in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2024
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É importante compreender que a capacidade de confiar nos outros, está intimamente relacionado com a confiança que sentimos por nós mesmos. Se não confiar em mim, como é que sei o que é a confiança? Se assim for, terei tendência a estabelecer relacionamentos desequilibrados e com elevada dependência e/ou desconfiança.
E como aprendemos a confiar em nós mesmos?
A confiança aprende-se no seio do ambiente familiar. São os pais que nos transmitem segurança desde o nascimento para sermos nós próprios, sem receios. São também os pais que nos ajudam a criar os alicerces da vida, por isso quando somos ainda crianças, numa dinâmica familiar saudável, os pais são os pilares do desenvolvimento saudável. Dão-nos em criança estrutura, confiança e vontade de crescer, explorar o mundo e enfrentar os desafios da vida.
Em situações de desequilíbrio, onde não é criado uma relação de confiança entre os progenitores e filhos, a pessoa desde criança vai procurar mecanismos e formas alternativas de sentir essa confiança (procurar outro elemento que não os pais, alhear-se da vida e não ser pró-ativo na busca de emprego, entre outros). Este mecanismo chama-se de Bridging.
Como se cria a confiança?
A confiança, na sequência do que abordamos anteriormente, advém do termo inglês Bonding ou Attachment, traduzido para português como Vínculo. É a qualidade do vínculo que estabelecemos com os progenitores a base da confiança. Na década de 60, o investigador Harry Harlow, fez diversas experiências e investigações com macacos para compreender quais os determinantes para a criação de vínculo. O que se percebeu com a experiência foi que o fator determinante de vínculo foi o TOQUE em detrimento da alimentação. Postulou-se assim que a alimentação pode ser vista como uma necessidade meramente fisiológica de sobrevivência, mas o toque é o que permite ao indivíduo estabelecer vínculo e confiar em si próprio.
Podemos pensar que a confiança só se cria após o nascimento e quando a criança já tem “consciência do mundo” e capacidade de pensar e memorizar, mas não. A construção da confiança inicia-se antes da concepção, nas ideias, crenças e vivências dos pais sobre o que será a gravidez e o futuro com filhos. É habitual, pais com história de aborto, em gravidezes futuras, construírem relações mais protetoras com os seus filhos, com níveis mais elevados de dependência e proteção por parte dos pais, não permitindo à criança desenvolver a sua confiança interior. O período intra-uterino é também um período importante. O desenvolvimento cerebral inicia-se na 3ª semana de gestação, sendo que a criança vai ao longo da gravidez tomando consciência do que a rodeia, dos sons, dos movimentos e sobretudo do estado anímico da mãe. Por isso é muito importante um planeamento correto pré-concepcional e um acompanhamento ao longo da gravidez, de forma a acompanhar os parâmetros físicos de crescimento do bebé, mas também o estado anímico dos pais, as suas crenças sobre o futuro e o que envolve a dinâmica familiar no seu todo.
Após o nascimento, como em qualquer situação, a confiança deve ser doseada. Se os pais forem superprotetores a criança não vai sentir necessidade de criar a sua auto-confiança e em adulto irá ressentir-se disso. Se a confiança e o vínculo não forem estabelecidos, a criança irá crescer insegura, com um sentimento interior de solidão e com dificuldade em desenvolver vínculos emocionais saudáveis consigo e com os outros.
Como já se compreende a confiança passa de pais para filhos e de filhos para netos, sendo um tópico que pode ser avaliado de forma transgeracional ao longo da família. Podemos olhar e refletir sobre cada um dos nossos antepassados. Qual foi o seu contexto? Quais foram as suas vivências? Como era a relação com os seus pais e restante família? Será que lhes ensinaram a ter auto-confiança?
Em suma, penso que é necessário uma boa estrutura para se poder crescer, tal qual, como uma árvore, sem boas raízes a árvore não consegue crescer vigorosa e à mínima rajada de vento mais forte a árvore cai ao chão.
A confiança manifesta-se em todas as áreas da nossa vida: familiar, social, laboral, etc. É comum, esta temática manifestar-se como um padrão nas diversas áreas. Se tivermos o tema da confiança bem estabelecido internamente e de forma saudável, iremos transmitir essa confiança na vida familiar, nas nossas relações, no nosso trabalho e até nas atividades rotineiras do dia como conduzir ou quando temos que tomar decisões. Convido-te a refletires sobre o tema da confiança, olhando para qualquer uma das áreas da tua vida e veres de que forma a confiança se manifesta. Em que situações me senti confiante? O que preciso para me sentir confiante?
Devemos olhar para a confiança não para fora, à procura de algo ou de alguém que nos preencha este sentimento, mas fazer antes uma reflexão interna, olhar para nós mesmos e percebermos quais as nossas lacunas e onde devemos reforçar as nossas raízes para dar suporte ao tronco, às folhas, às flores e aos frutos.
Todos confiamos em algo, só temos que aprender a confiar mais em nós mesmos.
MÉDICO MEDICINA GERAL E FAMILIAR , CONSTELAÇÕES FAMILIARES, HIPNOTERAPIA, OUTRAS TERAPIAS ALTERNATIVAS
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