
Por Martine Rato
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2021
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Encontramos a dualidade no próprio núcleo da matéria, o átomo que é formado por protões e eletrões.
Toda a ordem no Universo reflete o equilíbrio de forças opostas.
A nossa primeira experiência neste planeta, como ser encarnado, é a noção do “Eu” e não “Eu”. Um ser pequeno e indefeso, mas com uma clara noção dessa dualidade.
Tudo será experienciado através dela, permitindo-nos formar a perceção do que nos rodeia e construirmos a nossa personalidade.
Apreciamos tudo por contraste: o frio e o quente, como quando nascemos e nos encontramos fora do ventre materno; o agradável e o desagradável, o salgado e o doce e assim por diante… E será assim, uma sucessão de sensações e emoções constantes, atordoantes e profundas ao longo desta nossa aventura.
Existe um contraste que nos sensibiliza mais do que todos os outros: o prazer e o sofrimento. Porquê? Porque, fora os casos de desvios psicológicos que levam à apreciação do sofrimento, todos nós procuramos o prazer, ou, na verdade, o evitar do sofrimento. Isto constitui, na realidade, o âmago das nossas ações.
É um contraste experienciado não só pelo ser humano, mas por todos os seres vivos sencientes.
Para nós humanos, dotados de uma consciência aparentemente mais desenvolvida, o alcançar desse estado evolutivo, de não sofrimento, só poderá acontecer quando encontrarmos dentro de nós a capacidade de não nos identificarmos com todas essas forças e de não estarmos sujeitos às circunstâncias que nos rodeiam: um estado de equilíbrio interno. Caso contrário, iremos deambular por esta existência, tal como uma pluma que rodopia ao sabor do vento, e cair facilmente nos meandros do sofrimento.
Um mestre Zen dizia que a vida é como um rio, com uma forte corrente, que o homem tem de atravessar. Ora esse equilíbrio interno é como se fosse uma ponte que nos permitisse passar por cima desse rio, apreciando tudo, mas sem cair ou nas suas águas, ou ser levado pelas correntes.
Chamado caminho do meio por alguns sábios, esse ponto elevado permite-nos olhar para o que nos rodeia sem perder o controlo de si próprio, sem, como vulgarmente se diz, “perder a cabeça”.
Essa harmonização de opostos também é referida como a lei de neutralização no livro filosófico Caibalion. Refere-se à capacidade de sair do movimento constante dessas forças, sem deixar de sermos sensíveis e agir conforme a nossa Verdade.
Um ponto de equilíbrio estabelecido fora do pequeno ego cheio de caprichos e contradições que é formado de experiências ilusórias e pequenas. Essa harmonia interna é baseada num ponto mais alto permitindo ter um olhar mais amplo, a partir do nosso Self, também conhecido como o nosso Eu Espiritual ou Eu Superior. É a partir desse lugar que emanam valores de fraternidade e princípios amorosos.
Podemos chamar-lhe a Verdade, que em nada se identifica com a verdade do pequeno ego.
Em Kundalini Yôga repete-se o mantra “Sat Nam”. Ele relembra-nos que a Verdade é a nossa Identidade. A que advém da consciência espiritual, conectada a algo ilimitado e poderoso e que traz essa Verdade maior. Uma lembrança da Unidade da qual fazemos parte.
Só a partir desse estado de consciência seremos capazes de impactar no mundo e trabalhar para causas maiores que farão realmente a diferença.
É no nosso interior que resgatamos atributos mais nobres que nos trazem a capacidade de permanecermos centrados e em nós.
Uma conexão com a nossa parte espiritual.
Mas será que o homem de hoje, nesta sociedade materialista e cartesiana, se conecta ao seu lado espiritual? Ou apenas o lado material é relevante?
Este balanço é importante. É, na verdade fundamental, pois sem ele nunca seremos capazes de alcançar a alquimia de reunir os opostos e de harmonizá-los.
Viver nos extremos leva à destruição do Ser ou ao seu adoecimento.
O tempo que despendemos no nosso dia a dia deve ser doseado com medida e peso. A nossa natureza espiritual deve ser abraçada e não negada para podermos viver plenamente e com leveza.
Com a evolução da ciência verificou-se que a nossa realidade é moldada por nós. Desta forma, é em nós que devemos resolver os conflitos e os desequilíbrios para encontrarmos harmonia e beleza no exterior. Só assim, a humanidade poderá caminhar para a sua evolução e sair das repetições dos ciclos de sofrimento.
O Amor, que tanto procuramos nas ações dos homens, só poderá verdadeiramente surgir de alguém que trabalha internamente o seu EU, tal como Gandhi idealizava, ao afirmar que “se queremos ver uma mudança no mundo, teremos de fazê-la primeiro dentro de nós”.
Não estar presente somente no exterior, mas também no interior. Este, é o lugar certo de harmonia e da nossa existência!

HIPNOTERAPEUTA NA AKADEMIA DO SER
Instagram: @martine.rato_hipnoterapeuta
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2021
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