Por Nelson S. Lima
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2012
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Destaco, entre outras, a necessidade de atualizarmos a nossa "visão" do mundo, revermos as nossas crenças (não necessariamente religiosas), repensarmos o nosso estilo de vida, libertarmos o nosso potencial (e em especial as nossas capacidades criativas e executivas) e, para não me alongar mais, compreender o nosso papel numa sociedade que se modifica a um ritmo alucinante e que nos leva frequentemente a interrogar "para onde caminha a humanidade".
Devo dizer que, chegado a 2012, penso que construímos um mundo fabuloso. E o que temos hoje? Um mundo onde os novos meios de comunicação e informação nos permitem estar a par de saberes e acontecimentos que de outra forma seriam ignorados. Com eles, tudo mudou. Porque a facilidade de comunicação e informação, sendo o resultado do desenvolvimento de novas tecnologias, é, agora, a ponte que nos permite aceder ao admirável mundo novo que acontece, fervilha e se expande para lá dos limites da nossa rua, da nossa cidade ou do nosso país. Este detalhe é extremamente importante quando falamos em trabalho e em atividade profissional.
O CONHECIMENTO COMO VALOR
Depois de milhares de anos centrados na agricultura inventámos a indústria. Foi o fim de uma Era e o arranque de uma outra que marcou os séculos XIX e XX. E foi essa mesma indústria que, por sua vez, gerou um novo estádio - o da informação graças ao computador e à internet. Vivemos hoje numa "tecnosfera" que envolve tudo e todos (quem não tem um telemóvel?). Mas, mais importante ainda: já estamos a caminho de uma outra Era graças à disseminação e à partilha da informação. Estamos praticamente na Era do Conhecimento onde este, finalmente, é reconhecido como um poder.
O conhecimento é um valor que, mais do que nunca, aumenta dia a dia. É talvez o único que não se desvaloriza, ao contrário do dinheiro e de outros bens. O conhecimento tem ainda a vantagem de ser transacionável, isto é, pode ser vendido, o que permitiu a emergência de uma nova classe de profissionais: os trabalhadores do conhecimento, os quais representarão já mais de 80% das atividades humanas.
Ao contrário, por exemplo, dos operários e dos trabalhadores agrícolas tradicionais, que usam a força braçal para desempenhar o seu serviço, os trabalhadores do conhecimento utilizam sobretudo o intelecto como forma de vida. Muitos já vêm de trás: médicos, cientistas, designers, psicólogos, etc. Outros estão a surgir: gestores de conhecimento, engenheiros de criatividade, gestores transacionais, técnicos de medicina da longevidade, etc., etc. (muitas das profissões do futuro próximo ainda não foram detetadas pelas escolas e universidades pelo que continuam a formar jovens para empregos sem futuro, isto é, que cedo estarão na lista de empregos inexistentes!).
AS FORÇAS DA MUDANÇA
Para especialistas como James Canton, presidente do Institute for Global Futures, e Lynda Gratton, da London Business School e consultora de Capital Humano do Governo de Singapura, estão já à vista diversos tipos de forças que vão marcar o futuro do trabalho. Canton sinaliza a globalização, a economia de inovação, o crescente aumento da esperança de vida, as alterações climáticas, os novos combustíveis e as cidades criativas (centros de forte atração e concentração económica como Xangai). Gratton destaca a tecnologia, a globalização, a demografia e a longevidade, as metamorfoses sociais e os recursos energéticos. Todas estas forças, isoladamente ou interativamente, estão a moldar o mercado do trabalho. E o que é interessante verificar é que, embora haja uma grande número de desempregados na Europa do Sul, a Inglaterra, a Alemanha, os Estados Unidos, os países da América Latina e o Extremo Oriente, têm, paradoxalmente, falta de trabalhadores (estou a falar em milhares de milhares) em muitas áreas.
TRABALHO E EMPREGO: NOVOS DESAFIOS
Segundo o governo norte-americano mais de 75% dos atuais empregados dos Estados Unidos vão necessitar de receber nova formação para poderem manter os seus empregos. Estima-se que, dentro de 8 anos, cerca de 80% de todos os empregos exigirão algum tipo de formação superior. Problema (para os americanos e não só): as escolas não estão a preparar adequadamente a futura força laboral para competir na economia global. Este é o maior desafio do ensino nos próximos tempos. Nos Estados Unidos e não só, obviamente.
COMO VAI SER O MUNDO TRABALHO
Todos os estudos sugerem estes cenários:
- Trabalho multirracial (as emigrações conduzem a empresas onde trabalhadores de diferentes nacionalidades e raças se misturam e trabalham em conjunto);
- Multiplicidade de profissões (cresce a variedade de especialidades e profissões, morte de muitas outras);
- O trabalhador assalariado tenderá a desaparecer, o profissional será cada vez mais contratado a prazo como os atuais jogadores de futebol ou as estrelas de cinema através de agências);
- Gestores "mercenários" (os melhores gestores serão como os treinadores de futebol saltando de uma empresa para outra em função do seu potencial e ganhando somas milionárias);
- Trabalho 24 horas, 7 dias por semana, 365 dias por ano (cada vez mais aumenta o número de empresas e serviços que trabalham ininterruptamente; muitos gestores estão quase sempre on-line com a empresa e os seus negócios);
- Obsolescência rápida de conhecimentos (os conhecimentos académicos estão a perder rapidamente atualidade devido ao avanço da ciência);
- Necessidade de reaprendizagem constante (já não chega concluir um curso; temos de nos manter em permanente formação para estarmos atualizados);
- Trabalho automatizado cresce rapidamente;
- Teletrabalho (através da intranet e da internet).
- Tele-emigração (trabalhar no estrangeiro a partir de casa).
- Talento enriquecido (cada vez mais as empresas vão em busca dos talentos que existem no mercado, "roubando-os" à concorrência).
COMO ENFRENTAR O FUTURO DO TRABALHO
Inteligência, criatividade, conhecimentos profissionais, ampla cultura geral, domínio de duas ou três línguas (português, inglês e espanhol, por exemplo), elevada capacidade de relacionamento humano, saúde positiva e espírito empreendedor são os principais valores que se exigem a quem queira ter um "bom emprego" (ou seja, ajustado aos seus talentos e vocação).
Temos também de cuidar do cérebro - afinal, o elemento-chave da nossa personalidade, inteligência e capacidade de execução.
O psicólogo Jeff Brown e o neurocientista Mark Fenske sugerem como podemos desenvolver um "cérebro vencedor". Para eles, a fórmula de sucesso reside no aperfeiçoamento de oito fatores: o autoconhecimento (pensar em nós próprios para alcançarmos o sucesso), a automotivação (cultivar a vontade de vencer), o equilíbrio emocional (tornar as emoções em nossas aliadas), a concentração (aprender a focalizar a atenção no que é importante), a memória (saber organizar os nossos conhecimentos), a resiliência (o salto para o sucesso), a adaptabilidade (remodelar ideias para chegarmos ao sucesso) e cuidar da saúde do cérebro (para o proteger e melhorar).
Finalmente destaco quatro tipos de inteligência que considero fundamentais para termos sucesso num mundo altamente competitivo e exigente: a inteligência analítica, a inteligência criativa, a inteligência executiva e a inteligência de risco. Transversal a tudo isto está a capacidade de interação com os outros e alguma dose de espiritualidade e humanidade para que trabalhar seja um ato de auto-realização e não apenas um meio de ganhar dinheiro ou ser famoso. A vida deve fazer sentido para nós. E o trabalho, se nos ajudar a explorar as nossas potencialidades, será um fator de bem-estar para cada um de nós.
European Intelligence Institute
Grupo Instituto da Inteligência
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