in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2020
(clique no link acima para ler o artigo na Revista)
A liberdade na relação com o dinheiro é um pilar-chave do modo como se vive e de relacionar, que envolve crenças sobre valorização, merecimento e equilíbrio entre dar e receber, nas várias áreas da vida. Antes do dinheiro, os recursos naturais e humanos já existiam, o acesso a estes e a reciprocidade estava em relação direta entre natureza e humanos. “Algumas das pessoas mais generosas que conheço não têm dinheiro”, diz um dos testemunhos do filme Human (de Yann Arthus-Bertrand).
A relação pessoal com o dinheiro e altruísmo começa nas raízes das crenças em cada um@. Escolhas diárias implicam a vida dos ecossistemas, a sustentabilidade e felicidade pessoal. O que está a imergir na humanidade e planeta no sec.XXI?
Consumo e produção conscientes e pacíficos, modelos colaborativos, novas economias estão em desenvolvimento prático em todos os continentes. Charles Eisenstein no livro Economia Sagrada refere que na economia da dádiva, quando se tem mais do que se precisa, dá-se a alguém que precise. Um paradigma de abundância e confiança na reciprocidade, enquanto que o valor do dinheiro provém de uma criação e acordo humano com princípios de escassez, défice e competição inerentes.
A Economia Colaborativa é um modelo sócio-económico de vida e de negócio, que liberta a acessibilidade e o valor de bens parados, ligando necessidades e ofertas em redes e plataformas complementares aos modelos de economia tradicional.
Confiar na reciprocidade e abundância são desafios bem atuais, que (re)ligam cada humano aos outros seres e recursos naturais. Criando redes de apoio e confiança, o acesso à abundância de recursos existentes e não usados para que continuem a circular, amplia-se, reduzindo a exploração de recursos naturais, o desperdício e a acumulação que a sociedade de consumo e individualismo geram.
E assim promover uma cultura de colaboração e responsabilização na vida em sociedade, respeitando o bem-estar individual e coletivo de todos os seres, incluindo humanos.
Outro exemplo é o movimento de Altruísmo Eficaz, que se baseia em como usar os próprios recursos (ex. doar sangue a doar parte mesada ou salário) para apoiar ao máximo outras pessoas (ex. erradicar doenças e fome evitáveis), tem várias plataformas dedicadas.
Cada um tem o poder de agir e escolher perante causas, conforme o conhecimento e apelo a que se sente chamado. Um poder pessoal livre liga-se ao poder coletivo de cuidar do que é comum.
Considerando o que necessito e o que tenho para oferecer (seja competência, tempo, produtos, espaços…) permite-me uma série de opções além da compra, como aluguer, troca, empréstimo, doação, financiamento colaborativo, entre outros. Existem diversas iniciativas locais e presenciais como feiras, cooperativas, organizações de vizinhança, eventos de partilha, grupo e redes de cidadãos e plataformas eletrónicas nacionais e internacionais para aceder à partilha de artigos e serviços, como roupa (cerca de 30% é a que realmente se usa regularmente), refeições (há 40% de desperdício alimentar), quartos, casas, barcos (os barcos de lazer estão atracados 80% do tempo), ferramentas, serviços, conhecimento, ofícios, visitas guiadas, cuidar de animais de estimação ou casas, etc.
Como pode funcionar um cenário de vida colaborativa e consciente no dia-a-dia?
Acordo, ponho a tocar uma playlist compilada por amigos, vou à cozinha e os utensílios são reutilizados (2ª mão) de amigos e familiares que não precisavam, tal como móveis ou roupa, os produtos de higiene e limpeza são de produção local, artesanal e sem embalagens ou químicos, desloco-me a pé ou em veículos coletivos ou privados de uso temporário (transportes públicos; bicicletas, trotinetas, motas ou carros; boleias), trabalho e vivo interagindo em equipa trocando ideias e articulando consensos, criando parcerias e trocas de espaços, bens e serviços, acedendo aos bens comuns…
A União Europeia reconheceu oficialmente o enorme crescimento destas novas áreas e negócios colaborativos desde 2013 — em áreas tão abrangentes como estacionamento, alojamento, deslocação de pessoas e bens, lazer, alimentação, participação — e definiu em 2016 uma agenda de economia colaborativa para os países europeus. Esta posição decorre de um abaixo-assinado de várias iniciativas em 2016 do empreendedorismo e inovação verificados na Europa e no mundo, que adotam modelos colaborativos e que representa um crescente número de pessoas envolvidas e também significativa % do PIB europeu.
Exemplos de organizações que promovem globalmente a Economia Colaborativa e onde se geraram: Shareable (USA), Sharenl (Holanda), Ouishare (Paris), The People Who Share (UK). Realizei pessoalmente contacto e colaborações com todas elas, assim como participação e organização de eventos e workshops de Economia Colaborativa, nomeadamente da União Europeia, um dos quais em Lisboa para conhecer a realidade nacional que se destaca nesta área. Podem encontrar-se exemplos de Portugal, que está claramente no mapa da partilha mundial não só por iniciativas e eventos como devido à predisposição de pessoas e organizações neste território para partilhar e interagir uns com os outros, usar estes modelos, inovar e empreender.
Como será colocar-se em igualdade no dar e receber, focar-se no que necessita a cada momento considerando mais opções de as alcançar e dando-se prioridade aos recursos já existentes? Se ainda adotar a prática de diariamente agradecer e retribuir (em respeito aos outros, à Terra), como poderá o fluxo de bens, dons, serviços esgotar-se?
FACILITADORA - VIDA CONSCIENTE E COLABORATIVA
www.femininoconsciente.pt
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We Are One. Somos Um@.
in REVISTA PROGREDIR | JANEIRO 2020
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