Por Marta Pacheco
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
O conceito de equanimidade é muito recente na nossa cultura, e o mesmo começou a ter mais enfâse quando em Portugal se inicia um novo ciclo de estudos ligado as terapias de terceira geração que ganham forma e força. Nestas terapias encontramos por exemplo as práticas mindfulness.
Equanimidade significa serenidade de espírito. É um estado natural e relaxado, a capacidade de experimentar de maneira estável as diferentes situações do mundo físico, das sensações, da mente e dos fenómenos. É caraterizada pela profunda tranquilidade, completamente livre de oscilações. Nada paga o preço de estarmos felizes por nós mesmos. Alcançando este estágio, até mesmo os relacionamentos ficam mais fáceis de se lidar. Isto traz uma paz incomensurável.
A ideia da equanimidade é muito forte entre os budistas, onde abraçam esta filosofia de vida, e entendem que a fonte de todo o sofrimento vem da ignorância, do apego ao desejo e do apego à aversão. Quem vive na ignorância não percebe que o apego é o que traz o sofrimento. O princípio da equanimidade é a base da grande compaixão, que, por sua vez, alicerça o despertar da mente da iluminação, definida como "o desejo de atingir a iluminação para o benefício de todos os seres.
Em termos psicológicos, trata-se do processo de tomada de consciência dos nossos condicionamentos e do alinhamento no processo de transformação pessoal. Enquanto a renúncia se enraíza em considerações cada vez mais sutis e profundas acerca da ética – a ética da individuação – o despertar da mente da iluminação, implica um comprometimento com outro, a ponto de não ser mais possível a passividade diante de seu sofrimento.
Muitas vezes, ou a maioria das vezes, dizemos: “eu quero” ou “eu não quero” quando isto acontece, estamos a deixar de viver o momento presente para criar – na nossa mente – uma ideia de uma vida perfeita que simplesmente não existe no momento. Como a ideia não bate certo com a realidade sofremos.
"Este estado de equanimidade manifesta-se como uma reação equilibrada na alegria e na tristeza e que protege contra a agitação emocional” Bodhi
Deve-se notar que a forma ideal de equanimidade abraçada pelo Budismo também inclui ter uma atitude igual para todos os seres, sem os limites, que temos o hábito de desenhar, entre amigos, estranhos e aqueles que consideramos “pessoas difíceis”. Em outras palavras, Tsering citava “considerar todos os seres como iguais no seu direito a ter felicidade e a evitar o sofrimento”, e para Bodhi “tratá-los sem discriminação, sem preferências e preconceitos." Este aspecto da equanimidade pode ser cultivado com métodos específicos de prática contemplativa.
Há uma maneira de ver o mundo a preto e branco e há uma maneira de ver o mundo de todas as suas cores brilhantes. Somos programados para ambas as maneiras, no entanto a primeira é muito mais rápida, porque existe há muito mais tempo, devemos procurar assim, o que é brilhante e prazeroso para conseguirmos viver com mais plenitude e de forma saudável a todos os níveis, pessoais e relacionais.
Efetivamente, a forma como percepcionamos o mundo e a dinâmica que estabelecemos nas nossas relações em interação com as pessoas e todo o meio envolvente, é muito mais importante do que podemos imaginar. A realidade que criamos para a nossa sobrevivência individual influenciara também toda a dinâmica do mundo exterior. As relações interpessoais acontecem por meio da interação compartilhada por duas ou mais pessoas. As interações não ocorrem no vazio, acontecem em diversos contextos, sejam eles organizacionais, educacionais, familiares ou comunitários.
Da mesma forma, num estado equânime pode-mos ter experiências agradáveis ou recompensadoras, sem se estar super-animado ou tentar prolongar essas experiências ou tornarmo-nos viciado nelas. Cultivar a equanimidade consiste em observar profundamente como reagimos a presença (dos opostos) no percurso da nossa vida.
A prática da equanimidade não significa que devemos tornar-nos seres passivos. Quando faz calor, nós abrimos a janela. Mas cada vez que não está em nosso poder modificar as coisas, é possível para nós um refúgio interior?
Esse refúgio interior é nossa capacidade de ser equânime.
MESTRE EM PSICOLOGIA CLÍNICA
TERAPEUTA DE REIKI E REGRESSÃO
PROFESSORA DE MEDITAÇÃO
TRANSPESSOAL E REIKI
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2017
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