in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2019
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Como se pode ver, apenas por algumas das designações associadas à depressão, percebemos que as abordagens, descrições e estudos sobre este tema, são inúmeros, e, desde há séculos, feitos maioritariamente por psiquiatras e psicólogos. Não se justificaria neste espaço, discriminar, analisar e descrever cada termo. Prefiro assim abordar o tema, falando de pessoas com depressão e começando por referir o modo injusto como tantas vezes são tratadas.
“Depressão, depressão… não quer é trabalhar!”; “Se tivesse com que se entreter não tinha depressão!”; “As pessoas só pensam nelas, é por isso que têm depressões!”; “Eu não tenho tempo nem feitio para ter depressões”; “Isso é coisa de gente fraca.”
E poderiamos continuar com este tipo de frases, mas penso que já perceberam a ideia.
Tal tipo de afirmações são injustas, discriminatórias do sofrimento e, na maior parte das vezes, falsas.
As pessoas não escolhem estar deprimidas. Tal como não escolhem ter gripe. É certo que podem não se ter resguardado o suficiente, podem não se ter alimentado convenientemente, etc, mas na medida das suas possibilidades, não escolheram ter uma gripe, partir uma perna, ter diabetes, serem cegas, tal como não escolhem ter uma depressão.
A depressão não é um estado de profunda tristeza.
A tristeza, mesmo quando é profunda, tem uma causa, está associada à perda de algo ou alguém, ou seja reconhece-se a causa da tristeza. A tristeza é uma emoção que sendo vivenciada apropriadamente, permite que nos readaptemos a uma nova realidade. Negar a possibilidade de hibernar aos animais que disso necessitam seria contribuir para a sua doença e morte, negar a possibilidade de entristecer ao ser humano, tem precisamente o mesmo efeito.
Na depressão há uma sensação de abandono, de vazio e sim, de tristeza sem se saber porquê, sem se compreender donde vem a dor, como se os motivos fossem simultaneamente muitos e nenhuns e se reunissem num vazio insuportável.
Muitas vezes ouço esta frase:
“Ó Drª, é que eu não tenho motivos para me sentir assim… até tenho uma vida boa...”
Pois, motivos há, e geralmente de vária ordem, genéticos, educacionais, traços de personalidade, etc, podem estar todos presentes ou não, e nem sempre estão ao alcance do próprio, nem dos que o rodeiam, gerando uma sensação de inadequação que só piora o quadro de mau-estar.
Há circunstâncias da vida que nos levam a sentir mais fundo dores, que aparentemente estavam esquecidas, memórias que arquivámos de forma a que não nos magoassem, estórias que nos fomos contando insistentemente para nos protegermos, mas que agora insistem em mostrar que “o gato foi escondido com o rabo de fora”. Parece que uma parte de nós suplica por que olhemos para ela com a atenção e o carinho que nunca teve. Receamos que essa nova forma de olhar, nos faça aumentar a dor por nos recordar o que faltou. E, por isso, tentamos evitar essa dor, a verdadeira tristeza, procurando anestesias, distrações, trabalho em excesso, etc, seguindo em frente, tantas vezes sem consciência de que o fazemos à custa de nós próprios e do mau-estar que causamos nos que nos rodeiam, sem, contudo nos conseguirmos sentir bem.
Se é certo que nem sempre nos podemos sentir bem, também é certo que não temos que viver em contínuo sofrimento. Temos de aprender a tolerar desconfortos e tristezas e perceber como os deixar partir. Tudo cumpre uma função, depois de cumprida é tempo de deixar ir.
Só habitando tristezas e zangas não vividas, é possível voltar a dar passos mais seguros e confiantes. Este processo, feito com um psicoterapeuta, permite experienciar com apoio e compreensão, sentir velhas e novas emoções com menos receio, descobrir e construir novos significados com ajuda, e sentir-se desafiado a habitar o seu próprio ser e a vida de um modo mais inteiro e menos sofrido.
Quantas vezes senti que teria de ser diferente (não ser eu) para me sentir amado?
Quantas vezes não chorei as minhas perdas, pensando que não tinha esse direito?
Quantas vezes não chorei a minha dor, porque isso seria ser fraco?
Quantas vezes me calei, tendo canalizado a zanga para mim?
Escolhi fazer assim? Não. Aprendi. Senti, que seria o melhor para mim - e provavelmente foi durante algum tempo -, mas agora já não funciona, parece que fui largado num vazio sem nada a que me agarrar, e, no entanto, sei que não é verdade, mas não consigo sentir, nem agir, nem ver o brilho que os outros me dizem que a vida tem, como se sofresse de uma cegueira, que me impede de ver, duma paralisia que me impede de agir e de uma surdez que me martela continuamente as mesmas frases no meu cérebro. Sinto-me num túnel escuro, perdido sem presente e sem futuro.
Acha que alguém escolhe sentir-se assim?
A Depressão deve ser levada a sério.
As neurociências já mostraram que nas pessoas com depressão, as conexões neuronais diminuem, quer isto dizer, que há caminhos no cérebro que se vão deixando de fazer, ficando apenas alguns a funcionar.
A investigação mostra que a psicoterapia permite que outros caminhos comecem a ser explorados e que as conexões neuronais aumentem de novo, permitindo novas formas de ver a realidade.
Em casos mais graves, para além de psicoterapia é necessária medicação psiquiátrica adequada a cada caso. Por vezes, torna-se necessário começar pela medicação, antes de ser possível iniciar a psicoterapia.
Exercício físico e alimentação cuidada são também importantes para o reestabelecimento.
PSICÓLOGA E PSICOTERAPEUTA
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