
Por Maria Farinha
in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Nesse processo de crescimento e de evolução, há momentos em que se é apenas filho. Mais tarde, habitualmente, vem-se também a ser pai/mãe, surgindo o duplo papel de filhos e de pais. E tudo passa a ser visto e pensado perante uma nova perspetiva.
Durante esta viagem vai-se aprendendo e ensinando. Um dia, enquanto se é estudante começa-se a compreender a importância da gramática, das línguas estrangeiras e da geometria descritiva, e num piscar de olhos, já se está a abraçar a vida profissional, ocupada e dedicada a tarefas mais ou menos complexas.
Enquanto tudo isto acontece há uma constante interação com diversas pessoas: desde os pais aos amigos, passando pelos namorados, os professores, os colegas, os chefes, os filhos e tantos outros. E vai-se percebendo a importância e o papel que desempenham na vida de cada sujeito.
Pensemos nas figuras parentais e na influência que podem ter na vida dos seus filhos, nomeadamente na adolescência, período peculiar da vida do sujeito. Segundo Martins (2005), inicia-se com as transformações da puberdade (por volta dos 12 anos) e termina com a entrada na vida adulta (por volta dos 20 anos), não estando o seu final claramente definido.
Serão as figuras parentais uma fonte de inspiração e de luz? Ou, por outro lado, serão uma fonte de escuridão, sombra e conflito?
A adolescência não representa apenas um período de crescimento e desenvolvimento físicos. De acordo com Braconnier e Marcelli (2000) neste período verificam-se grandes mudanças a vários níveis, nomeadamente, social, familiar, afetivo e psicológico, com tendência à apresentação de comportamentos individuais e sociais bruscos, inconstantes e extremos. O adolescente procura a sua autonomia e independência ao mesmo tempo que requer a ajuda dos pais para as situações mais triviais do seu quotidiano, o que torna o adolescente um ser paradoxal, na medida em que é constantemente confrontado com contradições, desejando, em simultâneo, uma coisa e o seu contrário Braconnier e Marcelli (2000).
Nesta fase específica do seu desenvolvimento, a relação estabelecida com as figuras parentais é de crucial importância para o adolescente. Nessas circunstâncias, os estilos parentais são determinantes para o desenvolvimento de relações saudáveis ou de relações patológicas:
Pais autoritários: aproximam-se de uma disciplina pouco flexível e de pouca demonstração de afetos. Consequentemente, os adolescentes tornam-se incompetentes do ponto de vista social. Esquivam-se à responsabilidade ou lidam mal com ela, o que não lhes permite uma grande evolução.
Pais democráticos: demonstram carinho e impõem limites, estão próximos, manifestam-se constantemente e dão ao adolescente espaço para participar. Como consequência, os adolescentes sabem que são ouvidos, que são chamados a intervir, dialogam sobre os mais variados assuntos com os companheiros, manifestam alegria e boa disposição.
Pais permissivos: o espaço para a imposição de regras é praticamente inexistente, dando origem a muita brincadeira, muita atividade lúdica, muito afeto e pouca disciplina. Consequentemente, os adolescentes ficam sem objetivos e organizam-se com dificuldade. A ausência do não leva à ausência de limites. Por conseguirem tudo com excessiva facilidade, tornam-se adolescentes que não valorizam os objetos, nem as pessoas.
Pais negligentes: os filhos não são sentidos como tendo qualquer relação com os pais. Os pais não sentem qualquer responsabilidade para com os filhos. A maior parte da interação é negativa. Como consequência o desenvolvimento não é saudável, ando origem a psicopatologias de diversa ordem.
É recomendável que os pais estejam atentos ao estilo que adotam na forma como se relacionam com os seus filhos. Essa escolha, pode ser um caminho de construção ou de destruição, pode levar à aproximação ou ao afastamento. Pode ainda criar clivagens profundas e prolongadas ou até mesmo definitivas.
Ser pai e mãe é das tarefas mais complexas nos dias de hoje. É uma tarefa vitalícia, que requer atenção e cuidado constantes. E é também uma tarefa para a qual não se está automaticamente preparado.
Mas pode ser uma tarefa recheada de luminosidade e de entendimento.
Sejam faróis, inspirem, fortaleçam e ajudem os vossos adolescentes a tornarem-se adultos mais fortes e confiantes. Eles agradecem.
Braconnier, A., & Marcelli, D. (2000). As mil faces da adolescência (1ª ed.). Lisboa: Climepsi Editores.
Martins, M. J. (2005). Condutas agressivas na adolescência: Fatores de risco e de proteção. Análise Psicológica, 2 (23), 129-135.

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