Por Sílvia Coelho
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Esta frase tão simples encerra em si uma sabedoria extraordinária. Eu diria que tudo o que contém um contributo para o alcançar um bem-estar generalizado, já é extraordinário. De uma forma muito direta e autêntica, este ditado popular mostra-nos que nada é eterno. Que nada é para sempre. Que nada permanece. Que nada dura. Nem a dor nem a felicidade. Nem a alegria nem a tristeza. Nada dura para sempre. Ou se quisermos de outra forma, tudo é eterno enquanto dura.
Se conseguirmos ter esta noção verdadeiramente entranhada, enraizada, no pensamento e no coração, a vida torna-se muito mais fácil e muito mais alegre. Garanto! Reparem, se conseguirmos de facto integrar que nada, mesmo nada, é permanente, constante ou estável, vivemos muito mais aliviados. Passamos a viver os momentos presentes. A retirar e absorver tudo o que o aqui e o agora nos vai oferecendo.
Deixamos de estar tão colados ao passado, de repetidamente sentir as suas dores, frustrações, perdas, tristezas e etc. Deixamos de deprimir. Quando nos focamos muito no passado podemos desenvolver alguma tendência para a depressão. Se continuamente nos focamos no futuro e nos “ses” e “quandos” e no amanhã, podemos dar asas à ansiedade. E, navegando entre o passado e do futuro, gastamos uma energia que não é recuperável nem produtiva. esquecemo-nos de nos focar no momento. No presente. Naquela centelha de tempo onde efetivamente podemos fazer alguma coisa por nós próprios. O aqui e o agora é, na verdade, a única coisa que possuímos. Não somos “donos” nem detentores de absolutamente mais nada. Apenas de cada um dos momentos que por nós passa.
Se soubermos aceitar esta evidência, saberemos desapegar muito melhor. Saberemos tirar da vida todo o substrato que ela tem para nos dar. Podemos centrarmo-nos naquilo que verdadeiramente importa. E não é assim tão difícil compreender a impermanência de tudo o que nos rodeia. Tudo tem um início e um fim. Comecemos por nós próprios. O nosso corpo. Nascemos e morremos. Temos principio e fim. Todo o nosso mundo psicológico vai mudando ao longo da vida. O nosso mundo emocional vai tendo as suas alterações. Aquele amor que quase nos levou à loucura, agora só nos arranca umas boas gargalhadas. Tudo se transforma. Nada permanece. Se formos capazes de entender este princípio universal, a nossa vida torna-se muito mais fácil. Percebemos a incoerência que existe em nos restringirmos, em não expressarmos as nossas emoções, em não vivemos com a maior plenitude possível. Percebemos a inutilidade do controle que exercemos sobre nós e sobre os outros. Não controlamos absolutamente nada. Nada permanece para ser controlado. E, mais uma vez, é apenas energia mal gasta.
Há um exercício muito simples que proponho. Pode ser um bocadinho desafiador, mas é verdadeiramente simples. Faço-o muitas vezes. No final do dia, com a cabeça na almofada, em relaxamento, vale a pena pensar o seguinte: “E se eu não acordasse amanhã? Se morresse durante o sono? Teria valido a pena? O que devia ter feito e não fiz? O que deveria ter dito e não disse? O que perdi por medo? O que não experimentei por vergonha de errar? Se formos honestos connosco próprios nas respostas que encontramos, verificamos que na maior parte das vezes, encaramos a vida como se ela fosse eterna. Ou melhor, como se fossemos eternos e como se houvesse sempre um amanhã. Parece-me que vale a pena pensar neste assunto. Nada permanece. Nem nós nem aqueles a quem amamos.
A eternidade, a constância, a estabilidade, é verdadeiramente resumida a um momento. Cabe tudo num segundo. Num pequeno instante. Eu diria que vale muito a pena vivermos o dia a dia como se não houvesse amanhã. Isto não quer dizer em euforia ou êxtase. Mas em profunda apreciação do que está ao nosso alcance. Em profunda gratidão com tudo o que por nós passa. Podemos escolher entre ficar agradecidos com o que temos ou ficar frustrado com o que nos falta. Também nesta dimensão da nossa vida, a escolha é nossa. Parece que quanto mais escolhermos viver o momento, mais leve a vida se torna. Não carregamos o peso do passado nem temos medo do futuro.
A esperança também faz sempre parte destes processos de leveza. Se tivermos a esperança de que tudo se transforma, de que tudo é volátil e inconstante, deixamos de gastar energia com o que nos aborrece, zanga ou entristece. Tudo isso vai passar. E quando passa, dá lugar a coisas muito boas. Enche-nos de vida. Peito cheio. Ao termos a consciência plena da impermanência que existe dentro e fora de nós, somos muito mais felizes. Vivemos em vez de sobrevivermos. E esta é a magia que uma gotinha de sabedoria do povo nos pode oferecer.
PSICÓLOGA
www.magdalagabriel.blogspot.pt
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | MARÇO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)