Por Olívia Santos
in REVISTA PROGREDIR |MAIO 2019
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Como se houvesse entre todos uma qualquer espécie de desidentidade radical que, nos dois extremos de um dilema sem saída, de uma antinomia essencial e sem resposta possível, as tornasse paradoxalmente idênticas no mais profundo e autêntico de cada um: idênticas no silêncio, na vacuidade e no desespero congelado da grosseira e absurda materialidade sem sentido. Uma enormidade de espessos vazios absolutos dialogando longamente, através dos seus silêncios irmãos, ressoando descompassadamente no nada, a dor pressentida de não passarem de pesadelo de um Deus em quem queriam, desesperadamente, continuar a acreditar.
No extremo desesperado das silenciosas palavras o grito não acontecia nem sequer a ressonância de um eco. Um eco é uma resposta, apesar de o não ser. Porque é a rotura da solidão: algo está ali, de forma maciça, presente e activo, a devolver o nosso grito e a garantir-nos que não estamos sós, emparedados nas fronteiras do nosso desespero.
Na sua inutilidade substancial absoluta, traz-nos o conforto da esperança: se algo existe para além dos limites do nosso eu, pode ser que daí, desse não-eu transcendental, nos venha algum dia, redentoramente, a resposta a todos os «porquês» do ser irremediavelmente metafísico que somos...
Todos lhes diziam, lhes tinham dito sempre que a alma não dói, que é preciso ser forte, valente, que enxugassem as lágrimas, que sorrissem; como se lhes tentassem subtrair o direito de doer, de gritar, de atirar a alma ao chão, de se deitarem com ela na calçada a esperar que deixe de doer, numa total empatia entre corpo e alma, em pleno direito de sentir, de parar, de cair, para depois, curados, se reerguerem.
E todos, todos, nas suas diferenças e nas suas sincronicidades, o que queriam eram o alívio da dor, queriam a cura: o abraço, o toque de pele, a palavra, a escuta, o amor.
Há tantos dias, tantas luas, tantas madrugadas vazias em que as almas povoam as cidades, em silêncio, em busca de partilhar a sua dor, tantas mensagens, tantos gritos, tanta solidão. Há tantas almas em busca de outra alma, em busca da palavra, do olhar, da pele, da poesia de um encontro gemelar. Há tantas madrugadas vazias de luas sem cor em que almas se procuram, se encontram, se abraçam, se tocam, buscando a almejada cura.
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in REVISTA PROGREDIR |MAIO 2019
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