in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2015
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Na adolescência escondemos e negamos qualquer traço que nos faça parecer crianças e tentamos a todo o custo acumular direitos que acreditamos merecer por ter mais alguns anos no cartão de cidadão. Chegando à idade adulta desejamos intensamente regressar à fase anterior. Relembramos com saudade os tempos de faculdade, os amigos, os namorados e todas as mudanças que marcam um adolescente, antes vistas negativamente.
À medida que envelhecemos e perdemos capacidades, somos invadidos pela nostalgia do passado, recusando-nos a aceitar a realidade em que nos encontramos. Se repararmos, em nenhuma das fases anteriores estamos realmente satisfeitos com a nossa condição, preferíamos estar sempre um passo atrás ou dois à frente. Mas, do mesmo modo que não chegamos aos 18 anos sem ter sido crianças; não deixamos necessariamente de o ser quando somos Adultos.
Não é por acaso que se diz que as crianças são o melhor que há no mundo. De facto, há uma série de caraterísticas que as torna especiais e que todos gostaríamos de manter. Talvez assim, existisse mais paz. Talvez assim fossemos pessoas mais verdadeiras connosco próprias e honestas com os outros. Talvez nunca perdêssemos a lealdade por um amigo ou deixássemos de nos queixar pelo “pouco” que temos. Talvez tudo isso fizesse de nós melhores filhos, melhores pais, melhores pessoas. Uma criança tem uma maior capacidade de perdoar e de amar. Vê o mundo de forma simplificada e não precisa de muito para estar feliz; inventa e reinventa-se todos os dias através das brincadeiras e normalmente consegue solucionar todos os seus problemas. São sonhadoras, espontâneas, positivas, descontraídas, ingénuas, recetivas, contagiando todas à sua volta. Claro que nem sempre há crianças assim, mas espera-se que esta seja a ideia aproximada de uma infância saudável, de um período em que tudo tem um impacto muito importante na construção da identidade e da personalidade da “futura pessoa crescida”.
Sabemos que os acontecimentos que marcam a infância determinam em grande parte a vida adulta, em termos de valores, de ideais, de objetivos, de dificuldades ou facilidades. Assim, se tivermos sido crianças saudáveis teremos uma maior probabilidade de ser adultos igualmente saudáveis, isto é, a forma como vivenciámos as situações ao longo da vida, o significado cognitivo e emocional que lhes atribuímos, terá impacto no nosso funcionamento psicológico futuro.
Quando somos crianças temos uma perspetiva diferente sobre a vida e as pessoas, sem grandes esquemas mentais. Se por um lado a experiência nos confere maturidade, a qual é importante para sobrevivermos; por outro, pode influenciar as expectativas e a motivação com que lidamos com as situações. Quando deixamos de ser crianças, apercebemos-nos de que as conquistas surgem paralelamente a um mundo de dificuldades e obstáculos que temos que ser capazes de ultrapassar diariamente. Torna-se então imprescindível utilizar estratégias eficazes que possibilitem e previnam a nossa saúde psicológica. É aqui que nos podemos servir do exemplo das crianças, da sua natural positividade, alegria, simplicidade, bondade. Tornarmos-nos pequeninos perante a grandeza que é a nossa vida.
Muitas vezes a saúde física prega-nos também algumas partidas. É um facto que nem sempre a conseguimos preservar, mas podemos e temos obrigação de ser preventivos todos os dias. Porque é que obrigamos os nossos filhos a comer fruta e a beber água todos os dias e nem nos preocupamos se o fazemos também ou não? (Alimentação saudável!). Porque é que quando éramos pequenos praticávamos natação, futebol, equitação e hoje em dia nem um abdominal fazemos? (Desporto!).
Porque é que “é importante tirar os miúdos de casa ao fim de semana e pô-los em contacto com a natureza”? Talvez porque qualquer um de nós precisa de respirar ares menos poluídos, ver paisagens diferentes e aproveitar o que esta tem de melhor, tal como o mar ou o campo (Sair da Rotina!).
E porque é que à mínima dor de cabeça levamos os nossos filhos ao médico, quando nós nem um check-up anual fazemos? (Rastreios médicos!). Exigimos que as crianças durmam uma média de 8 horas por dia, mas se nós ficarmos duas noites sem dormir, não tem problema. (Respeitar o sono!).
Porque é que protegemos os nossos filhos dos perigos e vícios a que estão sujeitos e não o fazemos connosco? (Evitar situações nocivas!). Na infância defende-se o convívio como algo extremamente importante para o crescimento pessoal e social. Porém este deve estender-se a todas as faixas etárias, sendo um forte indicador do bem-estar do individuo (Mais relações sociais!).
Será que é só quando se é pequenino que importa o banho diário, os dentes lavados, a roupa limpa, os produtos de confiança? Claro que não, é sempre extremamente importante e com o ganho de responsabilidade torna-se ainda mais (Higiene!). Também não são só os miúdos que devem reduzir o número de horas passado em frente ao computador ou à televisão, os adultos precisam de ser menos dependentes do mundo tecnológico, nomeadamente de se desapegar do telemóvel e redes sociais, protegendo a visão e o cérebro (Menos tecnologia!).
Por último, e não menos importante, é o Cuidado com a exposição solar! Se as crianças têm que estar pintadas de branco quando estão na praia, porque é que nós ousamos desafiar os efeitos do sol, tendo conhecimento dos riscos que tem tanto para a pele como para o resto do corpo?
As dez situações anteriormente apresentadas representam hábitos de vida saudável que são especialmente enfatizados na infância mas que devem constituir uma preocupação durante toda a vida. A infância é sem dúvida uma fase protegida e de maior cuidado tanto com o corpo como com a mente. Mas será que não deveremos redobrar essa atenção pela vida fora? Não é por sermos adolescentes, adultos ou velhinhos que necessitamos de menos cuidados, pelo contrário. Não queiramos deixar de ser crianças!
PSICÓLOGA CLÍNICA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL
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