
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2016
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Estes são os dias que nos devem preocupar. Quando tudo corre sobre rodas, a vida vai fluindo naturalmente sem sobressaltos. O problema é quando estes dias difíceis teimam em permanecer. Parece que a densidade da vida circula à volta da nossa cabeça sem se encontrar uma saída para tornar mais leve o que parece ser pesado. Em vez de nos sentirmos como bailarinos a dançar nas nuvens, sentimo-nos como elefantes em lojas de porcelana. No entanto, não temos varinhas mágicas que nos permitam resolver de uma só vez os problemas que nos afligem, nem pós de perlimpimpim que nos mudem vida de um momento para o outro. As varinhas mágicas só existem nas histórias de encantar. Apesar disso, a realidade permite-nos fazer algumas coisas que ajudam vida a ganhar encanto.
Todos temos os recursos mínimos para transformar o nosso dia-a-dia. Existem estratégias que nos ajudam a fortalecer. Esta força de vida que nos dá a alegria de viver é exclusivamente nossa, interna, por muito incrível que isto possa parecer. A força está dentro, independentemente das circunstâncias exteriores. Isto parece um estado tão difícil de alcançar que na maior parte das vezes nem perdemos um bocadinho de tempo a pensar sobre o assunto. Sobre o que cada um pode fazer por si próprio, de acordo com a sua individualidade e com as suas circunstâncias. Não existem receitas. Apenas sugestões de como fortalecer todas as dimensões pessoais (corpo, mente e espírito), que se interligam, de uma forma adaptada às nossas especificidades.
O primeiro passo para se transformar o nosso elefante grande e pesado em qualquer coisa mais pequena e leve é afastarmo-nos um bocadinho dele. Se tivermos colados à sua pele, não conseguimos ver outra coisa. É enorme, cinzento e pesadíssimo. E sentimo-nos uns franganotes frágeis à beira de tão imponente animal. O mesmo acontece com os problemas na nossa vida. Se tivermos imersos no tal problema, com o nariz coladinho no seu âmago, este parece-nos imenso e não conseguimos vislumbrar mais nada à volta. E sentimo-nos fracos perante o que estamos a ver. Se nos afastarmos para aí uns 50 m já conseguimos ver o elefante e o ambiente que o rodeia. Afinal, já não parece tão grande. Afinal, embora seja cinzento, existe um mundo colorido à sua volta. Afastando-nos do problema já conseguimos ver qual é o contexto em que está inserido e podemos não lhe sentir a labareda. Já não queima. Conseguimos ter uma perceção mais fria e lúcida da sua verdadeira dimensão. Este será, como se referiu, o primeiro passo para analisarmos o que nos deixa pesados. Alguma distância permite-nos colocar as coisas no seu lugar. E perceber que uma unha encravada é só uma unha encravada apesar de nos aborrecer o corpo todo e de nos maçar a cabeça. Mas é apenas uma unha encravada que podemos tratar. As unhas encravadas não são lá muito boas para se conseguir dançar nas nuvens.
É preciso resolverem-se os assuntos que podemos resolver. Esta distinção é muito importante para atingirmos o equilíbrio e para nos sentirmos fortes e peitudos para o dia-a-dia. Resolver o que depende de nós e aceitar o que não depende de nós para ser resolvido. Não adianta focalizar naquilo que não está nas nossas mãos. Gasta-nos muita energia e enfraquece-nos.
Se o primeiro passo para o fortalecimento é encontrar a distância certa para analisarmos os problemas, o segundo é perceber o que depende ou não de nós. Esta destrinça é fundamental para a manutenção do nosso equilíbrio. E escusamos de sofrer demais por aquilo que não nos é possível alterar. Para além destas premissas fundamentais na forma de nos relacionarmos com o que a vida nos apresenta, há um conjunto de coisas que podemos fazer para recarregarmos as baterias e enrobustecermos o nosso bem-estar. E o bem-estar tem uma força danada! Contagia todo o nosso “Eu” bem como o ambiente à nossa volta. O bem-estar pode conquistar-se todos os dias, de forma simples. Tudo pode ser feito em conformidade com cada indivíduo.
A questão é a seguinte: “O que posso fazer que me deixe alegre, leve e bem-humorado?” Pode começar muito devagarinho. Não é preciso ir para um SPA ou fazer um cruzeiro no Nilo. Pode começar com o que tem à porta ou mesmo por debaixo do seu nariz. É correr na marginal? É caminhar? É ir ao ginásio? É cozinhar? É colecionar cromos? É dançar? É meditar? Jardinar? Ler? O que é que o faz sentir-se bem? O que é que lhe coloca um sorriso no rosto sem que dê muito por isso? O que é o faz ficar um bocadinho cansado mas pleno de satisfação? Descubra. Descubra e, de forma disciplinada embora não castradora, tente fazer um bocadinho todos os dias. Tente amealhar fichas de bem-estar. Tudo o que nos faz sentir bem, fortalece-nos. Reforça-nos as estruturas internas e, algures, no mínimo, haverá um elefante cor-de-rosa que ganha asas e sapatilhas de ballet. Isto no mínimo. Porque no máximo, o elefante já não será um elefante mas sim uma ilusão que teimava em esconder um bailarino bem estruturado, forte, alegre e a dançar nas nuvens.

PSICÓLOGA
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in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2016
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