in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Uma possível razão prende-se com a nossa necessidade básica de segurança. Aquilo que conhecemos bem, as “nossas” pessoas, os locais onde nos deslocamos regularmente, as tarefas que realizamos, geram sensações de maior ou menor conforto, mas acima de tudo fazem parte do meio em que a nossa identidade está habituada a se mover. Ou seja, sem previsíveis surpresas. Mas na realidade trata-se de uma ilusão. Com frequência sucedem-se eventos de vida que não antecipámos e nos obrigam a adaptarmo-nos a novas realidades.
Viver “agarrado” à ilusão de que temos o poder de guardar para sempre aquilo que gostamos e evitar o que nos pode causar danos à nossa acostumada tranquilidade, compromete o nosso estado de ânimo e fragiliza a nossa saúde em geral. Na verdade, quanto maior for a nossa capacidade de nos adequarmos à nova realidade que a vida nos “presenteia”, mais evoluímos, crescemos enquanto seres humanos, tornamo-nos mais maduros. Mas, se aceitamos bem o que nos traz bem-estar, já a dor que surge, gostaríamos que fosse efémera. Sabemos que o que sentimos não durará para sempre, que vai passar também, mas o tempo em que se manifesta parece infinito. A maioria de nós carece de competência emocional para lidar com a frustração, a dor psicológica, ou mesmo a física. Crescemos sob os conselhos de quem nos quer bem e proteger, com a crença que devemos ser ou nos mostrarmos fortes perante os outros.
Desde tenra idade somos levados a tentar ignorar a dor. Nos primeiros passos, ao cairmos, se ficamos com um joelho esfolado ou uma mão arranhada, ouvimos: “Já passou!”
Esta incoerência entre o que a criança está a sentir no momento e o que lhe dizem, gera um mecanismo de rejeição como via para “ocultar” a dor. Daí ser difícil aceitarmos, acolher e observar desde um outro estado de consciência, que os estados de desconforto emocional são também impermanentes.
Certamente que a nossa perceção sobre a transitoriedade da dor seria diferente se desde a infância tivéssemos escutado: “Sei que está a doer, mas não tenhas medo, vai passar.”
A “Organização Mundial de Saúde” (OMS) define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades”. Assim, a par com uma alimentação equilibrada, algum exercício físico moderado, é igualmente importante que nos dediquemos a observar a nossa corrente de pensamentos como um meio de preservação da saúde; aquilo que nos causa aversão e o que desperta avidez; o que evitamos e o que perseguimos; o que queremos e o que precisamos genuinamente. Existem várias práticas que estimulam o incremento do foco de atenção no momento presente e contribuem para alcançar estados de consciência que nos apoiam neste propósito.
A meditação formal, exercícios de mindfulness, ou modalidades de movimento corporal como o yoga, qigong ou tai chi. Todas contribuem para desenvolver a atenção e a consciência na relação corpo-mente. A perceção que existe uma ligação contínua entre o nosso corpo e o modo como a psique se relaciona com a nossa circunstância de vida, alerta-nos para a necessidade de cuidarmos das várias vertentes do nosso Ser.
Desde um estado de consciência que compreende a Vida como uma experiência de aprendizagem, valorizamos a sua constante impermanência a certeza da sua finitude como a conhecemos.
O que é ruim permite valorizar o bom. A escassez de tempo intensifica a satisfação que podemos retirar de cada vivência. Os insetos efémeros vivem pouco mais do que algumas horas e têm como única missão de vida perpetuar a sobrevivência da espécie. Alguns de nós conduzimos a vida como nunca acabasse. Adiamos, sabotamos oportunidades, esperamos que chegue o momento adequado.
Os japoneses têm um conceito de vida sobre a natureza. O Waba-Sabi. Apreciam tudo o que é perecível e imperfeito. Valorizam a beleza das coisas pela unicidade da imperfeição e da impermanência em si. Por outro lado, o mundo ocidental sobrevaloriza o perfeito, o correto, o adequado. A força da crença que o nosso mundo ficará mais "perfeito" quando obtivermos algo mais externo a nós que preencha determinados requisitos, que nos fará mais felizes, prende-nos mentalmente ao futuro e impede-nos que desfrutemos do presente como ele é.
Podermos apreciar o que é enquanto existe, conscientes que um dia, nós e o que “temos” desaparecerá, permite-nos que nos relacionemos de um modo apaziguado com o que chega de imprevisto. A aceitação da inconstância das coisas, é o seu mediador mágico.
PSICÓLOGA CLÍNICA, VIA® APRENDIZAGEM INTEGRATIVA DA VIDA
CONSULTORA MINDFULNESS PELA EEDT. MEMBRO FUNDADOR DO CLUBE UNESCO-KIRON
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