Por Luís Coelho
in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015
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O corpo é substância "involuída", esqueleto de consciência e ação sobre o meio (e deste sobre o corpo). Ele implica a própria mente nos processos da vontade, do desejo, de transformação. A vida processa-se no mundo das "relações", das múltiplas tragédias de "individualidade consciente", no Universo primevamente ordenado e logo multiplicado na aparente dispersão de "linguagens", disperso na multiplicidade de dilemas.
Submetendo-se (e submetendo) à dualidade, o corpo-mente possui o peso da relação, ora repleta de "Luz", ora coberta de "trevas" (o "bem" e o "mal", que são, na verdade, julgamentos, caracteres da subjetividade), a "gravidade" do caminho, simultaneamente dianteiro e anamnésico, o trajeto dialéctico afeto à persona ("máscara"), no fundo, o peso do devir, que se faz na relação direta com o Passado, jus ao núcleo primitivo do ser.
O corpo-mente é nascido e criado no condicionamento, sob a capa da irrevogável Determinação; a Necessidade, a Fortuna, cede-lhe uma estrada de experiências, a oportunidade de "escolher" entre os "bons" e os "maus" caminhos, a própria conturbação do viver, composta pelo conjunto dos "desvios" ("pecados") e pelas reações a esses "males". O "mal" maior reside dentro de nós, é o nosso Inferno, o mundo subterrâneo, onde os nossos demónios se instalaram no Inverno pré-consciente para logo vociferarem na Primavera da vida, controlarem a ação consciente. Estes demónios, estes dinossauros do Inconsciente, fornecem a força do viver, a ansiedade de conquista, e o que se expugna é este Passado, o que se vence é a morte (a fobia de destruição, o complexo castrador, a ansiedade de separação), o futuro, pelo domínio do Pretérito, dos "dragões do Éden".
O vencimento dos demónios é a vitória maior da vida, só através dele será possível transformar o que vulgarmente se interpreta enquanto "mal" no que é encarado enquanto "crescimento", o "bem" da relação agora facilitada pelo debelar das defesas. O alívio do Inconsciente, do recalcado, é o alívio maior do intento da vida (do amor). Esta é a maior de todas as levezas, a libertação fantasmática e objetal, a eterização psíquica e conflitual, do ser.
No sentido objetivamente Espiritual (ou seja, no ponto de vista do Idealismo Objectivo), metafísico, a "libertação psíquica" trata de ser apenas a "felicidade"; não é, portanto, uma libertação Espiritual. A maior de todas as levezas exige um Caminho Maior que, segundo a tradição Oriental, implica uma (transposição da) Roda da Lei consubstanciada de várias vidas, existências diversas.
Poderíamos, claro, preconizar uma metáfora "psicanalizadora" e interpretar as diferentes "existências" enquanto fases da vida, "mortes" no espaço de uma só existência. Mas esta abstração, esta interpretação, não tem sido efetuada, pelo menos manifesta e diretamente, pela maioria dos espiritualistas e esotéricos; para estes, a libertação implica necessariamente a transcendência, a permuta da unidade "corpo-mente", do Quaternário Inferior (corpo, psique e Alma inferior), senão da própria "Tríade Superior" (Alma superior e Espírito substantivo).
É certo que a libertação de um Plano, de uma Escala de Consciência, acarreta necessariamente a projeção de um Plano "superior", de nova camada de Substância, de nova Identidade futuramente cognoscida. Mas, se encararmos o "Espírito" enquanto algo mais para além de "matéria por desvelar", fica a verdadeira Leveza a depender da Nadificação, Absolutização, da coisa comensurável, aí é, de facto, possível encontrar o "Espírito Puro", o ParaBrahman do Sanathana Dharma (vulgo "Hinduísmo"), o Tao para além do Tao (no Taoísmo chinês), os níveis metanóicos (para além do Nöus, na tradição hermética, mistérica e grega), Deus para além do demiurgo, a Coroa Kabbalística. Aqui é a morte (maior) que vence a vida (menor).
Este Absoluto é pura leveza, movimento quântico, mas se este fluxo quântico disfarça outra forma de matéria, "Ordem por desvendar", então o que parecia "leve" não é tão leve assim, e fica tudo a depender de um jogo de Escalas; aí é a visão que é leve, escorreita, desarmada, porque, estando armada, nutrida, de instrumentos poderosos, muito do que era Incognoscível ("Espírito") passa a ser Cognoscível ("Matéria"), como trato no livro «Crítica da Razão Espiritual. Dialéctica e Obsessão» (Edições Mahatma, 2015). E, relevando a metáfora de cima, também o Inconsciente de hoje, sendo desvelado, passa a ser consciente, conhecido, mas aqui era o "incognoscido" que pesava e é a "descoberta" que tudo torna leve, de uma leveza que só o Saber pode prover, como quando novos Universos, renovadas Escalas, são trazidos ao mundo do sonho, depois de arrebatados do sono metafísico. É que o conhecimento liberta. Ou será que escraviza, encarcera o antigo "libertino", quiçá o selvagem que em todos nós habita?
TERAPEUTA E ESCRITOR
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in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015
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