
Por Sofia Frazoa
in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2013
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É indiscutível a necessidade de normas que orientem as sociedades e mecanismos que levem os indivíduos a cumpri-las para que haja ordem e se consiga viver em comunidade. Mal ou bem, há várias instituições que o fiscalizam. De um ponto de vista subjetivo, já é mais complicado caracterizar a integridade de uma pessoa (diferentes pessoas valorizarão diferentes características).
No entanto, a “integridade” que parece ser mais urgente e, ao mesmo tempo, difícil de discutir atualmente é a de ser “inteiro, completo; caráter daquilo a que não falta nenhuma das partes” (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa). Como conseguimos ser inteiros num mundo que nos desafia constantemente a desintegrarmo-nos; que nos ensina a ir resgatando partes de nós para, talvez um dia, chegar ao todo; que nos convida a desconstruir quem julgamos ser para nos aproximarmos de quem realmente somos?
Nos últimos anos, temos sido desafiados a grandes transformações e a uma aproximação ao nosso “eu” mais verdadeiro. Já todos conhecemos as teorias (em muitos casos válidas e acertadas) de que a grande mudança vem de dentro; de que o mundo exterior reflete quem somos no interior; de que, se estivermos em paz connosco, vamos conseguir sentir-nos bem e estar em paz com os outros e com o mundo.
Podemos já ter essa consciência e conseguir pôr em prática estas ideias muitas vezes, mas com certeza não será na maior par te do tempo. O que nos falta, então, para sermos “íntegros” nesta definição de ser completo? Falta-nos conseguir, em primeiro lugar, descobrir quem somos na totalidade. Esse processo é lento, longo e cheio de imprevistos e novas descober tas. Talvez um trabalho para a vida toda. Depois de sabermos (ou julgarmos saber) quem realmente somos, é impor tante irmos resolvendo os nosso problemas e eliminando os bloqueios que nos impedem de ser completos. E assim vamos caminhando ao encontro da integridade, com muitos obstáculos e desafios pelo caminho porque, felizmente, não existimos sozinhos. É na interação com os outros que vamos pondo à prova a noção de “íntegro”. Testamos a humildade, o desapego, a honestidade, a autoestima e muitas outras características que dizemos ter que nos tornam completos, mas que nem sempre conseguimos manter quando somos confrontados na prática.
Será mesmo possível sermos um “ser íntegro”? Ou será mais provável termos momentos de integridade, alturas em que não duvidamos mesmo de quem somos e do que queremos, falando e agindo de acordo com isso? E depois lá voltamos à nossa imperfeição e à busca desenfreada e constante de quem somos, ou seja, da integridade.
Como dizia o poeta:
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.”
(Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa)
SOFIA FRAZOA CAMINHOS DE ALMA www.caminhosdaalma.com [email protected] in REVISTA PROGREDIR | NOVEMBRO 2013 |