in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Será este o mesmo sentimento de dar os primeiros passos, de preparar a mochila para o primeiro dia de escola, de apanhar a primeira onda, de entrar na faculdade, de receber o primeiro salário ou de comprar o primeiro carro e a casa. Os sinais de independência externa são entusiasmantes e constituem marcos importantes na nossa vida.
Mas, tão ou mais relevante, são os processos de independência interna, a nível emocional e psicológico.
Tal como nos países nos quais a independência é sempre um processo extraordinário de esforço, o mesmo acontece nos nossos territórios interiores.
A primeira independência começa na infância e é confusa, ainda estamos a tentar perceber as nossas emoções. Quando olhamos para uma birra da criança ou para um momento de tristeza que se iniciou sem grande drama, podemos quase imaginar o seu cérebro com os vários avatares do filme “Divertidamente” (Inside Out em inglês). São ainda poucos e básicos: tristeza, nojo, alegria, raiva e medo e, de vez em quando, esbarram entre eles quando operam o painel de controlo do cérebro da pequena Riley.
Nestas alturas o apoio que podemos dar relaciona-se com o saber ouvir a criança e dar-lhe o espaço e a estrutura para entender, ela própria, o seu processo. Mostrando que é incondicionalmente amada e aceite, vamos também ajudando a que construa ela própria os limites do seu território interno, tal como um país o faz com as fronteiras da sua terra e mar.
O processo continua a ser o mesmo em adulto, mas aí geralmente contamos apenas connosco. O máximo que podemos ter é um apoio de outros significativos ou, até mesmo, de um terapeuta seja um coach, psicólogo, psicoterapeuta.
Aí opera a nossa vontade de ir desconstruindo os vários véus que fomos tecendo em nosso redor conforme as expetativas do ambiente e pessoas com quem nos cruzámos. É, geralmente, uma crise que despoleta esta vontade, mas o ideal seria que aproveitássemos todas as oportunidades sem que estas advenham de um acontecimento negativo.
O desenvolvimento pessoal é uma das ferramentas neste caminho e pode, e deve ser, usada de forma consciente, respeitando a assunção da humildade e da vontade de crescer. Viajar no nosso território interno é, por vezes, uma experiência tão (ou mais) desafiadora e rica do que as viagens por outros países. Ao contrário de uma bússola normal que é comprada numa loja, a nossa bússola interna tem de ser construída por nós e, de tempos a tempos, reajustada e reciclada.
E, tal como numa viagem externa, também na nossa viagem interna haverá contratempos, desafios, placas com direções erradas, mas também excitantes companheiros de aventura e paisagens magníficas.
Que possamos, então, trabalhar a nossa independência interna com o mesmo (ou maior) empenho com que tratamos a nossa independência externa. Que sejamos sempre fiéis a nós próprios, orbitando em redor de uma estrutura criteriosamente esculpida nos valores que fazem ressonância no nosso mapa mundo.
Algo que carateriza a independência é uma tensão, um conflito. Um desejo de se ser diferente do que já se é. Um grito do Ipiranga que agita a nossa multidão de assunções e emoções e que tem de ter um desfecho. Desse desfecho depende apenas a nossa vontade de continuar este processo de melhoramento. Que este kaizen (palavra japonesa para evolução constante) possa sempre depender mais da nossa estrutura interna do que das condições à nossa volta.
CONSULTORA
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2020
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