in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015
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No tempo que corre à vertiginosa velocidade que nos consome as horas, é difícil não andarmos dispersos em mil e uma coisas, mas é importante que saibamos sempre focarmo-nos no presente e estarmos inteiros em cada momento.
“Enquanto escrevo esta crónica que me propuseram sobre o tema da LEVEZA, sentada na mesa da cozinha, vejo refletidas no écran do computador as árvores do meu jardim. Está sol e vento lá fora, vislumbro uma nesga de céu azul a espreitar entre as folhas da figueira.
Os figos, porque não sabem ser leves e vão obedecendo à incontornável (será?) força da gravidade, vão-se esborrachando no chão para mal dos meus pecados e deleite de tudo o que é bicharada. Passo parte do verão colhendo do chão esta papa em processo acelerado de fermentação, já foram figos e agora metamorfoseiam-se em algo mais leve, sem massa, sem corpo, sem matéria, do figo afinal o que resta?
E de nós o que resta quando esta massa a que chamamos corpo se transforma em larvas, em terra, em sementes escuras esperando o momento de renascimento no reino da luz?”
Estar perto ou dentro da Natureza ou trazer a natureza dentro de nós ajuda-nos a entender e interiorizar o caráter leve e inconstante de tudo o que existe.
Viver os nossos dias em contacto mais ou menos íntimo com o verde que nos rodeia, só traz benefícios para a nossa saúde física, emocional e espiritual.
Existem no entanto muitas plantas que nos podem apoiar e ajudar nessa sensação de leveza e saúde. Difícil é a escolha.
Começamos talvez por um problema recorrente e que afeta muita gente; as enxaquecas.
Estas têm muitas causas, uma delas é a lacuna do verde dentro de nós, de vivermos numa roda-viva urbana e portadora de stresse, propormos-mos fazer muito mais coisas do que aquelas que o tempo permite e isso provoca em nós uma certa angústia que dá muitas vezes origem às mais atrozes dores de cabeça.
Nessas situações existem várias plantas que podem ser úteis: a camomila (Anthemis nobilis) é um bom relaxante do sistema nervoso e portanto poderá ajudar a reduzir a sensação de stresse. Utiliza-se em forma de infusão, três a quatro chávenas por dia.
Uma espécie de camomila mas que na verdade é um tanaceto (Tanacethum parthenum) a que os inglese chamam de feverfew, é dos mais eficazes remédios naturais contra vários tipos de enxaquecas. Na Madeira dão-lhe o nome de artemija, apesar de não ser uma artemísia.
A alfazema é também muito eficaz no tratamento de enxaquecas originadas pelo excesso de energia e tensão. Existem várias formas de a utilizar, uma delas, é ter à mão uma pequena garrafinha de óleo essencial e colocar algumas gotas nos pulsos, na base do pescoço ou nas têmporas, tendo sempre o cuidado de escolher estes e outros produtos de certificação biológica. Evitar também o contacto com a vista.
Pode ainda usar as flores de alfazema em infusão ou dentro de pequenas saquetas colocadas debaixo da almofada para um sono mais descansado.
Outras plantas que poderemos associar à sensação de leveza trazida por um sono profundo e tranquilo é a valeriana (Valeriana officinalis) de cuja planta se utiliza a raiz em decocção e não em infusão, já que, ao falarmos da utilização de raízes estamos a falar de ferver esta parte da planta e a esse processo se dá o nome de decocção e não infusão. Outra forma de tomarmos a valeriana é em cápsulas, existindo várias marcas no mercado. É uma depuradora do sistema nervoso, recomendada a pessoas muito inquietas, com insónias e medos.
Recomenda-se juntamente com a valeriana tomar alguma infusão de plantas que ajudem a eliminar as toxinas libertadas pela depuração, tais como o aipo (Apium graveolens), agarra-saias (Galium aparine) ou o dente-de-leão (Taraxacum oficinallis).
E já que falamos de artemísia, a (Atemisia absinthum) que inspirou tantos poetas e pintores devido a um dos seus compostos alcaloides, que se for ingerida em excesso pode conduzir a estados alterados de consciência. Muito inspiradora da poesia de Fernando Pessoa e das pinturas de Van Gogh. Para não caírem em excessos e danificarem os vossos fígados, a artemísia pode ser utilizada de uma outra forma que consiste em colocar um pequeno rolinho feito com a planta fresca, debaixo da almofada já que o seu aroma estimula a atividade onírica.
A Tilia (Tilia sp), a flor de laranjeira (Citrus sinensis) e a Flor de maracujá (Passiflora edulis) são também importantes plantas que poderão trazer sensação de leveza pois são bons relaxantes e ansiolíticos.
Poderíamos falar aqui também nas plantas de poder associadas a rituais xamânicos tão comuns em culturas que têm uma forte ligação à terra e às plantas medicinais; culturas dos povos da Amazónia, ultimo grande pulmão verde do planeta, culturas da Índia, de África, da Indonésia ou da Austrália onde a utilização dessas plantas que esbatem as fronteiras entre a matéria e o espírito, é ainda hoje praticada com intuito de ligar o Homem às suas raízes mais profundas, ao cordão umbilical que nos liga a todos á grande mãe TERRA.
Uma vez encontrado esse elo de ligação seremos com certeza seres mais leves, mais felizes e mais em paz com o verde que nos rodeia.
FERNANDA BOTELHO AUTORA DE VÁRIOS LIVROS E AGENDAS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS. O SEU ÚLTIMO LIVRO “ UMA MÃO CHEIA DE PLANTAS QUE CURAM” É UMA COLEÇÃO DE TEXTOS E FOTOS DE 55 PLANTAS MEDICINAIS ESPONTÂNEAS EM PORTUGAL in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |