Por Raquel Ferreira Santos
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2018
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
Quando nos apercebemos da incongruência entre as nossas cognições (crenças) e o nosso comportamento, ou quando temos duas ideias que entram em conflito, estamos em dissonância cognitiva. Este termo foi utilizado pela primeira vez, pelo psicólogo Festinger em 1956. De acordo com a teoria de Festinger, o ser humano, procura ao máximo viver em consonância, de forma a evitar o desconforto interno provocado pela dissonância. Ao ser confrontado com a dissonância cognitiva, as pessoas procuram elimina-la das várias formas. Através da relação dissonante: o indivíduo tenta substituir uma ou mais crenças, opiniões ou comportamentos que estejam envolvidos na dissonância. Fazendo recurso à relação consonante: o indivíduo tenta adquirir novas informações ou crenças de forma a aumentar a consonância. E por fim, usando a relação irrelevante: o indivíduo tenta esquecer ou reduzir a importância daquelas cognições que mantêm a situação de dissonância.
A maioria das pessoas opta por arranjar justificações para as suas ações, mesmo as que lhes são prejudiciais. No caso de comer algo que não lhe faz bem, a tendência será dizer: “isto não faz assim tão mal”, “é só hoje”, “amanhã não como nada”. As possibilidades de justificação são quase infinitas, porque o importante é fundamentar o comportamento.
A dissonância cognitiva tem um papel fundamental na resistência à frustração. Imaginando que vai a uma entrevista de emprego e não é selecionado, a mente vai arranjar justificações para o acontecimento de modo a diminuir a frustração que possa sentir: “a vaga não era assim tão boa”, “o entrevistador não se interessou pelo meu percurso”.
A dissonância cognitiva, também serve como mecanismo de defesa de proteção do Ego. Quando se tira algo às crianças, ou não se deixa fazer o que querem é comum ouvir: “oh também não queria nada disso”.
Conhece a fábula da raposa e das uvas de Esopo?
Uma raposa entrou faminta num terreno onde havia uma videira, cheia de uvas maduras, os cachos estavam muito altos. A raposa não podia resistir à tentação de as comer, mas, por mais que pulasse, não as conseguia alcançar. Cansada de pular, disse:
– Estão verdes... – e foi-se embora, fingindo estar desinteressada
Precisamos refletir se estamos a tentar lidar com a frustração, que é um processo natural da vida, ou se estamos simplesmente a tudo o custo rejeitar algo que até queremos, por medo de não ter o resultado que mais desejaríamos. É nesse ponto que a dissonância cognitiva pode deixar de ser aliada. Não há nada mais paralisante do que o medo do que nem sequer existe. A frustração, o insucesso, as tentativas falhadas fazem parte do percurso e são eles que nos levam inevitavelmente a bom porto.
Importa perceber que a dissonância cognitiva impacta positivamente na tomada de decisões, uma vez que a mente vai procurar rapidamente forma de estar em consonância, diminuindo o desconforto que é viver a dualidade de pensamentos ou ações. Quando estamos em dissonância, entramos em conflito, gerando assim a necessidade de fazermos novas aprendizagens, de criar novas crenças. Parte do trabalho psicoterapêutico, incide nesta mudança de crenças cristalizadas que de alguma forma são disfuncionais ou prejudiciais.
Este processo de questionamento de crenças pode ser doloroso, mas é também um caminho de autoconhecimento que o impulsiona e direciona para o caminho mais correto para si.
PSICÓLOGA CLÍNICA E CONSULTORA EM DESENVOLVIMENTO PESSOAL
www.ohfoisemquerer.com
[email protected]
in REVISTA PROGREDIR | OUTUBRO 2018
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