Por Fernanda Botelho
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2013
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Na Idade média, na Europa, muitas mulheres foram queimadas, acusadas de bruxaria por simplesmente serem conhecedoras dos poderes das plantas e conseguirem tratar problemas que a igreja considerava que só Deus poderia resolver.
Mas o cenário mudou. Existe hoje um número cada vez maior de pessoas a procurar saber sobre as plantas que crescem à nossa volta. Em vez de as considerar ervas-daninhas, alvo a abater, muitas vezes com químicos extremamente nocivos para todos os seres vivos; nota-se agora uma viragem na forma de olhar e estar com a Natureza, considerando-a uma aliada e amiga, reconhecendo-lhe finalmente todos os benefícios que Ela tem ao longo dos anos aportado ao ser humano.
Não é novidade nenhuma que estar em contacto próximo e regular com a Natureza é das melhores terapias para as psicoses que afetam muita gente. Ajuda a resolver muitos problemas e a aliviar o stress.
Mas estar no campo, olhar para as plantas e reconhecer-lhes o nome e até talvez a família a que pertence e as suas múltiplas utilizações culinárias, terapêuticas e simbólicas tem sido motivo de muita procura para passeios e workshops de reconhecimento de plantas silvestres medicinais e flores comestíveis. Iremos apresentar de seguida algumas plantas características do nosso país. Uma das plantas mais utilizadas em Portugal é a malva (Malva sylvestris), sempre se usou com comprovada eficácia em lavagens, daí o ditado “lavar o rabinho com água de malvas”. De facto as malvas têm uma excelente ação anti-inflamatória, para curar conjuntivites, todo o tipo de irritações cutâneas incluindo eczema ou psoríase. Em uso interno, em forma de infusão, é muito benéfica para tratar ulceras de estômago. Pode também ser usada como legume em sopas e guisados.
Podem aproveitar-se as raízes que são um excelente expetorante, acalmando as tosses irritadas, as folhas usam-se em infusões e para fins culinários, as flores utilizam-se em saladas ou também as pode colocar dentro de um frasco com mel e assim confecionar um agradável e eficaz remédio contra a tosse, as suas sementes têm o nome popular de queijinhos e são muito úteis no tratamento de aftas devido à sua alta concentração em mucilagem. Existe mesmo um ditado espanhol que diz “Uma horta e malvas, remédios suficientes para um lar”.
A erva-de-são-Roberto (Geranium rober tianum) é outra das plantas muito conhecidas pelo país fora, já a tomaram mas não a reconhecem, ela é muito comum nas beiras de estradas e caminhos, nos muros, clareiras de bosques, locais com alguma humidade e sombra. Serve para tratar problemas de fígado e vesícula e vários distúrbios do sistema digestivo.
As urtigas têm uma infinidade de utilizações culinárias e terapêuticas, servindo para tratar pessoas, especialmente convalescentes, anémicas ou deprimidas. São úteis também no tratamento de outras plantas, usada como
fertilizante ou repelente de pulgões. Existe mesmo uma confraria das urtigas em Fornos de Algodres que celebra anualmente a riqueza desta fantástica planta. Desde a Antiguidade que as propriedades medicinais da urtiga são conhecidas; Dióscorides, Plínio e Santa Hidelgarda, grandes estudiosos do mundo das plantas, deixaram-nos importantes informações sobre as propriedades, usos e virtudes desta magnífica planta.
A urtiga, é uma das plantas mais comuns entre nós, sente-se bem perto do ser humano, prefere solos férteis, húmidos, ricos em matéria orgânica. Quanto ao seu aspeto, dispensa grandes apresentações. Em relação às suas propriedades, é uma planta de grande valor: é muito rica em vitaminas e minerais, entre eles ferro, cálcio, cobre, magnésio, ácido silício, potássio, zinco, vitaminas A, B2 eB5, C e E. O zinco faz dela uma planta importante contra a queda de cabelo e unhas quebradiças. É um dos remédios mais eficazes no combate às anemias pois aumenta a quantidade de células vermelhas no sangue.
Devido ao potássio e flavonoides, tem ação diurética, aumentando a produção de urina e a eliminação de ácido úrico, o que explica a sua utilização também no tratamento de artrite e gota. Existem mesmo alguns corajosos que tenham aplicado diretamente a urtiga sobre articulações dolorosas e arterites,com sucesso.
As suas propriedades hemostáticas, adstringentes, fazem dela um excelente remédio para estancar hemorragias internas e externas, hemorragias nasais e menstruações abundantes. A urtiga é considerada uma grande aliada das mulheres, duas chávenas de chá por dia, nutrem e equilibram o sistema hormonal e reprodutor, enriquecem a qualidade do sangue e aumentam a capacidade das células de metabolizar nutrientes, ajuda também nas dores menstruais. Muitas parteiras recomendavam o uso regular de chá de urtigas a partir do sexto mês de gravidez, pois aumenta e enriquece consideravelmente a qualidade do leite materno, ajudando também a estancar as hemorragias pós-parto.
Alivia e cicatriza úlceras de estômago e intestinos, tonifica o fígado e todo o aparelho digestivo, útil também para tratar hemorroidas. Não podemos esquecer-nos de mencionar a sua utilidade na cosmética, onde é utilizada principalmente como tónico capilar, contra a caspa e queda de cabelo, este tónico obtém-se fazendo uma forte infusão das folhas, que depois de coada se utiliza para enxaguar o cabelo. Está comprovado que o consumo de urtigas em forma de sumo, chá ou vários cozinhados, causa bem-estar geral, pensando-se por isso que esteja relacionado com o facto de um dos seus componentes ser a serotonina.
AUTORA DE VÁRIOS LIVROS E AGENDAS SOBRE PLANTAS MEDICINAIS, ORGANIZA PASSEIOS E WORKSHOPS SOBRE O TEMA
malvasilvestre.blogspot.pt
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in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2013