Por Paulo Hayes
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2018
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No entanto, na doença e nos projetos, na profissão e nos objetivos, entre outros, devemos aplicar alguma resistência. Entenda-se que resistência não é, per si, negativa. Resistir é uma atitude natural na qual manifestamos um ´modus facere’ ou de encarar algum assunto correspondente à melhor opção disponível, num determinado momento da vida. Resistir é, também, acreditar que, mais tarde ou mais cedo, vamos receber os frutos resultantes da nossa conduta ética e espiritual. Resistir é, enfim, uma defesa: a dos princípios individuais, sociais, espirituais, que não devem mudar com a corrente das marés e com as modas temporárias, com aquilo que os outros nos dizem ou deixam de dizer.
Na vida espiritual, de acordo com algumas tradições, fala-se em ‘combate espiritual’, isto é, a sublimação da natureza das paixões e desejos inferiores em características mais sublimes na vida do espírito. A noite escura referida pelos místicos, relacionada com o lado negro da alma, é uma oportunidade para o praticante resistir e dominar os seus sentidos, sublimar a visão egóica que o afasta de uma realidade perfeitamente feliz. A purificação do coração, através de orações, meditação, análise e pensamento autorreflexivo, posturas psicofísicas acompanhadas da regulação dos ritmos respiratórios ou relaxamento profundo, ações positivas em prol do bem comum, são algumas das técnicas possíveis. É verdade que todas estas práticas implicam um esforço e devem ser supervisionadas por alguém com mais experiência, a fim de contornar ou mesmo evitar alguns dos obstáculos lançados pelo ego. Esta operação é inequivocamente difícil, implica resistência e esforço, mas é a única estratégia para a transformação interior que, por fim, desagua no esclarecimento intelectual e espiritual. A luz, referenciada em diversas tradições, é o fruto da experiência luminosa e uma recompensa do nosso esforço, alavancado pela resistência interior, da demanda no aperfeiçoamento interior.
A desistência poderá localizar-se exatamente nas antípodas da resistência. Não se desiste, jamais, da vida espiritual, como de toda a vida em geral. Resiste-se sempre, acredita-se sempre! Todas as mudanças são possíveis e as experiências passadas, como já foi referido, são uma escola da vida. Não desistir é precisamente resistir e simultaneamente persistir.
A resistência, por sua vez, implica compromisso, esforço e disciplina. Por exemplo, na meditação ou em outras técnicas espirituais, é dito que a prática deve ser firme e continuada durante um longo período.
É mais do que certo que, nas sociedades modernas, nós temos cada vez menos tempo. Melhor dizendo, temos mais tarefas e projetos para encaixar no mesmo tempo. Há que fazer uma escolha qualitativamente consciente pois a história do tempo é mais psicológica do que cronológica. Nós construímos a nossa realidade temporal e somos o resultado das nossas escolhas.
Pare um pouco e aproveite intensamente o seu tempo: o de Ser. Resista à passividade, por vezes imanente, da ideia popular de que não podemos mudar o mundo. Mude o seu mundo interior, resista e esforce-se por algum tempo de qualidade para a sua vida, de felicidade e conhecimento interior. Isto só pode ser feito através de um compromisso com uma prática espiritual: aquela que cada um escolhe e sabe que é melhor para si próprio.
DOUTORANDO EM HISTÓRIA E CULTURA DAS RELIGIÕES NA UNIV. LISBOA
FORMADOR DE YOGA, MEDITAÇÃO, YOGATERAPIA
www.paulohayes.com
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2018
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