Por Eliana Silva
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2022
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Sem dúvida que somos livres e autónomos para tomar uma decisão, mas seremos livres para executar essa decisão? A verdade é que a capacidade para colocar em prática qualquer decisão que tomamos depende da quantidade de dinheiro que temos no nosso bolso. Ter a capacidade de decidir e não ter a capacidade de executar não é garante de autonomia e sem dinheiro não é possível fazer praticamente nada, uma vez que precisamos de dinheiro para tudo na vida.
Em que medida somos efetivamente livres? Conseguimos dotar-nos de todo o conforto que pretendemos para as nossas vidas? Temos autonomia financeira? O que sentimos quando pensamos em dinheiro ou naquilo que ele nos traz? Angústia, tristeza, ansiedade ou alegria e bem-estar?
Todas as emoções que o dinheiro nos provoca, sejam elas positivas ou negativas vêm da nossa infância. São o resultado de tudo o que ouvimos, vimos e experienciamos em relação a dinheiro ao longo da nossa vida, através do relacionamento com os nossos pais, familiares, amigos, professores, etc. E tal como as emoções associadas a qualquer outra área da nossa vida nos limitam ou impulsionam na obtenção dos resultados, as emoções sobre o dinheiro também nos impedem de o ter ou nos dão força para o conquistar.
Se, por exemplo, ouvíamos os nossos pais a discutir por causa de dinheiro, a memória dessas discussões vai ficar gravada no nosso inconsciente. E tal como a memória de uma música ou de um odor nos transporta a um determinado momento da nossa vida, o dinheiro vai também nos transportar às discussões dos nossos pais, mesmo que inconscientemente, e com isso vamos desenvolver emoções negativas relativas a dinheiro, e sem nos apercebermos, a condicionar os nossos comportamentos com o dinheiro.
Tal como as memórias de discussões devido a dinheiro, crescer num ambiente em que era frequente ouvir frases como “não há dinheiro para isso …”, “o dinheiro voa”, “o dinheiro não nasce nas árvores”, leva a que a nossa relação com o dinheiro se molde na escassez, no pequeninho, no que é impossível ter mais e que não é possível se desejar mais. Porque ouvimos essas frases num momento do nosso crescimento em que estamos a desenvolver os nossos conjuntos de valores e de crenças acabamos por acreditar nelas como sendo verdades absolutas.
E tudo isso acontece não porque não há ou não havia dinheiro, acontece porque não se sabia e não se sabe gerir dinheiro, e não sabiam e não se sabe porque nunca foram nem somos ensinados a gerir, a organizar, a planear e a sentir o dinheiro. O facto é que todos nós acreditamos que sabemos gerir o dinheiro, quase como se fosse algo inato, como respirar. Mas a verdade é que não é assim. Saber gerir o dinheiro é uma competência que precisamos adquirir, tal como aprendemos a falar inglês, como aprendemos a cozinhar, tal como aprendemos a conduzir e tal como aprendemos qualquer outra competência que necessitamos para a nossa área profissional, pessoal ou financeira.
E em pleno século XXI o dinheiro continua a ser visto como o familiar de quem ninguém fala, o tabu supremo do reino familiar. Por isso não é de estranhar que ainda se olhe para o dinheiro como algo mau, e que se acredita que o dinheiro não traz felicidade. E sendo verdade que não nos traz felicidade, o dinheiro traz-nos a facilidade de fazer ou ter tudo o que efetivamente queremos, necessitamos e nos faz felizes. Afinal é o dinheiro que paga o conforto das nossas casas, que paga as memórias das férias passadas em família, que paga a educação dos nossos filhos ou os seus sorrisos quando lhes oferecemos aquele presente que tanto desejavam.
Conquistar a liberdade e exercer autonomia está diretamente relacionado com a nossa capacidade de ter dinheiro, saber gerir dinheiro e saber controlar as emoções em redor a tudo o que se relaciona com o dinheiro. Pelo que, para realmente sermos autónomos, devemos ter a humildade em reconhecer a nossa natural falta de competência para gerir o dinheiro. Mas ao invés de ver isso como algo mau, devemos sim ver isso como uma oportunidade para aprender e para crescer. Porque aprender sobre dinheiro não é só sobre ganhos e despesas, sobre investimentos e dívidas. Aprender sobre dinheiro é sobre tudo aprender acerca de nós mesmos. Aprender sobre o que desejamos para nós e para o nosso futuro e quais os planos e estratégias temos que desenvolver para alcançar esses desejos.
Eu costumo dizer que dinheiro não é só sobre euros e cêntimos. É sobre sonhos, expectativas e o desejo de ser mais e ter mais para nós e para todos os que incluímos no nosso círculo. O dinheiro é apenas mais uma ferramenta que nos vai permitir concretizar tudo isso, e assim conseguirmos viver na plenitude das nossas capacidades e ambições.
Não valerá a pena, querer aprender sobre dinheiro? Deixo a pergunta!
MENTORA FINANCEIRA
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in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2022
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