Por Carlos Lourenço Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2013
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Ilusão também ocorre por via de efeitos artísticos (circo, os espetáculos de magia) e que visa dar a impressão da realidade. A ilusão é a realidade – e o pessoal aplaude: isto é, a propensão humana para a diversão, o entretenimento, embora em logro ou fraude. Há por aì quem elabore exercícios de magia e prometa futuro radioso (a condição é só “que se lixe a Troika”; isto é, que se lixem os que, na enrascadela, nos emprestaram dinheiro). E, por poder de ilusão persistem em garantir subsídios de pontualidade para chegar a “horas” ao emprego. E, por ilusão de poder, garantem, em magia continuada, o próximo estoiro da economia portuguesa. E das relações entre portugueses. Falta, à festa, a pontualidade das forças armadas que, sem guerras, se entretêm na guerra dos subsídios. Mas, ilusionismo é a arte de criar ilusões através de truques, habilidades, de prestidigitação. E nessa matéria, sendo ilusionistas as pessoas que se dedicam ao ilusionismo, à arte de criar ilusões através de habilidades, a habilidade recente é o exercício de grandolar (cantar Grândola/Vila Morena, sem respeito pelos motivos do autor ou pelo povo de Grândola). E, o país preenche-se de ilusos (os que vivem iludidos).
Mas, nas relações pessoais, nas relações afetivas (de amizade ou amor) também há quem prefira a ilusão do equívoco, da intriga – alavanca da injúria e da ignomínia – ao invés de preferir a confiança estável, a confrontação duradoura, séria e de honestidade emocional. A desconfiança, a intriga, são territórios favoráveis aos equívocos, à falsidade, à vivência de ilusão persistente. E há muitos (e muitas) que à seriedade consigo próprios, fugindo à confrontação com o seu próprio carácter – as suas verdadeiras opções e escolhas – preferem iludir-se na busca da responsabilidade nos outros, desconfiando – ou estruturando desconfianças – acerca dos outros (do outro). Vivem o ilusório, o diferente do que é, o enganoso e falso, o quimérico e o ilusório. E alimentam-se disso, construindo realidades virtuais porque, em boa verdade, reconhecem a dureza em que consiste a confrontação com a verdadeira realidade. Relações que afinal sendo logro e fraude pessoais, acabam por não serem relações. São outra coisa. E, a ilusão do poder (desconfiar do outro) e o poder da ilusão (viver em logro) são fatores incontornáveis de perda. Perda múltipla.
Os organismos vivos especializaram-se a solucionar problemas. São vivos e, portanto, a cada instante, solucionam problemas. Por isso, se ainda não foram invadidos pela morte de consciência, se ainda não foram invadidos pela inação face aos problemas, é possível a renúncia à ilusão, é possível o regresso á realidade, á mudança em si, operacionalizando o treino para a realidade, a confrontação com a realidade e obter, em reflexão e partilha, as soluções possíveis, o encontro desejável com humanidade.
Professor, Escritor, Conferencista
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REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2013