in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2014
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Hoje em dia muito se fala em Partilhar. Responsabilidade das redes sociais que muito nos estimulam a divulgar frases e vídeos inspiradores, ou de tão absurdos e ridículos que são ficamos desejosos que os “amigos” assistam também.
Mas será que compreendemos o significado e importância desta ação? Será que só a usamos virtualmente e na Vida real nos limitamos a fugir de uma verdadeira construção de pontes com os outros, continuando a viver isoladamente e sem ligações?
Partilhamos convosco uma opinião sobre o tema. Sublinhamos que o que é apresentado é resultado de experiência pessoal e clínica. Não são verdades totais e absolutas. Cabe a quem lê, a si, retirar daqui o que lhe faz sentido. Ou seja, o que lhe diz respeito, o que lhe toca, o que fala de si e, por isso mesmo, lhe pode servir. E partilhar é isso mesmo. Partilhar é a ação de doar algo nosso a outro, de dividir algo nosso com o outro … na amizade, em família. Não é impor, é dispor. Não é limitar, nem condicionar, é possibilitar. Partilhar implica sempre a existência de uma ligação. Uma ligação com, pelo menos, dois lados. Um que dá, outro que recebe, dois que ganham. Em equilíbrio, esta ligação requer reciprocidade. Quem recebe, irá dar.
Assim sendo, estaremos nós preparados para partilhar o que somos com os outros? E, estaremos nós preparados para receber o que os outros querem partilhar connosco?
Dar e receber. Este é o movimento equilibrado da partilha.
Quantos de nós nos habituámos a dar, constantemente. Quantos de nós pensamos que amar alguém é dar sem limite, e tantas vezes verbalizando que o que fazemos não requer devolução. Convencendo-nos, a nós e aos outros, que o que fazemos é tão grande que chega para os dois. Será esta uma dinâmica de dependência e manipulação. Será esta a melhor forma de partilhar os nossos sonhos?
Amar é partilhar. Amar sem troca, sem partilha, sem ligação, não é amar é “amamentar”. É alimentar o outro. E a nós também. Sim, porque ao alimentarmos o outro ficamos preenchidos. Mas preenchidos de quê? De uma sensação de preenchimento que só se sacia com a permanência desse ato. E este movimento constante e permanente, torna-se um vício. E como qualquer vício, nocivo a todos. Neste movimento nocivo retiro ao outro, a maioria das vezes, a possibilidade de retribuir. Habituo-o a receber. Sem olhar para nós. Habituam-se ambos a este ciclo.
É importante sublinhar que este ato de dar, nocivo, é transversal a todas as relações. Quem se habitua a dar sem limite, fá-lo na sua relação íntima, fá-lo com os filhos, com os pais, com os colegas, com os amigos. Até um dia.
Pois, até um dia. Nada dura para sempre. Um dia, que irá surgir no limite de cada um, estaremos exaustos de dar e iremos cobrar. Nessa altura o cansaço é maior que a sensação de bem-estar que o ato de dar sempre nos trouxe. A dor será maior.
Muitas vezes, para os mais distraídos e mais focados no exterior, esta dor surge em forma de doença. Física, psicológica e/ou espiritual. E é nessa altura que iremos cobrar. Olhar para tudo o que fizemos pelos outros e reparar que nada nos foi devolvido.
Mas os outros não são os responsáveis por isso. Somos nós.
Fomos nós que nos habituámos, a nós e aos outros, a dar sem receber. Inclusivamente a não saber receber quando os outros queriam cuidar de nós. Muitas vezes sem saber receber um presente. Muitas vezes sem criar espaço para o movimento do outro.
Como pode compreender, este dar não é partilhar.
Partilhar é o movimento evoluído de estar em relação com o outro, com os outros que nos acompanham nesta Vida. E estar numa relação madura, adulta e consciente, é estabelecer relações de interdependência. Relações onde se cria espaço interno e externo, para a partilha. Onde desenvolvemos em conjunto com o outro, um terceiro elemento, a nossa união. Onde equilibradamente cada um doa parte de si.
Partilhar uma relação com alguém é estabelecer uma parceria. Onde existe independência e ligação. Com a consciência de que o outro, seja um parceiro íntimo, um filho ou um amigo, é alguém livre e semelhante a nós. Em relações estabelecidas numa verdadeira base de amor genuíno, o outro não é inferior ou superior a nós. É alguém que merece, tal como nós, o respeito e a possibilidade de dar e receber.
Precisamos encontrar o melhor de nós para chegarmos ao melhor do outro.
Lembre-se: Para partilhar a sua felicidade é necessário optar por ela. Partilhe-se!
SUSANA MILHEIRO SILVA PSICÓLOGA CLÍNICA www.susanamilheirosilva.com www.facebook.com/pages/FormasdoSER/435792566450434 in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2014 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |