in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015
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E qual a razão de permanecemos, em constante stress, ansiedade, sempre preocupados com o dia de amanhã?
São várias as respostas a esta questão. Desde logo, a nossa própria insatisfação com a realidade que nos cerca. Vivemos em sociedades consumistas que impregnam o nosso espírito das mesmas ânsias: queremos sempre mais e mais, nunca estamos contentes com aquilo que temos ou, até com aquilo que somos. Se, neste momento, possuímos um carro, amanhã queremos um melhor. Se hoje, temos um vestido, amanhã, queremos ter dois. Se, neste minuto, temos um bom emprego, no que se segue, queremos aquela promoção. Se, agora, vivemos numa determinada localidade, para o ano que vem, queremos morar à beira mar. E os exemplos podiam continuar.
Há um borbulhar interno, uma sede, por vezes, implacável, uma guerra que travamos com o nosso interior em busca das expectativas que vêm do exterior que nos deixam inquietos, ansiosos, sempre descontentes qual D. Quixote à procura dos seus moinhos de vento.
Se, por acaso, essas expectativas são cumpridas, logo, logo, nos encontramos de, novo, inquietos, porque lá à frente, está mais uma meta para alcançar, mais um produto para comprar. Mas, como referimos, existem outras respostas. Os outros. Do nosso interior, dos "demónios" interiores que ferem a nossa alma passamos para aquilo que reside fora de nós, para os nossos semelhantes. Estes, que nos levam os dias e as horas, podem ser uma fonte constante de um viver pesaroso, nada em consonância com aquilo que desejávamos para nós, a tal leveza e felicidade de que todos falam.
Isto acontece quando as relações que estabelecemos com os outros ou eles connosco estão longe de serem saudáveis, um viveiro de harmonia, paz, cooperação, partilha, amizade, amor. E os cenários tal como acontece numa peça de teatro podem ser os mais diversos. Falamos da família, mas também das escolas, das fábricas, dos escritórios, dos locais de recreação.
Ontem como hoje, os seres humanos muitas vezes, egoisticamente, em busca de aplacarem os tais "demónios" interiores, vão prejudicar o outro, o seu bem-estar, a sua paz, o seu equilíbrio. As necessidades do eu justificam tudo. É preciso dar vazão à sede de poder, fama, dinheiro. Está se disposto a tudo para se atingirem determinados objetivos. O outro passa, então, a ser um empecilho, um obstáculo a retirar do caminho. Já se sabe o que tudo isto gera numa família, empresa ou escritório: maledicência, intrigas, jogos de poder, invejas, conflitos, mal entendidos, má comunicação, provocações e por aí vai.
Será isto que que queremos para as nossas vidas?
Tudo começa em nós e termina nos outros. O leitor pode dizer: o mundo sempre foi assim e assim vai continuar. Não o vamos mudar.
Pergunto: será que não é possível?
A resposta pode e deve ser positiva. Queremos estar em paz, ser mais leves do que uma pluma, mas, a verdade é que, no nosso quotidiano, pouco fazemos para alcançar este estado edílico.
A felicidade total é uma utopia, mas podemos, de facto, contribuir para a construção de uma existência interior e exterior mais profícua, mais serena e estável. Resta-nos respeitar melhor o nosso interior, aquilo que somos e podemos ser em vez de responder a todos os estímulos que vêm de fora, e tentar espalhar à nossa volta, em conjunto com o outro, um universo mais harmonioso.
O nosso contributo pode ser pequeno, nos tais cenários de que se compõem a nossa vida, mais essa gota poderá fazer a diferença, poderá ser o estímulo, há muito, desejado pela nossa alma e pelo nosso semelhante que, no fundo, procura o mesmo: vida feliz num mundo em constante mudança. De dentro para fora, do pequeno para o grande, do átomo para o vácuo que nos cerca, é possível fazer a diferença.
SANDRA RIBEIRO POLITÓLOGA/HUMANISTA www.dalmasabedoria.blogspot.pt [email protected] in REVISTA PROGREDIR | AGOSTO 2015 (clique no link acima para ler o artigo na Revista) |