in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2013
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Quando escrevemos estamos a expressar o conteúdo dos nossos pensamentos e das nossas emoções, colocando à nossa disposição um enorme conjunto de situações que devem ser reinterpretadas, integradas e devem também servir de base para o começo de novos desafios e o encerramento e início de novos ciclos de vida.
Escrever sobre o quê? Escrever com que sentido e finalidade? É preciso escrever para me conhecer? Como posso escrever sobre o que sinto?
Estas são algumas das questões que podem estar a surgir aquando a leitura deste artigo e cujas respostas vão surgindo espontaneamente, pois variam de indivíduo para indivíduo consoante a sua necessidade de compreensão, conhecimento e pela sua coragem de iniciar ou continuar um caminho de descoberta de si mesmo com consciência, aceitação e transformação.
Vivemos inúmeras situações causadoras de uma multiplicidade de emoções que ora são novidade ora assemelham-se às que sentimos ecoar dentro de nós em outras situações em nada idênticas. As emoções fazem parte do nosso sentir, das nossas experiências e mesmo que sejam conceitos definidos, o seu significado varia consoante a pessoa que as vive e sente. O Sentir é um processo único e individual.
Podemos escrever sobre tudo aquilo que vivemos, sentimos, ou seja, sobre todas as nossas experiências quer sejam causadoras de emoções menos ou mais positivas. A vida oferece-nos diariamente muitos motivos pelos quais escrever derivados das nossas relações pessoais, da relação connosco próprios, da forma como vivemos e visionamos o mundo em nosso redor.
Podemos escrever sobre situações com uma carga emocional menos positiva como por exemplo sobre a morte, perda, dor, separação, abandono, doença, medo, dúvida e sobre situações com uma carga emocional positiva como a gratidão, o encontro, os sonhos, as conquistas, os objetivos, o reconhecimento, entre outras situações que queiramos explorar e façam parte do crescimento de cada um de nós.
A escrita oferece uma capacidade única e surpreendente de reinterpretar as situações que vivemos no passado, as que estamos a viver e aqueles que gostaríamos de Viver, pois para a escrita não existe passado, presente, futuro, mas sim as emoções que fazem parte de nós e nos definem.
Escrevemos para nos conhecermos, independentemente de idealização de que sabemos verdadeiramente quem somos, pois o grande processo da nossa Vida é o constante crescimento, desenvolvimento e conhecimento de quem somos, através da análise e aceitação de todos os nossos processos vivenciais. Não há um fim associado ao processo de escrever, pois tal como a vida, é um processo contínuo, mutável, com oscilações derivadas das emoções que experienciamos em determinados contextos.
A escrita, surge assim, como ferramenta de autoconhecimento, pois permite-nos expressar livremente, em consciência e sem juízos de valor tudo aquilo que sentimos em determinados momentos e a leitura de tudo o que escrevemos, faz com que possamos assimilar alguns momentos que julgávamos compreendidos e resolvidos. Neste processo de escrita e leitura comparamos conscientemente o conhecimento que tínhamos e o que adquirimos das nossas experiências e da forma como nos comportamos em diversos contextos.
A escrita não é obrigatória num processo de conhecimento, existindo outras formas de conduzir esse mesmo processo, mas é mais uma ferramenta que se encontra ao nosso total dispor para ser utilizada sempre que queiramos e se assim o desejarmos, em consciência e motivados pela nossa necessidade de nos conhecermos mais e melhor. Diferencia-se da escrita criativa, pois é um tipo de escrita que depende do que escrevemos e não da forma como expressamos o que sentimos.
Para desbravar o nosso caminho de conhecimento, descoberta há que escrever livremente, sem críticas, aceitando que o que colocamos em palavras é fruto das nossas experiências e assim sendo, é algo genuíno e único. Não há escritas iguais mesmo que os contextos sejam idênticos e mesmo quando duas pessoas escrevem sobre a mesma situação, cada um irá expressar o que sentiu mediante a sua forma muito pessoal de sentir e partilhar.
Escrever, conhecer, viver foi o título selecionado para este artigo, pois resume a essência da escrita como ferramenta do autoconhecimento: quando escrevemos sobre o que vivemos, o que sentimos, conhecemos um pouco mais sobre a nossa forma de ser e estar e assim vivemos com mais consciência, plenitude relacionando-nos de uma forma mais saudável e genuína.
ENFERMEIRO, ESCRITOR
ricardosousafonseca.pt.to
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2013