Por Mar Michelle Häusler
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2019
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Competição é o modus operandi dos bancos, fui colocada em posições de competição feroz com um colega por um posto único no banco. O objetivo de um banco (gerar mais lucro) funciona de maneira absolutamente independente da bússola moral que nos guia no quotidiano. Não só é aceitável como é comum, fazer negócios com petrolíferas e empresas de armamento, por si só violentas para o mundo.
O mundo financeiro em geral parece estar carregado de agressividade, não só para aqueles que trabalham no setor, como para toda a população que é confrontada diariamente com decisões de natureza financeira. Logo pela abertura do noticiário, carregado com números negativos acerca de tudo desde índices de desemprego, a taxas de inflação, a preços de combustíveis, somos hostilizados. Este bombardeamento de prognósticos negativos pode, mesmo que apenas de maneira aparentemente subconsciente, ter um efeito significativo na nossa disposição.
Cada despesa inesperada, ou a constatação de que nos aproximamos rapidamente do fundo das nossas poupanças, podem fazer parecer que o mundo está a conspirar contra nós, que o dinheiro em si é o nosso inimigo. Uma má situação financeira pode intoxicar a nossa mente e o nosso espírito e tornar impossível o aproveitamento dos bons momentos das nossas vidas, enterrando-nos cada vez mais no ciclo de agressão - o comentário mal-educado, as atitudes vingativas.
Durante muito tempo esta associação do dinheiro a uma certa violência contra o espírito, incomodou-me. Desisti do setor financeiro com um desdém pelo próprio dinheiro, vi-o como sujo, (nunca pensei voltar a trabalhar com ele). Acreditei que o dinheiro era a raiz de todo o mal, a causa da fúria, manipulação e ganância.
Com o passar do tempo consegui encontrar a paz com o dinheiro. O dinheiro não é nada mais nada menos que energia neutra. Não é mau, nem bom, apenas é. É equiparável ao espelho, que absorve e reflete aquilo que colocamos diante dele. A violência que tão frequentemente associamos ao dinheiro não passa de um reflexo daquilo que nós somos, como nós fomos condicionados a percepcionar o dinheiro e o mundo financeiro, contudo, tal como qualquer outro padrão comportamental, isto também pode ser alterado se nos trabalharmos a nós próprios.
Mas antes de começar o trabalho no nosso interior, que é fundamental para alterar a nossa relação com dinheiro, temos de trazer o tema à luz. Existe um taboo à volta do dinheiro que tem de ser quebrado. Todos nós temos de lidar com o dinheiro, não deveria portanto ser um assunto que seja causa para vergonha ou constrangimento, o facto de o ser, apenas demonstra a profundidade da relação do dinheiro com quem nós somos. Temos de voltar atrás e considerar o dinheiro por aquilo que ele é, uma ferramenta.
Dinheiro foi originalmente criado para substituir o câmbio de bens , como um mecanismo de troca e comércio. O problema foi a associação de muitas forças, boas e más, a este símbolo.
O ser humano tem duas dimensões, o Eu Superior e o Eu Inferior. O Eu Superior usa o poder do dinheiro com o âmbito de criar uma cultura de paz, enquanto o Eu Inferior usa o poder do dinheiro com o objetivo de riqueza, destruição e conflito. O Eu superior consegue entender e utilizar o dinheiro como ferramenta, um meio de cooperação entre diferentes pessoas, O Eu Inferior o entende e usa como meio de manipulação e dominação.
Para garantirmos que estamos usando o dinheiro, e não sendo usados por este, é necessário um exercício de auto-reflexão. Devemos perguntar a nós mesmos, como é que nos estamos relacionar com o mundo financeiro e com o dinheiro quotidianamente? Sempre que usamos o dinheiro, torna-se importante perguntar como o estamos usando, e como isso nos faz sentir. O propósito é eventualmente conseguirmos focar a nossa atenção para além do dinheiro; o dinheiro é o meio, mas quais são os objetivos?
Um esforço constante e consciente em estar presente, sempre que nos envolvemos com o mundo das finanças, ajuda-nos a alterar a nossa relação emocional com este mundo.
Com este esforço, também podemos aos poucos alterar as atitudes de agressividade e violência que tão frequentemente associamos ao dinheiro.
COACH, CRIADORA DE WORKSHOPS E FUNDADORA, GIVE & TAKE LAB
www.givetakelab.com
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | ABRIL 2019
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