in REVISTA PROGREDIR |FEVEREIRO 2024
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Distanciarmo-nos do frenesim do dia-a-dia é abrir espaço para renovar. Renovar entendido no seu sentido mais amplo e significado mais profundo de tornar novo, melhorar, consertar, recomeçar, repetir, substituir por algo melhor. Renovar é extremamente significativo, é extremamente urgente. Fazer uma pausa, refletir, reconsiderar não só as nossas narrativas pessoais, mas também a história coletiva que estamos a escrever para as gerações futuras, com os olhos postos numa sociedade de futuro mais justa, sustentável e igualitária.
Na Inspiring Girls Portugal, o dia-a-dia está orientado para quebrar estereótipos de género e para aumentar a ambição profissional das jovens raparigas. Isto acontece através da partilha de testemunhos de outras mulheres e é especialmente importante, num mundo e numa sociedade ainda tão negativamente marcada por preconceitos patriarcais.
A “renovação” é uma constante que faz parte dos alicerces e da génese mais profunda deste projeto que luta pelo progresso social e que exige, acima de tudo, uma renovação de perspectivas, um rejuvenescimento de crenças e um compromisso inabalável de desafiar o status quo. Ao assumirmos este papel, esta missão, estamos a fazer um convite à reconsideração dos papéis e das expectativas de género, visando assim eliminar, de forma gradual, os estereótipos sexistas que predeterminam o que raparigas e rapazes devem fazer ao longo da sua vida. Mas, mais do que isso, é um convite ao exercício da liberdade de escolha dos percursos académicos e profissionais, dos projetos de vida a que cada um deve poder aspirar e que devemos construir desde cedo, porque neles acreditamos e com eles nos identificamos.
Partindo da educação para a cidadania, este projeto materializa-se numa oportunidade para reconsiderar o verdadeiro significado de igualdade e para renovar a nossa dedicação a uma sociedade desejavelmente mais inclusiva, mais empática e mais tolerante. Este é um trabalho que começa ainda antes da formação da nossa identidade (de género). Oferecer cozinhas em miniatura a raparigas e carros e objetos de construção a rapazes, é inequivocamente limitador. E é também uma prática social completamente institucionalizada nas famílias. E porque é que assistimos ainda a tanta resistência quando se oferece uma boneca ou um bebé de brincar a um rapaz? Que consequência poderá ter, dar a oportunidade a uma criança de explorar o cuidar do outro?
Do mesmo modo, podemos e devemos empoderar as meninas desde cedo, para que as mulheres ocupem o seu mais que merecido lugar na sociedade, terem o destaque, a consideração e a recompensa que equitativamente lhes são merecidos, nomeadamente, na esfera profissional. Podemos e devemos dedicar o mesmo tempo a consciencializar a sociedade e educar, desde meninos, os homens para a necessidade urgente da repartição do trabalho doméstico e do cuidado familiar na esfera pessoal. Claramente a evolução do primeiro não assistiu (ainda!) à evolução proporcional do segundo. E sem o segundo, o primeiro nunca conseguirá o seu pleno alcance. Desconstrua-se (e renove-se também) o conceito de “trabalho”, pois mesmo sendo em contexto doméstico, continua a ser trabalho. Ainda que, na sua esmagadora maioria, não pago.
Imaginemos agora um mundo em que todas as raparigas têm o poder de sonhar sem limites, serem quem quiserem e quando quiserem sem qualquer constrangimento. Imaginemos um mundo onde os rapazes são livres para expressar as suas emoções, cuidar das suas famílias e serem, também eles, quem e o que quiserem ser. É este o mundo que nos esforçamos por criar - um mundo onde menos se torna mais quando valorizamos o verdadeiro significado de igualdade e, acima de tudo, de equidade.
Renovar o compromisso com a igualdade de género não é apenas uma causa; é um estilo de vida. É o estilo de vida de reconhecer o poder da diversidade e a importância de desafiar noções preconcebidas. A importância de “renovar”: pensamentos, ideias, sociedades.
Como dizia a escritora e feminista australiana G.D. Anderson, “o feminismo não tem como objetivo tornar as mulheres fortes. As mulheres já são fortes. Trata-se de mudar a forma como o mundo percepciona essa força”. É esta a nossa missão, é este o nosso convite.
FUNDADORA E PRESIDENTE EXECUTIVA DA INSPIRING GIRLS PORTUGAL E PROFESSORA ADJUNTA
www.inspiring-girls.com
[email protected]
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