in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2022
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O trabalho adquire uma dimensão muito importante na vida do sujeito adulto, já que é usualmente um veículo de socialização, de autorrealização, de valorização e desenvolvimento pessoal, capaz de promover a mudança interna, influenciando profundamente a existência humana na sua busca de satisfação e evolução. Em contrapartida, pode igualmente acarretar descompensação, sofrimento, frustração, desequilíbrio e constituir-se como uma fonte de ataque à autoestima. Desta forma, um conflito profissional deve ser apreendido e observado na perspetiva da singularidade de cada sujeito.
A avaliação do meio face à investida do sujeito no seu trabalho atua como reforço, estruturação e confirmação das suas capacidades intelectuais/físicas, bem como da sua identidade. O trabalho é assim um dos eixos potenciadores de equilíbrio psíquico do sujeito, um mediador e uma oportunidade para alcançar uma maior saúde mental e plenitude. Deste modo, qualquer desequilíbrio oriundo deste meio pode causar um conflito intrapsíquico e/ou interpessoal.
Um conflito tem sempre aspetos objetivos, mas também apresenta aspetos emocionais e inconscientes. Uma queixa externa encobre sempre outras questões internas. O sofrimento sentido é oriundo da apropriação que o sujeito faz da realidade externa, da representação e leitura que ele faz da mesma, do significado que esta tem para ele, com base na sua própria história de vida, personalidade e estrutura emocional. Um sujeito pode ter excelentes condições intelectuais, mas a sua condição emocional interfere sempre.
A falta de comunicação e de escuta emocional no contexto profissional pode levar a interpretações erróneas e mal-entendidos, uma vez que interpretamos com base nos nossos sentimentos, naquilo que dada situação evoca em nós. A autocompreensão é valiosa para combater uma interpretação baseada na experiência passada e não na realidade. Somos mais suscetíveis a certos tipos de comentários com base no nosso sentir, independentemente da intenção do sujeito que profere as palavras. Muitas vezes, uma reação aparentemente exagerada numa dada discussão explica-se pelo significado inconsciente que está na origem da angústia do sujeito. Refletir e empatizar com o nosso sentir, antes de o expressar, favorece o entendimento e a empatia alheia. Assim sendo, uma consciência alargada ajuda a compreender e gerir a emoção, antes de qualquer reação.
Experiências de desqualificação, humilhação, desconfiança e/ou desvalorização podem ser gatilhos para a violência, pois o sujeito sente-se atacado e ameaçado. A frustração afetiva está na origem da raiva e da hostilidade. Em acréscimo, tais experiências podem reativar/exacerbar uma frustração prévia, alimentando o conflito. Designadamente, um dado comportamento de um colega pode evocar uma intolerável memória afetiva de um trauma passado. Como tal, um colaborador que se sentiu sempre desapoiado pela mãe, que sempre foi muito indisponível, pode exibir uma reação de zanga perante um colega que, pela segunda vez, não apoia a sua ideia, fazendo eco em angústias precoces. Outro exemplo, um colaborador cujo pai foi sempre muito crítico e desqualificante, pode reagir com tristeza e zanga perante uma crítica do chefe, embora envolta em outros demais elogios. O colaborador vai focar-se na crítica na medida das suas inseguranças e reagir de forma extrapolada. São exemplos de experiências pessoais que são reeditadas/reatualizadas no contexto profissional.
O mecanismo de deslocamento é ocasionalmente observável nas interações profissionais, no qual a agressividade é deslocada inconscientemente para uma pessoa que não é o real alvo da frustração inicial. Imaginemos um chefe a passar por uma fase complicada do ponto de vista pessoal, que desloca a sua angústia para com os seus funcionários, zangando-se numa situação aparentemente injustificada.
A promoção da qualidade de vida no trabalho, por via de mais autonomia, relativo grau de responsabilidade no cargo, mais recursos e feedbacks sobre o desempenho, potenciando o enriquecimento pessoal, previne situações de frustração/conflito interno ou externo.
Aquando de uma discussão perante um conflito iminente ou preexistente, a melhor forma de resolvê-lo passivamente e com sucesso é mostrarmos uma ampla compreensão e reconhecimento da posição do outro, de forma ao outro sentir-se acolhido, diminuindo a probabilidade de respostas defensivas, posições rígidas e críticas e expandindo a capacidade mútua de compreensão pela via empática.
Falar do que sentimos cria compreensão, aproximação, enquanto a zanga afasta e promove a agressividade. É ainda essencial abrir espaço para as dúvidas e atender ao tom de voz, bem como às palavras usadas. A escuta atenta das motivações e necessidades do outro favorece a sensibilização do interlocutor e promove o diálogo, no sentido de uma coconstrução e de uma solução comum.
PSICÓLOGA CLÍNICA E PSICOTERAPEUTA PSICANALÍTICA EM ESPECIALIZAÇÃO
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