Por Carlos Lourenço Fernandes
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2012
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Independência ou graus elevados de autonomia são coisas diferentes. Autonomia financeira de filhos em relação a pais (ou a avós) é coisa boa. Independência (financeira, emocional, afetiva) é coisa diversa. Empresas independentes, aonde? Dependem, desde logo de clientes (ou de fornecedores). Dependem dos mercados. Da procura e da concorrência. Sossego, na empresa, é sinónimo de estagnação e definhamento (a prazo, curto ou médio). Sossego significa desprezo (ou falta de atenção) pela inovação. Cresce, no sossego, o grau e níveis de risco. É empresa a prazo. Vai deixar de ser. Independência? Ou interdependências?
Dependemos uns dos outros. Hoje, gente normal, de bom ar e comportamentos aparentemente educados, causam problemas sociais. Se um lança uma beata de cigarro para o chão, não cria problema. Se forem muitos, nasce um problema de lixo. Nasce um problema de saúde ambiental. A dimensão do número causa sarilhos na gestão dos sistemas. Hoje, vivemos em sociedade urbana – mesmo em contexto rural, exigimos redes urbanas – e, neste contexto, dependemos todos do bom funcionamento das redes. Dependência, articulação em rede, suportes sociais para satisfação de procuras individuais ou coletivas, são os conceitos e práticas contemporâneas prevalecentes, dominantes, exclusivas. Viver de forma independente nunca ocorreu. São perceções inadequadas.
O ser humano iniciou-se vivendo em bando. Foi coletor e caçador, em bando. Associou-se em clã. Progrediu em tribo. Fez nascer o Estado como desejo de afirmar as relações interpessoais suportadas em mérito, renunciando às relações de parentesco (as cunhas). Afirmou-se em nação (ideia?). Está a regressar à individualidade em rede. Dependendo do funcionamento das redes e da prestação de cada um para bom resultado coletivo. O bem-estar coletivo depende da melhor prestação de cada um. Independência? Ou interdependências crescentes?
Tudo são sopros de vida. A vida é um sopro. Uma boa vida é aquela que se reconhece num contexto de maior e melhor rede social de apoio. Da família, dos amigos, dos colegas na profissão. Da busca partilhada de realização emocional e profissional. Em rede. Em interdependência de respeito, consideração mútua e permuta (nos bons e maus momentos).
Independente ou só, com certeza, o morto.
Professor, Escritor, Conferencista
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REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2012