Por Nuno Michaels
in REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2013
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Quase todos sabemos que não adianta focarmo-nos no que não queremos, porque o reafirmamos e vivificamos com a força da nossa própria rejeição. Era por isso, aliás, que a Madre Teresa de Calcutá se recusava a participar em manifestações contra a guerra e se guardava, segundo ela, para aquelas a favor da paz).
Felizmente – e este é o primeiro motivo, ou pretexto, para celebrarmos – além de honestos, e francos, podemos ser oportunos, positivos e progressistas – em suma, francamente oportunistas: e podemos honrar o espírito desta revista – e em especial deste número que celebra o seu primeiro ano de existência – disponibilizando-nos a olhar (nem que por uma última, ou única, vez) para “o outro lado” dessa moeda (e não é uma alusão irónica à dimensão financeira da coisa) chamada crise.
A ver se celebramos finalmente.
Mas antes de elencar os principais motivos para celebrarmos a “crise”, falta apenas introduzir um lugar-comum. Ou dois. Pois se comunicar é pôr em comum, não será aproveitamento de espaço aproveitar este lugar para o fazer?
C.E.O: Crise, Escolha, Oportunidade
Muitos de nós já o sabem: “krisis”, raiz etimológica grega do palavrão que chamamos à coisa, significa “cisão”, “divisão”, e está intimamente relacionado com um verbo que significa “julgar”, “discriminar”, “separar”.
Crise é cisão, separação, e cisão é decisão. A cisão, porque separa e divide, permite uma escolha que antes (da “crise”, da cisão) não era possível. Sem se cindir, não se pode decidir.
Crise é – e permite, para não dizer obriga, convida ou simplesmente: consiste de – uma oportunidade de escolha, discriminação, e julgamento por uma via nova; e é aqui que nos socorremos de mais um lugar-comum para dar força e completude à nossa tese:
Diz (quem sabe) que o ideograma chinês para representar “crise” se compõe de dois outros ideogramas – o de “perigo” e o de “oportunidade”.
Não confirmamos nem atestamos a veracidade desta informação mas podemos refletir, e sugiro ao leitor que o faça, se as “verdades” dominantes do senso comum - aquilo a que os gregos chamavam “doxa” e que nós traduzimos como opinião, para contrastar com “episteme” ou conhecimento verdadeiro), não serão – tão-somente - as versões mais repetidas, e aquelas em que mais pessoas acreditam num dado momento.
Não será a “verdade” consensual, comummente aceite, tão-somente a narrativa dominante, que ganhou às outras narrativas por força da sua própria repetição e não necessariamente por virtude da sua correspondência com algo a que chamaríamos “real”?)
Inspirados pelas palavras de Ortega y Gasset, que escreveu em 1942 num livro chamado Esquemas da Crise e Outros Ensaios “a crise é um momento histórico em que não muda algo no mundo, mas em que o mundo inteiro muda”, elencamos aquelas que são as grandes oportunidades atuais – inevitáveis - de mudança no mundo:
1. Desenvolver a Coragem, a Autonomia, e a Confiança em Si mesmo
2. Clarificar quais são os valores mais fundamentais e importantes
3. Relativizar o que antes tomávamos como certo e seguro, especialmente a supremacia da própria visão do Mundo
4. Encontrar uma fonte de segurança “dentro”, já que as de “fora” estão a desaparecer
5. Maior Autenticidade no Aqui e Agora, já que o futuro é uma abstração cada vez maior e mais improvável
6. Auto aprimoramento e evolução pessoal através da diligência e do espírito de serviço ao próximo
7. Relações mais autênticas, baseadas na cooperação e interdependência
8. Desativar, abdicar, sacrificar e transformar desejos egoísticos, espúrios, e pouco sábios
9. Ampliar a nossa Visão do Mundo e do Sentido da Vida
10. Assumirmos, cada um de nós, papéis mais responsáveis no coletivo
11. Desenvolvermos e aproveitarmos mais e melhores oportunidades para nos associarmos e expressarmos Amor e Boa vontade através do empenho grupal
12. Fazermos tudo o que está ao nosso alcance para mudar, melhorar, servir e curar... Entregando o resto a Deus, à Providência ou às Finanças... Consoante aquele que seja o deus particular de cada um. A oportunidade de encontrar melhores deuses.
Agora, quando ouvir – nem que seja da sua própria boca - a palavra de que já andávamos todos fartos (e ainda antes deste artigo), pode sempre retorquir, perante a visão caquética que insiste em rotular de “crise” a coisa oportuna:
“Crise?! Qual crise? Esta oportunidade maravilhosa chamada Evolução?”
Autor. Educador. Conselheiro Astrológico, professor de Astrologia e Consciência no Quiron – Centro Português de Astrologia. Astrólogo convidado nos Estados Unidos e Vice-Presidente da ISAR (International Society for Astrological Research) para Portugal, mantém o blog“A Astrologia da Escolha Iluminada” em http://www.taoenchoice.com
REVISTA PROGREDIR | FEVEREIRO 2013