Por Cristina Leonor Pereira
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
A educação institucionalizada não é inocente, não é por acaso que aprendemos umas coisas e não outras: a escola formata e massifica, ensina a instrumentalizar o homem, reduzindo-o a aço e plástico, a uma máquina automática servil de um sistema financeiro, esvaziando-o de ideias, amputando a iniciativa crítica, alimentando-o de um entediante conformismo e passividade, educando-o para que acredite que nada pode ser e que deve entregar o seu destino às decisões de quem tem; de quem acumula dinheiro, de quem tem poder e monopoliza.
Somos educados para a subserviência, para manter, servir e doar a alma a um sistema de capitalismo e de valores que ombreiam a competitividade, o consumo, a destruição mútua e a solidão. Isto é, sem dúvida, pesado! Mais pesado é inclusivamente para quem ingenuamente alimenta e se regozija com esta engrenagem desumana, que julga estar a salvo no seu oásis dourado de poder, enganando-se ao procurar a sua felicidade nos becos escusos da mentira e nos meandros iníquos da argúcia estulta e vã; soterram-se e alimentam-se de um vazio que não sabem como preencher e morrem na mais completa nulidade. O que também é pesado e revela, meramente, a imensa incapacidade de auto conhecimento e de inteligência emocional por parte das elites de poder que, ao congeminar contra a vida e o mundo, atentam, enormemente, contra si próprias.
No fundo, o capitalismo, e sobretudo a sua expressão global e radical, em que submergimos cada vez mais, caracterizado pelo cúmulo de uma corrupção transparente, cujos atores assumem sem pejo os crimes que praticam, tece uma teia em que todos nos encontramos enleados e que compete a cada um de nós a responsabilidade de a deslindar, desenlaçando-nos do engodo dos seus ilusórios atilhos. Chegados a este extremo, a lei natural estrebucha, exigindo o seu oposto complementar: podemos acreditar que vivemos numa era em que entre os insólitos escrúpulos da ditadura financeira, emergem, cada vez em maior número, significativos empreendimentos voltados para a renovação, resgate da ordem, dos valores humanos, rumo a uma leveza financeira e ao primado do ser sobre o ter.
Dizia o professor Agostinho da Silva que «nascemos de graça e passamos o resto da vida a ganhá-la». Nascemos condenados a ter que ter muitas coisas; a ter que ter para sobreviver e para morrer. E tudo isto se consegue entre correrias e atropelos quotidianos, desgaste e stress emocional para servir, sem questionar, o modelo de vida que nos foi ensinado e dado sem alternativa: o sistema capitalista. A moeda foi criada para trocar e qualquer outra forma de uso, como a sua acumulação estéril, é um insulto à sua essência e uma deturpação do seu sentido inicial, que, em si, é primordialmente inócuo. O dinheiro é um valor simbólico, tornado tão real que não nos apercebemos que a importância que tem, fomos nós que lho demos. É hora de converter esta pirâmide e de pôr os interesses da humanidade no seu cume.
A leveza financeira funda-se numa forma de vida mais subtil e centrada na ecologia. O foco das ações não é a realização de capital, mas a simplicidade, a valorização do que é, de fato, útil. O centro da atenção desloca-se para as necessidades internas de cada pessoa, na sua relação com o ecossistema em que estão inseridas, isto é, com o lugar, com os outros, com o meio ambiente e com todas as possibilidades que podem advir desta articulação. O aspeto financeiro é só uma parte da realidade prática e organizativa do homem em sociedade e não é sensato atribuir-lhe mais peso do que é necessário, para além da função utilitária que ele desempenha no conjunto de todas as dimensões da existência humana.
Podemos testemunhar que os sistemas de trocas, que a vida em cooperação, o respeito por si e pelo outro, e a desaceleração da vida, na sua generalidade, é uma construção que se faz aos poucos, muitas vezes sem plano prévio, e que surge da imperiosa necessidade de criar respostas e condições de sobrevivência para pessoas que desistiram de confiar no sistema e de esperar que a figura do estado lhes resolva os problemas. Na maior parte das vezes, tem sido a extrema necessidade, aliada à força revolucionária de sujeitos que preservaram no seu íntimo, o seu espírito inconformista e criativo, que fez com que pessoas de juntassem, se inter-ajudassem, trocassem, se apoiassem, encontrassem infra-estruturas, com escola e saúde incluídas, que asseguram um sistema financeiro leve, mas, por outro lado, cheio e pesado de valores com sentido humano. O dinheiro não deixou de ser um recurso, mas tornou-se mais leve, voltando à sua posição de mediador entre situações. E as coisas simples, verdadeiras e belas readquiriram o seu valor, voltaram a ser apreciadas.
Mudar está a um passo da nossa consciencialização e da nossa coragem de quebrar a norma e arremessar-se, em conjunto, rumo ao desafio de realizar novos paradigmas.
PROFESSORA/ COORDENADORA DE PROJETO PEDAGÓGICO:
“APRENDER A APRENDER”
www.empowertolive.pt
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015
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