
por Vanda de Carvalho
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Será que também usa um manto de argila para se cobrir? Ou ousa mostrar a sua verdadeira riqueza e deixa luzir a sua essência? Desde muito cedo que a sociedade nos vai convencendo de que nos temos de proteger do mundo, que temos de fabricar uma capa protetora e que esta terá poderes mágicos que nos permitirão sermos amados, respeitados e aceites pelos que nos rodeiam.
Mas o preço a pagar por esta capa é muito elevado pois, em vez de nos proteger, ela esconde-nos de nós mesmos. Desta capa parece sair um canto que nos entorpece e nos leva a repetir as mesmas ações, na esperança de encontrar resultados diferentes, sem desconfiar que esta expectativa é o primeiro sinal de que alguém nos está a “dar música”. O mais curioso, é que a letra deste canto é produzida pelo próprio leitor.
Estes cantos podem ser trovados sob várias formas consoante a forma de interpretação do mundo que cada um incorporou. Existem muitas teorias sobre o que pode ter dado origem a esta interpretação do mundo que, tendencialmente, se dividem em dois grandes grupos: aqueles que defendem que quando nascemos já trazemos connosco informação sobre quem vamos ser e os que julgam que consoante o meio em que o ser é criado se irão desenvolver determinados padrões de comportamento em resposta a esse mesmo meio.
Quer já esteja escrito no “livro da vida” ou seja determinado pela própria vida, a verdade é a que aquilo que até agora chamámos capa é a nossa personalidade. Personalidade é “uma organização interna e dinâmica dos sistemas psicofísicos que criam os padrões de comportar-se, de pensar e de sentir, caraterísticos de uma pessoa” (Carver & Sheier, 2000). É a personalidade que através da repetição de determinados modelos comportamentais aprisiona a essência.
Se tomarmos consciência que vivemos reféns da nossa personalidade e nos dispusermos a libertar-nos das suas crenças limitadoras teremos uma maior probabilidade de sermos mais verdadeiros e de entrarmos em contacto com o nosso “eu”. É neste espaço que temos de ter a coragem de enfrentar as nossas sombras e de lidar com elas, pois fazem parte de nós. É este o momento de sermos mais, de sermos completos.
Esta consciência implica uma capacidade de auto-observação muito forte no sentido de procurar quais os programas que a nossa personalidade construiu para nós. Estes programas estão bem enraizados e são diariamente reforçados por crenças e solidificados por medos.
Fique atento àquilo em que costuma investir a sua energia, às situações que tende a evitar e às situações que o atraem. Analise o seu comportamento sem autocrítica. Investe mais do que os que o rodeiam na procura da perfeição, da ordem e da organização? Olhe para dentro. Costuma procurar obter a aceitação através do auxílio e da adulação dos outros, esquecendo-se das suas próprias necessidades? Ouça o seu discurso. Com que frequência as palavras desempenho, sucesso e objetivos estão presentes? Acredita que apenas obterá reconhecimento se tiver o melhor desempenho? Olhe para dentro. Quão frequente é a sua necessidade de introspeção e com que frequência fica enterrado nas suas emoções? Ouça o seu coração. É-lhe mais confortável racionalizar do que sentir? Páre. Tende a ser vigilante sempre em busca de situações potencialmente ameaçadoras? Sinta, sinta o que há para sentir. Com que regularidade ignora o que sente? Ouça o que lhe dizem sobre si. Quanto é importante para si controlar as situações e dominar as ações dos outros? Exprima-se. Quantas vezes ignora o que quer apenas para evitar um conflito?
Se quer começar a partir a argila que o cobre e descobrir o brilho da luz que há em si, interrogue-se. O melhor dia para começar é hoje. Quem sabe vai descobrir o pedaço de estrela que há em si.

PSICÓLOGA E COACH
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in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2014
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