Por Carla Duarte
in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2022
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Assim, a espiritualidade pode e deve enriquecer a fama, desde que não sejamos consumidos por ela. Isso seria sair, perigosamente, do equilíbrio que mantém a nossa sanidade e evolução, e faz a nossa vida fluir, independentemente da fragilidade da nossa imagem.
Para pensar se fama e espiritualidade são conceitos compatíveis, precisamos talvez definir que tipo de fama e que tipo de espiritualidade estamos a falar. Percebendo que ser famoso é ser conhecido ou reconhecido e por vezes, até podemos ganhar má fama, por algo menos bom que nem se chegou a fazer.
Já a espiritualidade é algo que se conquista com muito trabalho interno e não há a necessidade de, obrigatoriamente o demonstrar, apenas de o viver para nós e por vezes colocar isso mesmo ao serviço da humanidade. Para um ser espiritual a fama é secundária e por isso bem-vinda quando chega, mas vivida com tranquilidade quando se vai embora.
Sabemos que tudo na vida é passageiro, até a própria vida e principalmente a fama. Para atingir a plenitude é necessário aceitar essa mudança constante sem demasiado drama ou apego, sem demasiado desdém ou orgulho, mas antes com gratidão idêntica quando ela chega à nossa vida e também quando se vai embora.
A espiritualidade faz-nos compreender mais profundamente que a fama pode parecer depender de algo realizado por nós, mas na verdade, ela é apenas o resultado das ideias e formas de pensar de um outro, que na maioria das vezes não nos conhece e faz apenas a sua interpretação, baseada nos seus próprios valores e nos julga perante os seus próprios padrões. E é isso mesmo que torna a fama algo tão perigosa. Tem tanto de forte e inebriante, como de decadentemente frágil porque depende sempre de uma referência exterior.
O lema “Cria fama e deita-te a dormir”, na espiritualidade não existe, porque aí o caminho, não é um dado adquirido, mas varia consoante o empenho e o tempo que aplicamos nessa jornada. Não se pode dizer - Eu sou espiritual, e sim - Eu estou espiritual, é algo que, quando bem feito, é entrega, crescimento, consciência e empatia. Começa como treino e aprendizagem e mantém-se como um estilo de vida e uma dádiva a nós e aos outros.
Se a fama pode existir numa pessoa espiritual, é o mesmo que perguntar se a fama pode existir numa pessoa não espiritual, claro que sim.
Por exemplo tanto o Dalai Lama ou Papa Francisco, que são indiscutivelmente famosos e são certamente espirituais. A diferença entre esses famosos e outros, do cinema, televisão, do teatro ou da política é que provavelmente a forma como lidam com essa fama, é mais desapegada e até mais saudável nos verdadeiros espirituais.
Quando temos demasiada aversão ao tema, a ser conhecido ou ser reconhecido, e dizemos que assim é porque ‘não temos ego’, existe então algo mais a aprender, onde podemos crescer e equilibrar em nós a forma de aceitar, sem medo, que os outros podem ter poder sobre a ideia que fazem de nós, mas sem que isso nos afete demasiado.
Então estamos ainda na fase do Ermita. Um ser evoluído espiritualmente não tem problemas com poder ser famoso, entende que dessa forma pode chegar a um maior número de pessoas, que pode assim ajudar ou inspirar.
O bom de alcançar a fama e vivê-la de uma forma mais desprendida é que essa fama acaba por não nos definir, não nos afeta tanto nem quando esta está no auge nem quando está em declínio. Há a plena consciência do que valemos e do que somos e não é alguém de fora que tem o poder de mudar isso. A fama é controlada por outros, já a espiritualidade é mantida de nós para nós e não tem de ser afetada.
O ideal seria mesmo, sempre que a fama nos batesse à porta, começar a cultivar a espiritualidade, porque quando a fama, que pode ser muito cruel, nos bater com a porta na cara, teremos sempre a capacidade de perceber que há um motivo realmente para tudo ser como é, e agradecer em vez de desesperar.
Passar a ter má fama, por exemplo, pode ter repercussões devastadoras se não houver estofo emocional e espiritual. Se não existir uma base muito forte, a crueldade da fama e de quem a comanda, pode arrasar com pessoas com tanta facilidade, como as encanta e inebria no início.
É urgente perceber que fama é algo exterior, que vem de fora. Algo que nos é colocado como um rótulo e que depende de quem nos vê e nos julga. A espiritualidade é algo de dentro, que não precisa de confirmações exteriores, que cresce connosco, nos aconchega e nos basta. No entanto, quando essa espiritualidade é reconhecida pode colocar-se ao serviço dos outros e ser uma mais valia aliada à fama.
Que a fama dependa sempre da boa espiritualidade, mas que a espiritualidade nunca dependa da fama.
FORMADORA E TERAPEUTA DE ORIENTAÇÃO / TAROT
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in REVISTA PROGREDIR | DEZEMBRO 2022
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