Por Ana Infante
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2016
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Quem já fez o caminho de Santiago lembra-se certamente das setas do caminho que nos guiam em direção ao nosso destino. Na vida temos os mesmos guias, mas temos que os ver com os olhos do coração.
Acredito que é através da experiência, das sensações que o nosso corpo nos proporciona, na interação da nossa alma com o seu companheiro corpo, que passo a passo delineamos o nosso caminho nesta vida. Podemos tentar orientar outros, com as nossas palavras, mas, no fundo, cada um constrói, a seu tempo, a sua vida. Acredito que apenas através do nosso exemplo de Ser, o que somos hoje, podemos aparecer no reflexo do outro para que ele se veja como é e, assim, servirmos de bússola no seu próprio caminho.
Palavras são apenas palavras, sons vazios e confusos, inundadas de mal-entendidos e conflitos, mesmo quando queremos dizer exatamente as mesmas coisas. Só quando conectamos as palavras ao ressoar do corpo é que as podemos transcender ao seu verdadeiro significado, ao silêncio da autêntica comunhão entre a matéria do corpo e a energia da alma. Quando não conseguimos fechar os olhos e silenciar as vozes para ouvir a mudez da nossa relação para connosco nunca nos conseguiremos relacionar e verdadeiramente comunicar com outros.
Não há atalhos para Sermos, apenas as experiências, do dia a dia, que nos possibilitam, se o permitirmos, alcançar o caminho da nossa alma. Também não existem boas ou más experiências. Ouço muitas vezes, e eu própria já o disse, que não devemos aceitar migalhas, que merecemos muito mais do que temos hoje. Porque será que as condicionamos a “coisas poucas”, sem valor nenhum? Não existem migalhas senão aquelas que acreditamos que o são. Creio nas migalhas como oportunidades, dádivas, lembranças de que somos exíguos e colossais ao mesmo tempo. Nós somos “migalhas” também.
Exigimos e prescrevemos colossais desejos cobertos do véu do medo de Ser pequeno, de Ser Nada, de Ser silêncio. Temos fome de ser grandes e que nos contemplem, devido ao medo de não nos encontrarmos nos nossos próprios olhos. Não nos amamos. O Amor, tão afamado e malfalado, tão ambicionado e procurado, atemoriza de morte. Todos o procuram, mas poucos o conseguem encontrar. É preciso morrer para o fazer. A natureza é sábia nas suas demonstrações de vida-morte-vida. São poucos os loucos que se deixam desaparecer para renascer mais louco ainda.
Citando Lara Brenner : “Dizem que uma vida sem prudência é loucura e que somente um louco é capaz de, corajosamente sondar a sua alma para descobrir que cautela excessiva é espelho de medos alheios.” Tenho esperança num mundo louco. De uma loucura que nos leva a querer sentir tudo, a explorar, a metamorfosear, numa dança continua com a natureza da vida, entre os caminhos do nascer e do morrer. Tenho esperança num mundo onde o medo seja a bússola que nos leva a mergulhar no segrego das nossas prisões e libertá-las. Tenho esperança num mundo onde cada um consiga seguir o seu próprio caminho, abraçando a solidão que nos invade por termos a coragem de sermos mestres de nós próprios.
O caminho não é reto, é recheado de montanhas esfomeadas pelos nossos passos ainda pesados. A Terra pede que a nutramos com os nossos fardos e que larguemos as energias estagnadas. Quando nos curamos, curamos a Terra. A mochila vai ficando mais leve. As subidas escarpadas continuam sempre, mas a leveza do nosso ambicionado Ser convida-nos a seguir em frente.
Como sabemos que caminhamos pelos trilhos do nosso destino? Deixando fluir. Sem urgência de chegar. Há alturas que voamos e outras que a gravidade nos cola à terra e para dentro dela. É no meio que nos podemos encontrar.
Deixa Fluir…e como Juan Pablo II disse ao chegar a Santiago, “Vuelve a encontrarte, Se tu misma.” (9 de Novembro de 1982)
Bom Caminho.
ENFERMEIRA DE CUIDADOS PALIATIVOS NA EQUIPA LINQUE, DOULA, TERAPEUTA DE REFLEXOLOGIA E MASSAGEM DE CONSCIÊNCIA CORPORAL E EMOCIONAL
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in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2016
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