in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2021
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A felicidade é um estilo de vida ou um destino?
A natureza da felicidade tem sido um tema de reflexão desde a antiguidade clássica. Filósofos como Demócrito, Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros, continuam a nos inspirar acerca do conceito da felicidade, que, por mais subjetivo que seja, reflete o anseio do humano de viver bem.
Tanto em espanhol - “Felicidad” como em português -“felicidade”, assim como felicità em italiano ou “fericire” em Romeno, as palavras para a felicidade têm raízes na palavra latina 'félix' que significa "fértil" e que parece ter sido acumulado muitos significados positivos ao longo do tempo como bem-sucedido, feliz, rico, agradável, charmoso, benéfico, habilidoso, prolífico.
O filósofo ocidental Demócrito conhecido como o "o filósofo risonho" foi o primeiro que enfatizou a virtude da "alegria". A felicidade ou bem-estar na etimologia grega era nomeada por "Eudaimonia" e tinha como o maior objetivo uma conduta moral que detinha as virtudes necessárias para alcançar a felicidade, o bem-estar. Objetivamente, Aristóteles referiu-se à importância de destacar os constituintes desse bem-estar e definir as ações necessárias para alcançá-lo.
Muitos filósofos têm contribuído para a ampla investigação sobre o que é a felicidade. Demócrito dizia que a felicidade não tem origem nem na sorte, nem nas circunstâncias externas, mas que ela “mora na alma“. Essa visão nos abre para uma reflexão mais profunda. É um convite para parar e observar, refletirmos sobre onde nos situamos nesta busca incessante da felicidade. Qual é a atitude pessoal, quais são as crenças e quem nos falou pela primeira vez sobre a felicidade? Conhecer melhor quais são as crenças que nos moldaram a nossa visão é igualmente importante como a ação que investimos para alcançar o nosso bem-estar. Senão podemos influenciar as nossas circunstâncias, cabe a nos escolher mudar a nossa atitude perante qualquer desafio na nossa vida.
Abraham Lincoln disse que “geralmente as pessoas são tão felizes quanto decidem ser”.
Então, se nós decidirmos ser felizes, como poderíamos imaginar uma prática quotidiana para cultivar um hábito positivo? Seria suficiente o compromisso de buscar a nossa felicidade em qualquer uma das suas formas, para viver um “Eu” mais um verdadeiro e autêntico? Se acordamos todos os dias mantendo na nossa mente a intenção de viver com uma atitude correta para o nosso bem-estar, aprofundar as nossas virtudes, seria suficiente alcançar a felicidade? Aprender a aceitar e valorizar a diferença, saborear a variedade das nossas experiências é apreciar a riqueza da natureza humana, isso seria um dos “exercício das virtudes” como Aristóteles sugeriu, uma prática que nos permita encontrar o equilíbrio entre “excesso e deficiência”. A visão de Aristóteles sobre felicidade ainda continua nos inspirar para ver a felicidade como ele, para além de um estado temporário, mas como um propósito da nossa existência humana, uma forma de viver. Isso seria uma prática consciente, que nos permitirá criar um foco para uma atitude positiva perante a nossa vida.
Gretchen Rubin, a autora do “The Happiness Project” acredita que não existe uma única solução que nos ajuda tornarmos mais felizes e que é necessário aprofundar o nosso conhecimento sobre a natureza humana para entender como podemos realmente melhorar as nossas vidas. O nosso “Eu” torna-se mais saudável, mais produtivo ou mais criativo quando nos conhecemos melhor e sabemos o que funciona, ou não para nós, desta forma tornamos mais conscientes acerca do que precisamos de nos responsabilizamos para mudar os nossos hábitos e as nossas vidas.
Saber que podemos cultivar o nosso bem-estar pode servir como uma bússola para navegar nas nossas vidas de uma forma mais serena, leve e feliz.
Podemos pensar na felicidade como um hábito quotidiano ou uma visão para a vida. O monge budista Matthieu Ricard diz que podemos treinar as nossas mentes para criar hábitos de bem-estar e para gerar um verdadeiro sentido de serenidade e realização nas nossas vidas. Isso vem do discernimento de fazer a distinção entre o que nos preenche e nos faz feliz e o que não.
Mas o que é que melhor descreve a felicidade? Que haja uma visão individual ou uma visão comum, isso pode abrir uma ampla discussão sobre quais poderiam ser os componentes da felicidade. Portanto, o que é felicidade para si? Quantas vezes ouvimos que a felicidade não é um destino, mas uma viagem!? Isto poderá nos lembrar apreciar a jornada da nossa vida, saber que o destino é escolher ser feliz. Portanto, pare por um momento e dá-te a resposta a essa pergunta: O que mais contribui para a minha felicidade? E porquê? Se a felicidade assenta na profunda satisfação, como Dalai Lama diz qual é o caminho para lá chegar? De qual modo podemos cultivar e viver a nossa alegria, desenvolver as certas habilidades para progredir e alcançar um bem-estar duradouro e equilibrado?
Dá nos felicidade sentir e saber que temos uma escolha? É importante saber que temos sempre escolha, mesmo que por vezes algumas deles poderão nos trazer desafios, confrontar nos com o desconhecido, com a dor. Nestes momentos, teremos a oportunidade nos conhecer melhor, estar atentes e ver quais são as estratégias ou as habilidades que podemos cultivar e reforçar em nos para continuar seguir a nossa bússola interna, o nosso verdadeiro ser autentico ao respeito dos nossos valores acerca da felicidade, como um modo da vida.
Na verdade, “A felicidade não é a ausência de problemas, é a capacidade de lidar com eles.” – disse Steve Maraboli no seu livro “Life, the Truth and being Free”. Nesta perspetiva, cabe a nos cultivar uma atitude correta e ser cada vez mais fieis perante as nossas necessidades.
Se todos os dias acordarmos com a intenção de viver à altura de cada momento, nos dá a oportunidade de estar mais conectados connosco, sentir melhor o que é agradável ou benéfico e escolher cada vez mais neste sentido. Sem dúvida, quando estarmos desafiados perante a vida, os pensamentos podem tornar-se mais negativos, se calhar o foco nas tarefas quotidianas e diárias nos cansa e eventualmente podemos sentir que por vezes estamos muito longe de alcançar a felicidade. Porem, teremos sempre uma escolha como agir, por exemplo, ao escolhermos ter um momento de silêncio podemos dedicar esse fôlego à nossa gratidão por estarmos vivos, independentemente das vicissitudes da vida quotidiana e, principalmente, dos desafios do dia-a-dia, podemos decidir à cada respiração nos respeitar, estar ao serviço da nossa intenção, ser feliz.
Uma metáfora que surge acerca disso, é imaginar que a sua felicidade é uma flor que precisa de agua, luz, uma terra fértil e de ser cuidada conforme as necessidades dela. Assim, se gostamos e apreciamos a beleza que essa flor, nós dá, a cuidamos com muito amor e somos mais responsáveis. Como a importância de conhecer as necessidades dessa flor, é igualmente importante conhecer as nossas necessidades. Maslow, na sua pirâmide das necessidades refere às 3 categorias importantes que, de acordo com ele, influencia a nossa felicidade: às mais básicas, fisiológicas - o cuidar o nosso corpo, as psicológicas – o cuidar do nosso bem-estar mental e a parte de autorrealização e de crescimento pessoal.
No fundo, cabe a nós criar um “terreno fértil” para cultivar as virtudes que precisamos para o nosso bem-estar. Uma vida feliz e genuína incluirá uma ampla gama de condições com certeza, e como William Arthur Ward disse, a felicidade é um trabalho interno, de cada indivíduo. Isso nos faz voltar à perspetiva budista, que reforça a ideia do monge Mattieu Ricard que afinal a felicidade reside em cada um de nos. Portanto, para cultiva-la isso exige o tal exercício que Aristóteles sugeria e para isso será importante que cada um encontrasse a própria prática para a cultiva-la.
São vários os aspetos da vida que podem nos ajudar a alcançar uma vida longa e feliz. A filosofia japonesa nos oferece o termo “Ikigai”, que significa “a razão de viver” ou o significado que nos faz acordar todos os dias. O conceito vem da sul de Japão desvendar o segredo Japonês para viver uma vida longa e feliz. A filosofia Ikigai destaca o propósito que temos na vida e é antes de tudo é um conceito de autoconhecimento. Ikigai se distingue como uma verdadeira filosofia da vida e propõe uma jornada de auto descoberta com promessa de alcançar pequenas e grandes fontes de realização. A prática que nos é proposta nessa alínea é refletir acerca de 4 perguntas apresentadas a seguir:
1. O que eu mais amo?
2. O que eu sei fazer bem?
3. Onde é que o mundo precisa de mim?
4. Para que posso ser bem remunerado?
Encontrar o equilíbrio nas respostas, esse exercício nos traz uma forma, muito prática de nos conhecer e refletir acerca do nosso propósito, encontrar as respostas que eventualmente nos poderão guiar na nossa jornada de longevidade e felicidade. É importante saber que os princípios dessa prática nos ajuda a descobrir aquelas virtudes que falamos no início, nos conhecermos melhor, valorizar as nossas habilidades, permitirmo-nos vive-las num estado fluido e harmonioso mas também de uma forma sustentável. Por fim, o princípio de viver alegria de cada momento, das pequenas coisas é um convite que mais valia o relembrar, de apreciar tudo sem discriminação e dar valor a todas experiências que a vida nos proporciona enquanto escolhemos viver a nossa vida com um propósito de alcançar a felicidade em cada momento, cada respiração, cada passo nessa jornada.
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