in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2016
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Embora o imaginar seja uma força no desenvolvimento humano, também tem um lado causador de sofrimento. Cada vez mais, chegam às consultas de Psicologia, crianças, jovens e adultos com sintomas de Ansiedade, Depressão, que causam grande sofrimento, por não se estarem a sentir capazes de lidar com a extrema exigência das expectativas da correria diária, e estarem num padrão de medo antecipatório, muitas vezes causado por um imaginar distorcido.
Todas as pessoas têm necessidade de afeto, de pertença, de segurança e reconhecimento. Talvez nesta busca acabem por adiar a vida. Adiar por imaginarem que só conseguem alcançar o Amor, o Bem-estar, a Felicidade quando encontrarem a tal relação, o emprego onde se destacam, o corpo jovem e perfeito, a casa, o carro etc.
Parece que de forma inconsciente vivemos centrados no objetivo de ter alguma coisa para nos sentirmos amados e reconhecidos, e isto cria a ilusão de que enquanto não conseguirmos o que é esperado a vida não anda para a frente. Sendo frequente, quando se alcança aquilo que era tão desejado, não se consegue desfrutar. Percebe-se que não é o suficiente e desejase outra coisa, sempre na busca de compensar um vazio interno que não se consegue preencher, por mais coisas que se consiga alcançar. Passamos a viver no futuro, numa busca externa a nós.
Outra das grandes ilusões que criamos é relativamente às relações, porque se criam expectativas. Muitos de nós sente que os outros têm de preencher o que sentimos que nos falta, ou têm de estar sempre presentes, disponíveis, e o que por norma gera conflitos. No fundo o que queremos é sentirmo-nos amados.
Por Amor transportamos do nosso sistema familiar, modelos de relação, pensamentos, crenças que tendemos a reproduzir.
Em cada um de nós há uma criança ferida, fomos esquecendo esses momentos dolorosos para nos protegermos do sofrimento, mas quando algo nos recorda o sofrimento põe-nos automaticamente em contacto com essa imagem antiga. Estar em contacto com essa imagem do passado traz-nos emoções de medo, abandono, raiva e leva-nos para esse sofrimento antigo. Quando o sofrimento aparece, podemos usar a nossa habilidade em respirar, reconhecer esse sofrimento e abraçar a formação mental que nos está a aparecer. Quando compreendemos o sofrimento não culpamos ninguém, aceitamos e reconhecemos, tornando-nos mais independentes.
Através da compreensão de tudo o que temos cá dentro, das dores, das sombras, da alegria, da gratidão, leva-nos a um processo de libertação. Uma boa forma de acedermos ao nosso mundo interior é através da prática da meditação, da atenção plena, que nos permite observar, darmo-nos conta, que temos tudo cá dentro e que precisamos reconhecer, aceitar e abraçar todos os nossos sentimentos, as nossas dificuldades, as sombras e as carências, temos emoções positivas e negativas, temos defeitos e qualidades, somos a conjugação desses dois lados, porque nós também somos isso.
Quando nos tornamos mais conscientes de quem somos, quando estamos mais presentes em cada momento, aos poucos é possível que sintamos, mesmo que de forma subtil que o que nos rodeia está em transformação.
Quando nos tornamos mais conscientes questionamo-nos sobre o que verdadeiramente nos faz felizes, o que queremos para as nossas vidas, podemos fazer uso da imaginação criadora, para dar vida, movimento e humanidade a que cada um seja o protagonista na aventura de viver. Há várias técnicas através de visualizações, escrever afirmações, a educação das emoções, etc.
Acredito verdadeiramente que só através do autoconhecimento da aceitação de tudo o que há e como há, é que conseguimos ir ao encontro de nós próprios, com a nossa verdade e autenticidade. Quando nos centramos naquilo que somos verdadeiramente, conseguimos uma paz profunda, tornamo-nos cada vez mais conscientes de quem somos, sentindo cada desafio como uma etapa de crescimento, tornando-nos mais confiantes, o que nos permite largar o que imaginávamos ser e nos faz reconhecer quem realmente somos, abre-se um caminho na direção do coração, onde brotam sentimentos de alegria e gratidão pela vida que há em cada um de nós. Como consequência deste caminho, estamos mais livres, disponíveis e presentes para os outros. Para sermos verdadeiros connosco e com os outros.
PSICÓLOGA CLÍNICA / PSICOTERAPEUTA
www.soniagravanita.com
in REVISTA PROGREDIR | JUNHO 2016
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