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Por Maria José Costa Félix
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2012
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Quantas vezes, porém, não ansiamos acima de tudo por encontrar a chamada alma gémea, alguém com quem fundir-nos totalmente?
Crescer nesta consciencialização gradual implica uma transformação contínua da forma como nos olhamos ao espelho da verdade que nos habita desde o momento do nosso nascimento até ao da nossa morte. Verdade essa maior do que aquilo que pensamos, desejamos, sentimos, fazemos.
Trata-se de um repensar contínuo sobre o ajuste – ou não – dos nossos comportamentos com as nossas convicções profundas:
Até que ponto é que eu tenho mesmo amor a esta pessoa por quem estou apaixonado e ela a mim? Existirá mesmo para ambos um chão real a partir do qual cada um de nós vá podendo crescer e – consequentemente – ir alimentando o nosso relacionamento?
Só através de experiências de encontro e desencontro, altos e baixos, ganhos e perdas, estados felizes e infelizes, que a vida nos vai proporcionando, poderemos saber se um determinado relacionamento - dito de amor - o é de facto.
Quantas vezes, esse assim chamado amor parece fugir-nos, dizemos Perdi o meu amor e sentimo-nos insatisfeitos, ansiosos ou até desesperados por não estarmos apaixonados, em fusão com alguém a quem nos agarramos e por quem somos agarrados?
Só com o passar do tempo podemos ir aprendendo que, quando no final de um relacionamento, o que acontece é que deixámos de poder viver o Amor através de uma determinada pessoa, mas não que perdemos o Amor. Porque é dentro de nós que ele se encontra, sempre à espera que o descubramos.
A fome de Amor que todos sentimos no fundo não é por falta de quem nos faça vibrar, mas sim por falta de um encontro profundo connosco mesmos. Com o Amor sem fim cuja vibração está na origem de toda a vida – e por isso a sentimos indispensável -, mas nos transcende, portanto nunca podemos agarrá-la.
Essa fome existe precisamente porque nos é necessária para conhecermos a nossa essência e sabermos o que é sermos fiéis a nós mesmos.
Vários são os caminhos por onde a vida nos leva até percebermos que não é esquecendo-nos de nós “por amor” seja a quem for que podemos deixar de viver esfomeados de amor.
Equilibrar a fidelidade a si mesmo com a fidelidade ao outro nem sempre é porém fácil, porque tendemos a dar mais importância ao que fazemos do que ao sentido íntimo dos nossos atos, olhamos mais facilmente para fora do que para dentro de nós mesmos.
Daí que, tantas vezes, nos vamos afastando do nosso centro, do caminho por onde a pouco e pouco poderemos ir descortinando o sentido para a nossa vida, razão última de todos os nossos relacionamentos.
E daí que em geral pensemos que ser fiel se resume a corresponder a um determinado papel relativamente a alguém.
Mais do que fazer isto e não aquilo, a verdadeira fidelidade é um caminho, que consiste em acreditar que existe um projeto impresso no mais profundo de cada um de nós. Cada um tem uma missão específica que o ultrapassa.
E, a nível de casal, ser fiel é procurar criar um face a face equilibrado em que - num quotidiano sem conflito onde simplesmente haja uma entrega daquilo que pode ser dado sem esforço - cada um se abra para o outro mas sempre a partir de um centro de onde, porque nele mesmo, pode irradiar sem perder a sua identidade.
Em vez de nos relacionar-mos a partir desta fidelidade em que mutuamente nos estimulamos no sentido de cada um se realizar em todos os campos possíveis, quantas vezes porém não nos agarramos um ao outro sobretudo para não nos sentirmos sós?
Alcançar esta autonomia existe uma longa aprendizagem interior feita exclusivamente à custa do próprio.
Mas só se esse processo de crescimento individual se for desenrolando poderemos deixar de depender seja de quem for e para o que for. Saber que o bem-estar, a felicidade, o Amor, não é fora de nós que se encontra, mas sim dentro.
Até lá, tendemos a sentir necessidade de alguém a quem, seja de que for, nos agarremos. E, entretanto, poderá haver gestos chamados de infidelidade que, embora possam prejudicar a aprendizagem, também poderão acelerá-la…
Ser infiel àquele com quem se tem uma relação especial tanto pode ser relacionar-se sexualmente com outra pessoa como não o ajudar a alcançar a sua dimensão plena.
A verdadeira importância de qualquer encontro significativo é permitir-nos e/ou ajudar-nos a desenvolver todo o nosso potencial.
Há por isso encontros que, embora não desemboquem numa forma de vida conjunta, podem fazer com que cada um de nós passe a olhar com mais serenidade e alegria para a sua própria vida.
Qualquer que seja o seu evoluir, importante num relacionamento é cada um fazer o que estiver nas suas mãos para não estragar nada daquilo que lhe tenha sido dado a viver em conjunto com o outro.
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Astróloga
Autora de obras de auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal
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REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2012