Por Maria Melo
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2012
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Será que os motivos que nos levam a escolher viver com o outro continuam a ser a vontade de partilhar uma vida a dois, de construir um ambiente saudável para o crescimento e desenvolvimento de ambos? Existem estudos (Rosário Mauritti) que revelam que ainda é grande a percentagem daqueles que escolhem viver a dois pela facilidade da divisão das despesas e por receio de ficar só. Mas os números começam a inverter, talvez porque começamos a mudar o significado da palavra solidão para a palavra liberdade. Estamos a construir uma sociedade mais livre nas escolhas de com quem se quer estar e viver da forma que mais nos conforta e nos faz feliz.
Bo Söderberg, investigador sueco do Institute for Housing and Urban Research (IBF), da Universidade de Uppsala, aponta várias razões. Por um lado, um padrão de vida mais elevado "permite que se façam escolhas livres", significando que os jovens têm capacidade de ficar sozinhos por mais tempo. E as famílias também podem separar-se mais facilmente "se não estão forçadas a estar juntas por razões económicas". A taxa de emprego é semelhante entre homens e mulheres, o que significa que "economicamente, as mulheres são tão independentes quanto os homens e podem escolher onde viver, como viver e com quem viver”, lembra o investigador.
Apesar de começarmos a ver a mudança, ainda é mal aceite socialmente pelos mais velhos aquele que aos 35 anos viva sozinho, não existindo por vezes a perceção de que pode ser uma escolha pessoal e não um Karma. Somos confrontados com a diferença das gerações mais antigas, aonde a vida a dois era algo instituído.
Viver sozinho não é sinónimo de ser solitário ou estar isolado. Frequentemente, é o inverso que acontece. A possibilidade de escolha por uma vida independente acaba por promover uma intensificação dos laços e das trocas que se estabelecem na intimidade, como refere Rosário Mauritti. Levando até a um maior envolvimento social e cívico.
Talvez nem todos tenhamos a vontade e apetência para vivermos sós, a personalidade de cada um é sem dúvida um fator determinante nessa escolha. A necessidade maior ou menor de dependência no relacionamento com os outros através dos laços sociais que estabelecemos uns com os outros.
A mudança do paradigma cria desta forma um ser humano mais independente e mais autossuficiente, o que leva à mudança na forma de ver a vida a dois, as ligações e as relações familiares. Percebemos hoje que não precisamos de renunciar à nossa individualidade por nada nem ninguém. Podemos hoje viver a nossa liberdade na escolha.
"Aquele que conhece a arte de viver consigo próprio ignora o aborrecimento." - Erasmo
"A solidão é o império da consciência." - Bécquer , Gustavo