Por Isabel Ferreira.
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2012
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
O conceito de espiritualidade foi sendo desenvolvido na humanidade ao longo de milénios, apostando cada vez mais na dicotomia entre a matéria e o espírito, ao ponto de nos vermos dentro de um e fora do outro e acharmos que são mundos opostos de entre os quais temos que escolher.
Esta ilusão tem levado à angústia milhões de pessoas e à rejeição da espiritualidade por parte de muitas outras que não conseguem perceber porque é que têm que fazer uma escolha que os separa do prazer da vida, para alcançarem uma consciência mais profunda de si e do mundo.
Num mundo em que tudo nos parece separado em opostos, parece que esta fantasia tem alguma lógica. Mas saberemos nós pensar fora da oposição de conceitos? O que existirá do lado de lá? Se não virmos as coisas como pretas ou brancas, altas ou baixas, bonitas ou feias, o que veremos?
Esta é a questão com que todos nos defrontamos no momento actual. Estamos a esgotar os opostos, pois puxando exaustivamente, para cada um dos lados da oposição, acabamos por fazer explodir a tensão que a mantém e alimenta. Entre os opostos gera-se tensão, energia que os mantém separados numa dança de balancé.
Estar na Terra parece ser uma condição de separação das “coisas” do Céu. Estar no Céu parece ser “perder” a Terra. Será verdade?
Que tal darmos um salto de gigante na nossa mentalidade e levar a Terra ao Céu e trazer o Céu à Terra? Estará o Céu tão longe da vida terrena? Somente o tabu e a ignorância têm evitado que o ser humano desperte para a sua Realidade intrínseca e o tenha isolado de uma visão inteligente e sábia da Vida.
Haverá alguma coisa na Terra que não tenha uma origem espiritual? Todas as coisas terrenas são um “efeito” de algo que não tem nada de físico – as ideias. Nenhum objecto existe sem ter sido “concebido” por uma ideia de alguém.
Vivemos num mundo de informação, organizado em ideias, que circulam pelo colectivo de todas as mentes. Vemos os objectos como se eles fossem causa de si mesmos e que existem porque alguém os fez acontecer. E paramos por aí. O que aconteceu antes? Não vale a pena pensar sobre isso, porque parece irrelevante…
É na “irrelevância” desta atitude que nos perdemos como seres inteligentes e verdadeiramente conscientes. Quando percebermos que o mundo em que vivemos não é um mundo de objectos, mas um mundo de informação e ideias, teremos uma noção muito mais próxima da Verdade da natureza da Vida e da sua manifestação física.
Não existe na Terra absolutamente nada que não tenha surgido de uma intenção. O motor da Vida está na mente dos seres humanos. A natureza da matéria não é física. Os físicos quânticos vêm explicando que, num nível mais profundo, toda a matéria é energia e que toda a energia é despertada no campo quântico pela observação de uma mente. Poderemos separar o físico do não físico?
A ideia de que temos de abrir mão dos prazeres da vida física para merecermos o Céu é uma forma de castrar o ser humano, fazendo-o viver num mundo de formas e objectos, criar-lhe apetências para o seu desfrute e, em seguida, puni-lo com a ideia de que esse gozo é um pecado que o afasta do Céu. Para mantermos esta fantasia hedionda, criámos a ideia de que o Céu pertence a Deus e o mundo físico pertence ao Diabo. A escolha entre um ou outro é a “maldição” que nos espera…
Uma mentalidade que investe neste tipo de crenças não pode senão, criar um mundo de descontentamento, com elevada repressão emocional, que nunca chega a ser percebida pelo que é.
Não há que escolher entre o Céu e a Terra. Há que os unir na nossa mente. Reconciliar os opostos é a única maneira que temos de anular a visão dualista onde estamos mergulhados. Encontram-se no Ponto Zero do atrito criado entre a tensão que separa os aparentes opostos.
Esta nova forma de procurar pela razão de ser da nossa vida levar-nos-á a tocar o espaço interior onde a inteligência criadora e a Sabedoria natural habita. Um mundo dividido entre duas partes que se digladiam, não se permite ser palco de uma nova mentalidade que o liberte da auto-destruição a que está a ser sujeito.
Cada ser humano fará a sua caminhada para fora deste círculo vicioso que vai corroendo a saúde, a abundância e o bem-estar entre os povos e as culturas. Estamos no limiar desta grande mudança e os desafios não podem ser resolvidos de “fora para dentro”. Continuamos em círculos à procura de respostas nos “efeitos” e não nas “causas”. Onde estarão as causas, senão na nossa mentalidade? E a que reino pertencem? Ao Céu ou à Terra? Certamente a nenhum deles. A mentalidade que obriga os seres humanos, a viverem em oposição sistemática, não pode levar-nos ao Reconhecimento do Céu, dentro e fora de nós.
O que será viver no Céu, na Terra? Certamente algo que a mentalidade corrente não pode perceber… Será o Céu um lugar distante, com um princípio, meio e fim? Será uma “réplica” da Terra, noutro local e cheio de “anjinhos” sensaborões, privados de alegria e do desfrute pleno da Vida?
Ainda acreditamos no Pai Natal? Se assim for, a visão do Céu num outro lugar, pode fazer-nos sentido. Porém, se estivermos mais além, certamente perceberemos que o Céu é um estado interior de Paz e serenidade, imbuído de Sabedoria e Inteligência. Onde viverá essa experiência? Dentro de cada mente e corpo onde a visão do bom e do mau, do certo e do errado, do justo e do injusto se foi, para dar lugar a uma visão integral e una da Vida.
Tudo o que existe vive para desfrutar de si, como expressão da Criação. Porque existiria tanta beleza na Terra se não fosse para nos deleitarmos e regozijarmos de sermos os seus criadores, num nível onde somos UM com Tudo o que existe por expressar e já expresso? Haverá outro propósito para a manifestação de tão belo mundo e Universo?
Se retirarmos os rótulos que a mente dualista dá às coisas, aos objectos e às pessoas, perceberemos que, por debaixo desta “leitura” disfuncional, vive a verdadeira “Beleza” da Criação.
Será, então, a nossa “leitura” que nos oferece o “Inferno” ou o “Céu” e o mundo que parecia ser mau, cruel, injusto e carente é libertado para se nos oferecer em toda a sua pujança de Amor!
O mundo, em si mesmo, é sem significado, assim nos diz o Curso em Milagres. A sua “leitura” pode ser feita de acordo com a mentalidade que olha e o percepciona. Mas o livre arbítrio assiste-nos e podemos escolher!
Levar a Terra ao Céu representa lavar a nossa mentalidade do medo e da culpa e curar a mente que se deixou condicionar por uma consciência limitada e presa na ignorância.
Estamos na Nova Era da Terra! Quer embarcar?
Oradora e fundadora da Escola de Coaching ECIT
www.escoladecoaching.com
[email protected]
REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2012