Por Maria Farinha
in REVISTA PROGREDIR |DEZEMBRO 2019
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Entre o email, o sms, o messenger e o WhatsApp a comunicação vai-se desenvolvendo a uma velocidade superior à da luz, levando à necessidade de respostas imediatas, muitas vezes desprovidas da necessária reflexão.
E é neste cenário, mais ou menos deslumbrante ou fictício que muitas relações se iniciam. E terminam! Se houve um tempo em que “vou ali comprar cigarros” era um eufemismo para “adeus, que me vou embora para não mais voltar”, atualmente, novas expressões como ghosting, haunting, e benchinhg são as formas modernas de terminar as relações.
Ghosting
A expressão surge a partir do inglês “ghost”, que significa fantasma. Depois de em 2015 ter sido eleita pelo dicionário britânico Collins como uma das palavras desse ano, é usada para designar uma forma de terminar relacionamentos na era digital. Basicamente, a pessoa desaparece, tal qual um fantasma, e deixa de responder às chamadas e mensagens das aplicações e redes sociais, sem dar qualquer explicação ou justificação.
O evitamento do conflito e a dificuldade em conseguir dizer não são duas das razões que levam a este tipo de comportamento e que têm origem na imaturidade emocional e na incapacidade de lidar com as situações.
Para quem vive esta experiência devastadora, a culpabilização pode surgir como tentativa de explicação do afastamento do/a outro/a. O fator surpresa pode ainda impossibilitar a vítima de reagir, levá-la a entrar em negação ou a não conseguir fazer o luto.
Haunting
Depois do desaparecimento repentino pode surgir uma outra forma de desorganização da vítima, que passa pela vigilância permanente do que a mesma partilha ou publica nas redes sociais. Em jeito de assombração, o/a outro/a visualiza todas as histórias publicadas e põe gostos em todas as fotos e publicações.
Em suma, a pessoa desaparece, não quer comunicar, mas precisa de mostrar que existe Estas pessoas vivem na ambivalência de não conseguirem afastar-se, nem se aproximar. A ligeireza das relações promove a facilidade de terminar as mesmas No entanto, as pessoas não se afastam totalmente e mantêm-se atentas às atividades e rotinas da/o outra/o.
Quanto à pessoa que é deixada, encontra no haunting uma nova forma de comunicar, pois, percebe que o/a outro/a não desapareceu da sua vida, o que aumenta a sua vulnerabilidade e a sua dependência daquela presença virtual e assombrosa.
Benching
Mais uma expressão que deriva do inglês “to bench”, e que significa deixar alguém no banco, isto é, deixar alguém de reserva.
Tal como o ghosting, o benching também representa uma forma de desaparecer de uma relação sem lidar com a pessoa. Porém, quem recorre a esta prática pretende continuar o contacto com o/a parceiro/a para poder usá-lo/a sempre que lhe for conveniente.
Trata-se de uma técnica de manipulação, através da qual o contacto se mantém, embora com menor regularidade, maior distanciamento e com possibilidade de criar expectativas de encontros que são cancelados em cima da hora. A facilidade com que as pessoas se tornam descartáveis está muito presente neste comportamento.
No benching há duas vítimas, ambas com inseguranças: uma que receia assumir uma relação, outra que sente a necessidade dessa relação.
Estas três formas de terminar relações reúnem características comuns, que passam pela fragilidade emocional, a insegurança e a dificuldade em estabelecer limites.
Se assumir o fim de uma relação é necessário para iniciar um processo de luto e seguir em frente, ter a coragem de assumir um não é basilar para a saúde mental.
Para quem está a passar ou já passou por situações destas importa lembrar que procurar respostas e justificações para estes comportamentos de afastamento não é a solução. Desaparecer sem deixar rasto tem a ver com o/a próprio/a e com a incapacidade de enfrentar os próprios medos, muitas vezes também relacionados com questões de abandono.
PSICÓLOGA CLÍNICA, MEMBRO EFETIVO DA OPP
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in REVISTA PROGREDIR |DEZEMBRO 2019
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