Por João Abreu
in REVISTA PROGREDIR | MAIO 2013
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Há pouco tempo atrás, resolveram seguir caminhos pessoais e profissionais. Saíram da zona de conforto. Mudaram o guião das suas vidas! Para eles a alma é que é o segredo do negócio!
Por isso, falar de empreendedorismo, em Salgueiro do Campo ou no Ladoeiro, falar de biscoitos, azeite e ervas, é falar de micronegócios, de histórias e dos seus contadores. Esta é a realidade de um empreendedorismo com sabor, cor, aroma, ritmo e textura. De muitas emoções à mistura… De quem sente a dor antes do prazer!
Existe, nesta dimensão micro, um outro perfil de empreendedores, paladinos da nova investigação universitária, científica, como os fundadores da Waydip, autores do projeto Waynergy, um sistema de aplicação no pavimento para gerar energia elétrica a partir do movimento de pessoas e veículos sobre a sua superfície, e foi considerada pela Kauffman Foundation, uma das 50 startups mais promissoras a nível mundial.
Hoje, no entanto, falaremos aqui de empreendedorismo de base local, de proximidade e de mudança de vida. De empreendedores do pormenor!
Henrique criou a sua própria empresa. Teresa é uma das sucessoras de um negócio familiar. Joana é a presidente da direção de uma cooperativa. Empreendedores por conta própria ou de outrem, implementaram planos de mudança nas suas organizações. A vontade de vencer superou o medo do erro ou da perda.
E fizeram-no, respondendo a cinco grandes questões:
Centrar-nos-emos, agora, nas duas primeiras abordagens: quem sou e onde estou?
Nos micro-negócios, o empreendedor deve, antes de mais, fazer um exercício sério de autoconhecimento, para responder à pergunta QUEM SOU? Para tal, Teresa, Joana e Henrique usaram a Carta de Vida Relacional, composta por seis variáveis. Nas duas primeiras, competências e insuficiências, faz-se uma adaptação da teoria das múltiplas inteligências de Gardner, querendo descobrir-se o melhor e o melhorável, do “mundo” verbal e linguístico ao naturalista e espiritual. Nas intolerâncias e valores, avaliam-se os princípios que permitem a construção da nossa missão pessoal, da nossa cultura de relacionamento. Nos interesses e paixões, avaliam-se os dados mais próximos relacionados com carreira, empresa, sector, dados financeiros, lazer e bem - estar, afectividade, tempo, mobilidade, diversão, sonhos…
De acordo com o INE, no quarto trimestre de 2012, o PIB diminuiu 3.8 por cento em volume, face ao período homólogo, o que representa uma queda de 1.8 por cento face ao terceiro trimestre de 2012. Em Portugal, mais de 300 mil micro empresas, que representam 85,6% do total do sector privado não financeiro, sentem esse peso frio dos números. Mas somos mais adeptos de procurar pontes de contato com outras formas de ver esta realidade. E é esta capacidade do empreendedor que o torna paladino de mudança e de mistura.
Afinal, em que tempo estou? Empreender num micro-negócio, para Teresa, Joana e Henrique, significou entender, antes de mais, que se vive numa era conceptual, de microtendências e de improbabilidade – significa que o micro negócio deve assentar num conceito que vai para além da marca, muitas vezes quase improvável (caso do “geobiscoito” de Ansião), num detalhe diferenciador, como nos casos dos bombons recheados com queijo de ovelha, e ainda de um dos novos filões, o turismo cemiterial.
O empreendedor dos micro-negócios deve ser metacompetente: mais que valorizar a transmissão do saber, deve ir no encalço da formação do ser, da trabalhabilidade, que lhe garante ação, experiência, vivência em grupo, linguagem de afetos, expressões e criatividade, estando on line e on time.
Deve ainda ser resiliente, privilegiar o high touch num universo high tech, aplicando os seis novos sentidos de Daniel Pink: sentido de missão (não basta possuir); sinfonia (concentração é insuficiente); empatia (mais que lógica); design (para além do funcional); diversão (para além da seriedade); história (mais importante que qualquer argumento).
Deve desenvolver o imenso poder do networking criativo, presencial ou virtual, começando por diagnosticar a sua rede relacional. A leitura de “Nunca almoce sozinho”, de Keith Ferrazzi, e “El êxito em seis cafés”, de Pino Bethencourt Gallagher, é indispensável. Também o crowdsourcing e o crowdfounding podem permitir o acesso das start-ups das mais diversas áreas de atividade a uma plataforma de financiamento, que apoia projetos empreendedores, geradora de oportunidades de negócio (www.massivemov.com).
Por último, algumas saídas airosas para os micronegócios passam pela adoção de práticas de co-working, potenciadoras da coopetição, valendo a pena a consulta, por exemplo, do Hub Porto, que oferece espaços comuns de trabalho, destinados, sobretudo, a freelancers, pretendendo estabelecer sinergias entre trabalhadores que, de outra forma, ficariam sozinhos a trabalhar em casa.
Valorizem-se, pois, as experiências, as vivências, as relações.
Com emoções à … mistura!
Diretor da Academia das Emoções e professor de Empreendedorismo e Inovação no Instituto Superior Miguel Torga
www.academiadasemocoes.pt
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REVISTA PROGREDIR | MAIO 2013