nossas crianças nas escolas fazem imensas actividades de reciclagem, mas no final o que constroem torna-se rapidamente lixo novamente.
Quando chegamos a um público na casa dos 20 ou 30 anos fazer “upcycling” é uma questão de estilo, moda ou arte. Acreditem que existem peças belíssimas feitas por jovens. Mas à medida que vamos avançando nas faixas etárias o interesse e a capacidade de produção vai diminuindo.
Umas horas na internet e descobrimos um mundo novo! Em todo o planeta projetos de “upcycling” estão a ganhar expressão e a transformar-se em projetos de empreendedorismo, cidadania, educação, desenvolvimento pessoal, protecção ambiental, moda, arte e a ser incorporado em diversos processos industriais.
Muito trabalho educativo tem de ser feito nesta área, mas na nossa opinião “nós só aprendemos o que sentimos” e por isso mais do que programas académicos, devemos criar experiências e dar a oportunidade de aprender com elas.
Vamos RE.criar!
Podemos assim aprender “upcycling” – o processo de utilizar e transformar materiais em fim de vida útil, resíduos ou produtos inúteis e descartáveis em novos materiais ou produtos de maior valor, uso ou qualidade – e simultaneamente desenvolver competências individuais, sociais, comunitárias, técnicas e profissionais nas áreas da cidadania ativa, proteção ambiental, eco design, consumo responsável, marketing, artes plásticas e bricolagem.
Podemos faze-lo de diferentes maneiras e com diferentes públicos permitindo que cada cidadão tome consciência que possui um qualquer talento. É um processo de desenvolvimento pessoal: com espaço, tempo e os recursos mínimos para ser inspirador, criativo, libertador e por fim empreendedor. Simultaneamente existe a tomada de consciência do uso que fazemos das coisas, dos objetos; ajustamos comportamentos face ao consumo e às nossas reais necessidades. Passamos a questionar como podemos reduzir a nossa pegada ecológica de modo mais eficiente.
E neste processo não existe tensão, competição e avaliações, trabalha-se com o material que temos disponível, partilhando ideias, pedindo ajuda e criamos. Damos expressão, aquela que é a mais humana das suas características: a oportunidade de recriar a sua realidade
Mais do que nunca a humanidade necessita de recriar os seus estilos de vida.
CRISTINA FERREIRA NÚCLEO DE CIDADANIA E EDUCAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL www.wakeseed.org www.facebook.com/vamosrecriar [email protected] in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2014 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |