Por Sofia Pérez
in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2017
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Ao confrontar-se com cenários deste tipo, já alguma vez refletiu se é normal sentir-se tão imensamente feliz e tão profundamente desesperado? Ser arrastado num turbilhão de emoções e sentimentos que o puxam ora para cima ora para baixo?
E aquelas “pequenas coisas” do dia a dia, que em vez de passarem por nós, como as árvores numa estrada quando conduzimos, ficam apegadas à nossa mente e conseguem estragar-nos o dia? Dando como exemplo quando alguém nos critica.
Se tivermos a capacidade de sermos mais do que a pequenez da nossa psique egocêntrica, poderemos analisar se aquela crítica acrescenta alguma coisa válida e até nos permite melhorar, ou se é apenas uma crítica baseada na experiência e na visão do mundo de uma pessoa, e, naturalmente, deixarmos ir essa sensação.
Este tipo de análise exige que saibamos quem somos e é aqui que entra a Equanimidade: “uma reação equilibrada na alegria e na tristeza e que protege contra a agitação emocional” (Bodhi, 2005).
Um estado mental sereno e equilibrado independentemente da sua valência afetiva: agradável, desagradável ou neutra. A equanimidade envolve um certo tipo de imparcialidade, o que não implica nem indiferença nem distanciamento. Aqui o que é sugerido é experimentar pensamentos ou emoções desagradáveis, sem reprimi-los, negá-los ou julgá-los, ou ter experiências agradáveis sem prolongar essas experiências ou tornar-se viciado nelas.
A equanimidade sugere examinar, explorar sem nos apegarmos ao que observamos e não ficar preso à experiência transformando-a em algo mais. A forma como recebemos essas experiências vai depender da nossa capacidade de perceção do todo.
Parece uma tarefa impossível? Exige um treino diário, sem dúvida, mas não é impossível.
Nós, indivíduos, criamos um modelo de como a nossa vida deve funcionar e encetamos todos os esforços possíveis para o manter de pé. De repente, ocorre um acontecimento que sai fora desse modelo e, automaticamente, provoca-nos um desequilíbrio interior que põe em causa o modelo.
O que tentamos fazer diariamente é construir fortalezas em torno desse modelo para que nada o possa derrubar ou perturbar. E quem é que faz esse trabalho desgastante diário de construir fortalezas? A nossa mente.
É a eterna luta pela sobrevivência da espécie. A maioria de nós já não necessita de se proteger fisicamente, não temos que fugir constantemente de animais selvagens. A nossa luta atual é com a nossa mente onde lidamos com medos interiores baseados nas nossas inseguranças e nas nossas crenças.
Esta construção de um modelo é a tentativa de controlarmos o mundo exterior. É esta a tarefa que damos à nossa mente. É uma tarefa impossível em que inevitavelmente falhamos, pois criamos a ideia de um mundo que só existe dentro de nós. Qual é o propósito deste controlo? Evitar a dor. E para evitar a dor acabamos, paradoxalmente, por viver no sofrimento dessa instabilidade, à mercê dos altos e baixos de uma psique desequilibrada.
A dor faz parte da vida, é inevitável e, até, desejável pois é ela que nos permite evoluir e rasgar os limites da mente. Já o sofrimento é uma opção e tem origem no apego. Ser equânime promove o fim do sofrimento.
O apego não nos permite ser equânimes. Ocorre nas experiências “más”, mas também nas “boas” e faz com que estas fiquem bloqueadas, presas a nós: “Eu sou tão feliz com a minha namorada, sinto-me tão amado. Não quero que ela se vá embora.” Quando a experiência é boa, recriamos esse sentimento vezes sem conta e corremos o risco de nos apegarmos excessivamente de tal forma que nos tornamos dependentes de alguém ou de alguma coisa. Quando e se esse alguém sai da nossa vida, o nosso modelo de controlo do mundo exterior cai.
Como devemos lidar com esta experiência e consequentemente desenvolver a equanimidade? Quando acontece, devemos permitirmo-nos receber essa dor pois é a única forma de não a bloquear.
É natural e saudável sentirmos tristeza com o fim de um relacionamento, a questão aqui é se a nossa reação é de tal forma excessiva e desequilibrada que nos leva a bloquear essa experiência. Bloquear significa cristalizar essa dor.
Deveremos examinar e mergulhar fundo nessa dor, observando a forma como estamos a reagir, e entender por que é que o nosso modelo caiu e nos provocou tanta dor. Talvez cheguemos à conclusão que os pressupostos que levaram à criação desse modelo, não estavam certos e que os devemos redefinir.
Essa análise vai provocar a expansão da nossa consciência, trazendo-nos a tão esperada liberdade com o fim do sofrimento.
Ao nos desapegarmos, não nos tornamos distantes nem frios, muito pelo contrário, aceitamos que os bons e os maus momentos passam não deixando, contudo de participarmos intensamente da dádiva enorme que é a vida.
A equanimidade, traz-nos liberdade. Pratiquemos então a equanimidade dando atenção plena aos nossos pensamentos e ações de modo a nos tornarmos conscientes da impermanência da vida e da dualidade que esta encerra.
Sermos equânimes e atingirmos esse estado de paz e liberdade é deixarmos ir modelos rígidos de pensamentos baseados na nossa cultura, entendendo que as dicotomias do certo e do errado e do bom e do mau, não são mais do que parte de um fluxo contínuo que não deve ser bloqueado.
Aos poucos, vamo-nos apercebendo de que aquilo que nos prendia, afinal, é o que nos desperta.
COACH HOLÍSTICO E MENTORING
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in REVISTA PROGREDIR | SETEMBRO 2017
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