Por Emídio Ferra
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Esta recente realidade, como bandeira dianteira, tem uma grande promessa: o financiamento social e a responsabilidade económica.
É conveniente, antes de sugerirmos definições ou um enquadramento para estes conceitos, procurar entender as causas e as consequências que trouxeram à luz esta realidade.
Nos últimos dez anos, as sociedades globais atravessaram as profundezas dos calabouços. Nesse negro percurso, as estruturas sociais que se tinham, até então, sustentado em sistemas virtuais e bolhas especulativas, permitiram-nos questionar: O que está errado? Quem são os culpados? O que é verdadeiramente real? Como mudar?
Passo a passo, refloresceu, coletivamente, a busca pelo retorno à vida baseada na proximidade, no sustento da terra e dos seus recursos naturais, no afeto, no respeito pelos ciclos naturais e pela humanização dos ecossistemas.
Em primeira instância, o que se julgava ser o culpado desses negros tempos, o Dinheiro e as Finanças, foi excluído, de facto, pelos inspirados mentores destes movimentos de transição. A finalidade era a prática, em si, de exemplos vivos de novos modos de vida: a fundação de comunidades baseadas na partilha, ecologia, permacultura, economia da dádiva e na troca, educação livre, sustentabilidade ambiental e social.
Não foi necessário muito tempo para se entender que não se podia simplesmente voltar as costas a uma construção social globalizada que em menos de um século de percurso atingira um crescimento impensável ao longo de toda a sua história. E a recusa em incluir o sistema financeiro, o dinheiro, na nova sociedade era ainda mais irreal e perigoso que os efeitos causados nas grandes crises económicas e financeiras.
Enfim, a realidade tem demonstrado que a mudança não pode acontecer sem os valores vivos e verdadeiros da inclusão, da compaixão, da humildade, do amor próprio e do respeito ao próximo, mas também não se pode menosprezar o passado.
Então, daí surge este movimento: o financiamento social e a responsabilidade económica.
Ainda que, no meu parecer, não se possa já considerar este processo inteligível por um conceito, pode-se, no entanto, encontrar nele os traços de um movimento transitório concertado em busca de soluções credíveis e sustentáveis, construídas no terreno, no dia a dia, e com os dissabores e alegrias, próprias de qualquer outro projeto humanizado e inclusivo.
O financiamento social coloca o recurso financeiro ao serviço da sociedade, da economia real e das necessidades das pessoas. A proteção das características nefastas deste recurso, a sua imaterialidade e possibilidade de crescimento infindável terá de ser controlada pela sua necessária relação direta com a economia real. E gradualmente estender os seus produtos financeiros e virtuais a projetos de elevado valor social, ambiental, educacional e económico e, em paridade, com o desenvolvimento desses projetos, criar-se igual valor financeiro.
O financiamento social, além do dinheiro, incluirá, nesta nova era, recursos técnicos e naturais como as habilidades, talentos, saberes e o ânimo dos empreendedores. Portanto, os agentes ativos da economia são todos os seres vivos sem quaisquer exclusões, ou seja, a humanidade, os animais, a natureza, o planeta e todos os ecossistemas existentes e as suas inter-relações.
É neste momento que a responsabilidade económica entra e comunga com o financiamento social.
O paradigma do crescimento económico-financeiro exclusivo, como solução para qualquer sociedade, nada mais é do que arremessar o bem comum, a harmonia e a saúde do ponto de vista holístico, para o abismo da competição desenfreada, da solidão e da crise, não no sentido da oportunidade, mas da desolação humana.
Os atores da transição substituirão o foco financeiro do crescimento pelo desenvolvimento económico num sentido mais amplo que acompanhará a realidade humana em todas as suas vertentes e necessidades.
Portanto, para se atingir a responsabilidade económica, antes de mais é necessário julgar e apurar os responsáveis pela insustentabilidade ecossistémica.
A impunidade e passividade social e política diante dos fatores destrutivos das funções basilares da vida não permitirá que o processo de transição seja concluído.
A consciencialização destes conceitos e práticas é fundamental para a assunção dos valores associados a esta mudança.
Solidariedade, partilha, inclusão, responsabilidade, alegria, comunicação franca, harmonia e florescimento social e humano serão a nova bandeira sustentada pelas finanças sociais e pela responsabilidade económica.
CONSULTOR EM EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO
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in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2018
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