Por Carine do Espirito Santo Barreto
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
O sociólogo Bauman diz que vivemos em uma sociedade em que as relações são fluidas, instáveis e desta forma a conceção do espaço e do tempo não se associam mais de forma tão óbvia. O tempo na visão atual pode estar vinculado a uma ideia de velocidade e o espaço pode ser superado pelas tecnologias que nos permitem conhecer o mundo de forma instantânea.
Assim, a velocidade passa a ser uma dominante que marca a contemporaneidade. Então, o que é o prazer em um mundo que a maioria das pessoas correm desenfreadamente em busca da felicidade?! Correm, velozes, sem sentir e se deleitar sobre as belezas que a vida proporciona, sem saborear o gosto das coisas e das sensações. As pessoas hoje em dia, correm abruptamente para obter mais qualidade de vida, mais sucesso, mais dinheiro, mais reconhecimento e mais prazer. A quantidade prevalece sobre qualidade das relações e tudo isso em um espaço curtíssimo de tempo. Para quê, para quem?
Para a visão científica, a história da humanidade associava o prazer ao mundo físico e a satisfação de uma necessidade fisiológica que, pelo olhar da biomedicina, tinha uma vertente reprodutiva para perpetuar a espécie. Estudos subsequentes associaram o sexo com processo de saúde-doença e controle da espécie humana.
Já, a partir do século XX, foi possível perceber as mudanças na interpretação sobre o que é o corpo, prazer, sexo e desejo. O historiador Michel Foucault, foi um estudioso que proporcionou grandes contribuições à sociedade, ao analisar como o prazer se associa à satisfação das necessidades quanto uma existência política, controle, desejo e constituição do Eu.
O prazer que estava no imaginário do corpo físico, serviu por muito tempo como uma forma de controlar as pessoas, em ditar o que pode sentir ou não, o tipo de comportamento mais adequado, o que deve ser falado e o que deve permanecer tabu. Porém, com a grande influência do sistema político/económico percebeu-se que estes poderes relacionaram o corpo como algo que pudesse ser disciplinado. Assim, a sociedade passou por momentos de grande resistência e questionamento sobre quem controla o seu próprio corpo, quem realmente tem o poder, e qual é a forma mais ideal de sentir prazer.
Constatou-se ao longo da história, inúmeras referências que marcaram a forma como lidamos com a satisfação de nossos desejos. Passamos por visões filosóficas sobre o sentir prazer ligado ao bem-estar físico e espiritual, fazer o bem, como a obtenção e constituição de caráter, até a visão da Igreja que determinaram por gerações quais prazeres eram sinônimos da salvação e qual prazer era considerado pecado. Nota-se que todas estas conceções procuraram definir um conceito para a função sexual (seus contextos favoráveis, sua forma de organização), em detrimento de uma perspetiva de que o indivíduo pudesse cuidar ativamente de seu corpo, buscando integrar, da melhor forma possível, suas condutas sexuais ligadas à gestão da vida e da saúde.
Hoje, na cultura da pós-modernidade, o sentido para além do prazer pode se relacionar ao consumo. É o prazer que transcende ao mundo físico e se instala no desejo de pertencer. O consumo faz com que as pessoas se sintam pertencentes à alguma cultura, classe social ou status. Queremos sempre estar à frente de nosso tempo, consumindo roupas, bens até o consumo de valores e padrões.
A estudiosa Suely Rolnik nos fala que a sociedade consumista criou kits perfis-padrão e figuras prontas para usar, que significam padrões de comportamentos, estilo de vida saudável e moda que influenciam o quotidiano das pessoas sugerindo maneiras específicas para sentir prazer. É sob este viés que podemos encontrar a mídia de modo geral como canais que tem uma forte atuação sobre a formulação de opinião das pessoas. São meios que a maioria da população tem fácil acesso, pronto para ser consumido e perpetuado. Com isso, cada vez mais o prazer se torna efémero. Na sociedade atual, as pessoas são menos tolerantes, às tendências saem rapidamente de moda, e muitos não ficam nada satisfeitos com aquilo que acabaram de conquistar. As pessoas valorizam mais o ter e esquecem de ser.
A fim de resgatar a essência humana, houve a necessidade de estimular o contato interior em busca da realização pessoal. O prazer está em vivenciar cada momento como se fosse único de modo a encontrar a homeostase, a paz interior. Estudos na área da psicologia, filosofia, até a medicina oriental, comprovam que estar presente no aqui e agora ajudam a conectar o corpo e a mente, o que aumenta a capacidade de concentração e equilíbrio emocional. Ter a atenção plena, expande a consciência e proporciona maior clareza para satisfazer as necessidades e as múltiplas formas de sentir prazer.
EGRESSA DO CURSO DE PSICOLOGIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO
MOTTA E PESQUISADORA NA ÁREA DE PSICOLOGIA SOCIAL
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2017
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