
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2025
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Caminhar é uma prática profundamente terapêutica. Quando caminhamos, especialmente de forma intencional, somos convidados a habitar o momento presente. Cada passo conecta-nos ao ritmo do nosso corpo, ao som dos nossos pés no chão, ao bater do coração. É no simples ato de colocar um pé à frente do outro que muitas vezes encontramos aquilo que nos falta no dia a dia: a consciência de que estamos vivos e em movimento.
Em clínica, costumo sugerir aos meus clientes caminhadas conscientes. É um exercício que liga corpo e mente, como uma forma de meditação ativa. Inspirar, sentir o ar preencher os pulmões; expirar, observar os pensamentos a dispersarem-se. Ao caminhar, aprendemos que o ritmo da vida não precisa ser frenético – ele pode ser harmonioso, respeitando os limites de cada um.
Caminhar como Metáfora da Vida
O caminhar, na sua essência, é uma metáfora para a própria existência. Muitas vezes, ao longo da nossa jornada, tropeçamos, caímos, desviamo-nos do percurso. Os obstáculos surgem: pedras que exigem desvio, trilhos difíceis de enxergar, tempestades inesperadas.
Na terapia, encorajo os clientes a olharem para os seus caminhos com curiosidade, não com julgamento. Onde estão agora? Como chegaram aqui? E, mais importante, para onde desejam ir? O caminhar não exige pressa, exige constância. Cada passo, por mais pequeno que pareça, é significativo.
Superando os Obstáculos no Caminho
Os obstáculos que encontramos na vida são inevitáveis – traumas do passado, conflitos internos, medos, inseguranças. Mas cada um deles é também uma oportunidade de crescimento. Na psicoterapia integrativa, trabalhamos não apenas com a mente, mas com o corpo e as emoções, oferecendo ferramentas para superar os desafios com mais clareza e força.
Por exemplo:
- Técnicas Somáticas: Quando os clientes se sentem bloqueados emocionalmente ou com ansiedade, recomendo práticas como a respiração diafragmática e o grounding (enraizamento). Estas técnicas ajudam a acalmar o sistema nervoso, reduzindo o impacto do stress e restabelecendo o equilíbrio interno. Imagine-se a caminhar descalço na terra, sentindo o chão sob os pés. Este simples exercício pode trazer uma sensação de segurança e conexão consigo mesmo.
- Visualização Guiada: Para aqueles que se sentem perdidos, convido-os a imaginar um caminho à sua frente. Que obstáculos veem? Como se sentem? O que precisariam para continuar? A visualização permite que enfrentemos simbolicamente os desafios antes mesmo de os encarar na vida real.
- Movimento Corporal Livre: Por vezes, as emoções ficam “presas” no corpo. Caminhar, dançar ou mesmo balançar os braços ao ritmo da respiração pode desbloquear tensões acumuladas. Durante uma caminhada consciente, a fluidez do movimento ajuda a mente a processar questões difíceis.
O Caminho Interior e o Valor da Superação
Os obstáculos externos são muitas vezes reflexos de bloqueios internos, não por magia, mas porque estamos em interação humana ininterruptamente. Sabemos que comportamento gera comportamento, e as atitudes que temos têm também como base diversas crenças desadaptativas impregnadas na nossa “tela mental”. Por isso, o caminho mais desafiador nem sempre é aquele que trilhamos fisicamente, mas aquele que percorremos dentro de nós. Caminhar com as nossas sombras – o medo do fracasso, a autocrítica ou a tristeza – exige coragem.
Na psicoterapia, integramos várias abordagens para ajudar os pacientes a enfrentarem esses desafios. Por exemplo, através da auto-compaixão aprendemos a tratar-nos com gentileza, aceitando os erros como parte da jornada. Com a atenção plena, aprendemos a observar os nossos pensamentos e emoções sem sermos dominados por eles.
Lembro-me de uma cliente que partilhou oralmente acerca do ato de enfrentar os seus medos como atravessar uma ponte frágil sobre um rio turbulento. No início, o medo de cair era paralisante. Mas, passo a passo, com apoio e ferramentas, ela percebeu que a ponte não era tão frágil quanto parecia. O caminhar tornou-se uma metáfora para sua força e resiliência.
Convidar o Caminhar como Estilo de Vida
Caminhar é uma prática acessível a todos. Pode ser um passeio por um parque, uma caminhada pela praia ou mesmo um trajeto quotidiano. É o "como" que importa mais do que o "onde". Pode ser solitário ou acompanhado, descalço ou calçado, em silêncio ou com as conversas que tanto nos enriquecem.
A minha sugestão é esta: na próxima vez que sentir que a vida está estagnada ou confusa, caminhe. Não precisa de um destino fixo. Apenas comece. Escute os passos, a respiração, os pensamentos. Leve consigo as técnicas que funcionam para si – a respiração, a visualização, o simples ato de se mover.
Porque, no fundo, a vida é isto: um grande caminho, repleto de desafios e superações. E cada passo, por mais pequeno que seja, é uma vitória.

PSICOTERAPEUTA, MESTRE EM PSICOLOGIA CLÍNICA, CO FUNDADORA DA COMUNIDADE CHANGEMAKER
changemaker.pt
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