in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2024
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
É importante que a criança encontre nestes meios de interação as condições necessárias para desenvolver o seu potencial imaginário. O adulto pode contribuir com este processo à medida em que oferece os meios: um livro com imagens, um brinquedo educativo, um passeio na natureza, entre outros. Deste modo, a criança começa a ampliar o seu repertório comportamental e a compreender a realidade em que vive. Através do imaginário, a criança também elabora conteúdos relacionados à sua saúde emocional e psíquica. Tomemos um exemplo: a perda real de um animal de estimação, pode despertar na criança a necessidade de fazer desenhos sem cores ou utilizar somente cores escuras ou não querer ir à escola porque imagina que estar longe da família desperta o medo de mais uma perda, ou seja, pode associar à perda de um ente querido. Claro que estas situações são muito mais complexas e merecem toda a atenção e cuidado possíveis. O papel do adulto é fundamental para ajudar a criança a viver o que é real, utilizando e aproveitando os recursos da “fantasia infantil”, pois é através deste mecanismo que se revela o que se sente. Num segundo momento pode-se pensar em auxiliar os pequeninos a darem nome ao que sentem, nomearem as emoções.
Outro ponto relevante é pensar na construção de metáforas com as crianças. Quando observamos as brincadeiras infantis nos deparamos com várias metáforas. Seguem algumas: utilizar um livro aberto na cabeça como se fosse um chapéu; cortar pedacinhos de papel e jogar para o alto como se fossem os pingos de chuva a cair; empilhar vários copos de plástico e imaginar que é um castelo; entre outros. Tudo isto só é possível quando a criança tem ou recebeu, em algum momento, os meios para criar/elaborar algo. É um processo de construção, elaboração e internalização de novos comportamentos. E assim o repertório infantil vai sendo ampliado.
Ainda dentro do contexto da imaginação/criação infantil, podemos falar sobre o “amigo imaginário”. Algumas crianças incluem nas suas brincadeiras um personagem invisível com o qual falam e interagem. Este personagem geralmente é uma pessoa ou um animal e denominamos de “amigo imaginário”. A diferença entre o “faz de conta” e o amigo imaginário, é que na brincadeira do “faz de conta”, a criança utiliza elementos reais (bonecos, peças, objetos, etc) para criar uma história ou simplesmente desenvolver uma brincadeira. Um peluche, por exemplo, pode representar uma professora e os demais bonecos, os alunos. A criança consegue “fingir” que estes personagens são verdadeiros. Já com o amigo imaginário é diferente, pois a criança cria um personagem que é invisível, fruto da sua imaginação. Em algumas situações, o amigo imaginário pode ser um fiel companheiro nas horas tristes, nos momentos mais difíceis. Serve como um apoio emocional; algo que apazigua, conforta. Também é relevante salientar que estes personagens, fruto da fantasia infantil, não substituem as relações afetivas que a criança precisa construir ao longo da vida.
Constata-se que através da brincadeira, existe a possibilidade da criança recriar situações reais ou de fantasia para se apropriar do seu mundo, estabelecer relações e revelar as suas emoções. Estimular os pequeninos a desenvolverem brincadeiras livres, com elementos e condições apropriadas, favorece e enriquece o desenvolvimento do repertório comportamental infantil. Apresentar-lhes a realidade é uma tarefa dos adultos, mas sempre surgem questões para refletir: Como é possível fazê-la? Quais os elementos que temos para oferecer-lhes? Contemos com a riqueza da natureza que nos fornece tantas coisas e com a presença real do adulto na vida da criança. Este pode ser um começo.
O universo infantil torna-se mais rico quando nós, adultos, colaboramos e incentivamos o “brincar” da criança, dentro de dinâmicas que favoreçam o bem-estar e a construção de relações saudáveis.
Sejamos sempre adultos reais e não imaginários!
PSICÓLOGA
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2024
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)