in REVISTA PROGREDIR | JULHO 2021
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Numa realidade em que o empreendedor é rei, como conseguir empreender em marcha-atrás, na queda retumbante pelo Todo? Escusai sábias noções, não existe como salvar-nos da procura piedosa por uma resposta. Atirai-vos de uma arriba, pode ser que caias do círculo vicioso que viceja e alquebra. Primeiro é reconhecê-lo, fazer o luto pelo qual a Culpa se vê exaurida e reiniciada, não te poupes nunca, que o mesmo é dizer que a indiferença se verá renascida, embrutecida.
Empreender é poder abraçar um Objeto, só o faz quem não quedou num qualquer modo de "ceticismo filosófico" (Nietzsche), para o primeiro converge a força concorrencial dos "espíritos animais" que flamejam em correria secreta. Não importa o que te move, desde que o faças sem te sentires culpado. A mínima hesitação, e estará aberta a porta da reflexão, que é o fim da maratona de absolvição. O empreendedorismo não deve olhar a meios, de outro modo coloca o torniquete no futuro. Como é bom potenciar a guerra, o mal é o bem necessário, a compaixão é a força extintora da mudança. Se te apiedas, perdes-te. E, aí, começa novel movimento que, no limite, te forçará a crescer para além da barreira dos "golos".
Bem vês como a queda é obrigatória, necessário será fazer magoar(-nos), e, subitamente, num relance, talvez te vejas aliviado da pressa, porque já fizeste ceder tudo o que te cercava. Maldito o dia em que seremos capazes de nos encarar para além da destruição, porque é aí que se inicia o maior empreendimento, que é construir repletos de dor e dúvida, insistindo permanentemente em recolocar-nos o jogo da identidade.
Empreender pedindo ajuda, como dói, como tritura ter de depender de um "outro", mas é precisamente aí que nos transtornamos "Outro", na primícia da elevação. Mirai esta paz de empreendimentos, até o vazio parecerá cheio, prestes a fazer-nos ceder à potência de uma miragem. Colocai-vos em bom lugar, o filme está quase a começar, vereis que as sombras encenarão o diálogo do mundo, em breve quererás encenar-te, religar-te, e sobrará, somente, a questão: o relojoeiro é ou não cego? Porque tudo depende disso, de saber se existe um Sentido, como se alguma coisa mudasse por o saber, como se algo fosse capaz de se criar num empreendimento lógico, num futuro onde algo se colocasse a partir do nada. Todo o verdadeiro empreendedor terá de ser o próprio deus criador, doutro modo limita-se a repetir o já feito. E é aí que empreender se trata de iludir, de conservar, de responder ao Princípio bastas vezes regurgitado. Não te dispas da ilusão, quiçá nada possa ser criado, empreende na ignorância.
Acaso deverás caminhar sozinho? Estamos, sempre, sós. Por isso mesmo, puxemos por outrem para nos partilhar a sua intrínseca solidão. É a "dois" que se perfaz um Sonho, precisamente para que ele não estagne o "Eu" numa memória macabra. Se há que criar uma sombra, façamo-lo juntos. Mais tarde, virá o arrependimento, parte relevante da equação. Não importa, porque um sonho tem incessantemente de arrepender-se, como de errar e fluir. Mas não percais a dúvida, a dois é sempre melhor, é pôr mais desafio na corrente dos mistérios que se anunciam. Quando quiseres impor o teu caminho, estarás, de facto, num caminho imperfeito, e isso também é bom, é verdade, mas empreender implica uma escolha, uma preferência, é impossível não empreender, como é impossível incomunicar.
TERAPEUTA E ESCRITOR
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